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    Aumento na produção leva petróleo Brent à menor cotação desde 2004

    NEIL HUME
    DO "FINANCIAL TIMES"

    21/12/2015 19h55

    O petróleo Brent atingiu nesta segunda-feira a menor cotação em mais de uma década, por conta de um aumento incansável na produção mundial que parece destinada a continuar inundando o mercado em 2016. Ainda que a procura tenha sido robusta este ano, os estoques de petróleo cru continuaram a subir em mais de 1 milhão de barris ao dia; os tanques de armazenagem estão sendo enchidos rapidamente e há longas filas de navios à espera de desembarque nos terminais petroleiros de portos de todo o planeta.

    Os estoques de petróleo nos países desenvolvidos dispararam para quase 3 bilhões de barris - ou o equivalente a quase um mês da produção mundial, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE).
    A expectativa é de que continuem a crescer em 2016, dada a probabilidade de exportações maiores do Irã, quando as sanções associadas ao seu programa nuclear forem suspensas. Ao mesmo tempo, a alta na procura deve desacelerar, ante o ritmo febril registrado este ano.

    "A esperança de que o mercado reencontre o equilíbrio em 2016 continua a sofrer sérios revezes", disse Adam Longson, analista da Morgan Stanley. O petróleo Brent, padrão de referência do mercado internacional da commodity, fechou em queda de 1,44%, a US$ 36,35 o barril, o menor nível desde 5 de julho de 2004. Do outro lado do Atlântico, o petróleo WTI, que serve de referência para a produção dos Estados Unidos, fechou com leve alta de 0,03%, a US$ 34,74.

    Os preços do petróleo caíram em mais de 15% desde que uma reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) no começo do mês expôs sua incapacidade de combater o excedente no mercado mundial de petróleo, com acúmulo de estoques da ordem de até 2 milhões de barris ao dia, de acordo com algumas estimativas.

    Arábia Saudita e Irã resistiram a apelos por restrições à sua produção e prometeram que continuarão a extrair petróleo no mesmo ritmo, intensificando uma disputa por participação de mercado que já contribuiu para a criação de um estoque de petróleo recorde e para uma queda de 50% no preço da commodity nos últimos 18 meses.

    "As duas últimas semanas viram número crescente de relatórios que indicam que o Irã pode ser beneficiado de imediato pelo alívio das sanções, já em janeiro ou fevereiro, quando o país estará livre para elevar sua produção e exportações", disse Michael Wittner, analista do banco Société Générale. "Agora parece possível, e talvez provável, que o Irã seja capaz de cumprir suas obrigações já na metade de janeiro", disse.

    O avanço do dólar dos Estados Unidos e um acordo para suspender as severas restrições a exportações de petróleo cru norte-americano, em vigor há mais de 40 anos, também influenciaram os preços. Um começo incomumente ameno para o inverno do hemisfério norte, em parte por causa do fenômeno climático El Niño, é outro fator.

    "A pressão sobre os preços é incessante, e na semana passada ela veio da força do dólar e de um acúmulo semanal muito superior ao esperado, de cerca de 5 milhões de barris, nos estoques de petróleo cru dos Estados Unidos", disse David Hufton, da corretora de petróleo PVM. "O ministro da Energia russo descartou a Opep, definindo que cooperar com ela não vale a pena, e o ministro do Petróleo da Venezuela falou de uma 'catástrofe' quando a capacidade de armazenagem de petróleo se esgotar completamente, no primeiro trimestre, com o retorno do Irã", afirmou.

    Em carta aos seus clientes, o administrador de fundos de hedge Pierre Andurand afirmou que os estoques de petróleo podiam subir em 1,6 milhão de barris [ao dia] no primeiro semestre do ano que vem.
    "Um acúmulo dessa ordem poderia conduzir a um teste da capacidade máxima de armazenagem", ele disse. "Isso deve resultar em preços significativamente mais baixos para o petróleo cru."

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    Edição impressa
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