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    Estaleiro Atlântico Sul pode perder R$ 6 bi com cancelamento de encomendas

    RENATA AGOSTINI
    JULIO WIZIACK
    DE SÃO PAULO

    20/12/2015 02h00

    Guga Matos/JC Imagem/Folhapress
    Navio construído pelo Estaleiro Atlântico Sul em Suape (PE)
    Navio construído pelo Estaleiro Atlântico Sul em Suape (PE)

    As empreiteiras Camargo Corrêa e Queiroz Galvão decidiram colocar mais R$ 211 milhões no Estaleiro Atlântico Sul (EAS). Só em 2015, já foram R$ 500 milhões.

    A situação está complicada desde que a Lava Jato e a queda do preço do petróleo abateram os planos da Petrobras, sua única cliente.

    O primeiro tombo veio com a Sete Brasil, para quem o EAS construiria sete sondas que depois seriam alugadas à Petrobras. O estaleiro rescindiu o contrato por falta de pagamento e tenta negociar como receber de volta o que gastou no projeto.

    Sobraram os contratos com a Transpetro, braço de transporte da Petrobras. Ao todo seriam 22 navios a serem entregues até 2020, mas agora a estatal ameaça cortar 15.

    Segundo apurou a Folha, a Transpetro enviou uma carta ao estaleiro manifestando a intenção de reduzir as encomendas. Os 15 navios renderiam R$ 6 bilhões ao EAS.

    Por enquanto, o contrato não foi rescindido, porque a Transpetro aguarda a manifestação do estaleiro. Mas, com a crise por que passa a Petrobras, os sócios o EAS já se preparam para o pior.

    CRISE EM CASA

    As empreiteiras têm de lidar ainda com uma disputa interna. O consórcio japonês liderado pela IHI Marine, que é dono de um terço do EAS, resiste em colocar sua parte em dinheiro novo no negócio.

    Em vez de desembolsarem 33% dos recursos, respeitando sua participação no capital do estaleiro, os japoneses só aceitaram colocar um quinto: R$ 14 milhões dos R$ 70 milhões que deveriam. Os sócios brasileiros tiveram de cobrir a diferença.

    As empreiteiras já não têm expectativa de retorno com o investimento. A preocupação agora é reduzir custos, renegociar com fornecedores e tentar diminuir ao máximo o prejuízo. Quase 3.000 funcionários foram demitidos ao longo deste ano.

    A dívida bancária hoje é de cerca de R$ 1,2 bilhão —a maior parte com o BNDES. Mas há ainda outros R$ 2 bilhões com fornecedores que haviam sido contratados para a construção das sondas.

    A proposta para esses fornecedores é que eles fiquem com o que já está construído em troca de um abatimento na dívida. O valor restante o EAS quer repassar para a Sete, segundo apurou a Folha.

    Mas a Sete também vive uma crise financeira e está sob risco de quebrar. Se isso ocorrer, os credores do EAS, que concordaram em esperar por um acordo entre o estaleiro e a Sete, podem pedir a falência do estaleiro.

    As empreiteiras temem a recuperação judicial do empreendimento. Parte das dívidas conta com o aval das empresas que controlam as empreiteiras Queiroz Galvão e Camargo Corrêa.

    Os dois grupos estão enrolados com as investigações da Operação Lava Jato e não querem complicar sua relação com bancos ou assustar fornecedores. Procuradas, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão não quiseram comentar.

    A Folha enviou perguntas ao presidente da Transpetro, Antonio Rubens Silva Silvino, e ao diretor de Transporte Marítimo, Nilson Ferreira Nunes Filho, sobre o valor atual dos contratos, os prazos de entrega e se as encomendas ao Atlântico Sul serão mantidas. A empresa se recusou a responder a maior parte das questões e afirmou que "está reavaliando o cronograma de entrega das embarcações".

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    • RAIO-X EAS/2015

    Acionistas: Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, consórcio de investidores asiáticos

    Localização: Ipojuca (PE)

    Funcionários: 2.600

    Dívida: R$ 3 bilhões (*)

    Clientes: Transpetro

    (*) Valor aproximado

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