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    Sobradinho chega perto do volume morto e pode voltar a ser sertão

    DIMMI AMORA
    DE BRASÍLIA

    26/12/2015 02h00

    Marco Aurélio Martins/Folhapress
    SOBRADINHO, BA, 16.12.2015: BARRAGEM-BA - Área que foi submersa com a construção da barragem e, agora, reapareceu com a baixa do volume de água do lago de Sobradinho. (Foto: Marco Aurélio Martins/Folhapress) *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS *** ORG XMIT: AGEN1512162106425174 *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
    Lago de Sobradinho (BA), cujo volume está em 1,98%

    Quase 40 anos depois de Sá & Guarabyra cantarem na música "Sobradinho" que "o sertão vai virar mar", o sertão está voltando a ser sertão.

    O lago baiano criado pela represa que inspirou a música está praticamente no volume morto, com cerca de 2% de seu volume útil, nos menores níveis de sua história.

    Muitas das cidades cantadas na música que foram alagadas com a formação do lago –que é o maior das hidrelétricas do país (o triplo do tamanho da capital paulista)– estão com ruínas visíveis.

    A previsão era que ele chegasse ao volume morto neste mês, mas uma chuva inesperada no norte de Minas Gerais e da Bahia fez o reservatório subir pela primeira vez no ano, saindo de 1% para 1,98% na quarta-feira (23).

    José Airton, diretor de operações da Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), diz não há segurança de que vá seguir enchendo.

    Se Sobradinho chegar ao volume morto, as duas das seis turbinas da usina que ainda estão operando terão de ser desligadas. Serão 170 MWh que deixam de ser gerados para o sistema elétrico que terão de ser compensados com energia mais cara.

    Editoria de Arte/Folhapress

    SEM REPRESA, O CAOS

    Mesmo no volume morto, Sobradinho ainda reserva algo equivalente a quatro sistemas de abastecimento da Grande São Paulo cheios. Segundo Airton, é preciso administrar bem essa quantidade para evitar um colapso.

    "O rio São Francisco tem comportamento pouco confiável. E isso só vai aumentar para o futuro", diz Airton, lembrando que já mediu quantidades de água chegando a Sobradinho que eram equivalentes a 5% do que ele está vertendo atualmente.

    "Se não tivesse represa, seria o caos."

    A seca, de fato, foi grave. Nos últimos dois anos chegou ao lago menos de metade da média dos últimos 80 anos, segundo dados da Chesf.

    Mas há também problemas com o rio São Francisco, que fazem com que a média de água que chega venha caindo nos últimos anos, enquanto o uso da água do rio só cresce –inclusive a decisão da presidente Dilma, em 2012, de baratear o preço da energia, o que inviabilizou a produção das térmicas e pressionou a vazão dos reservatórios do São Francisco, secando rapidamente Sobradinho.

    "O modelo de operação dos reservatórios da bacia está esgotado", diz o presidente do Comitê de Bacia do Rio São Francisco, Anivaldo Miranda.

    REVITALIZAÇÃO

    O TCU (Tribunal de Contas da União) aprovou recentemente um relatório final mostrando que o programa de revitalização do rio São Francisco é um fracasso. Quando começou a fazer o projeto de transposição, o governo prometeu investir R$ 2,7 bilhões na revitalização do rio.

    Em 2012 o TCU apontou que o dinheiro era gasto de forma dispersa, sem uma política efetiva para a melhora do rio, o que tornava o gasto ineficiente. Fez várias recomendações para que o governo melhorasse o uso dos recursos, que foram ignoradas.

    "O governo junta uma série de ações e chama de revitalização só porque está na bacia. Nada contra construir escola e estrada, mas revitalização é outra coisa", afirmou Miranda.

    Sem revitalização, a situação do rio só se deteriorou ao longo dos anos, antes mesmo de iniciar a captação de água prevista para abastecer a transposição, que está atrasada em mais de cinco anos e agora é alvo de uma operação da Polícia Federal por suspeita de desvio de R$ 200 milhões nas obras.

    O governo deverá decidir por uma nova redução da vazão da represa. A vazão mínima deveria ser de 1.300 metros cúbicos por segundo (m³/s) para garantir que até a foz haverá água suficiente para manter os ecossistemas do rio. Ela vem sendo reduzida nos últimos dois anos e está em 900 m³/s. Deve passar para 800 m³/s.

    A redução deverá aumentar os conflitos já existentes. A quantidade menor é defendida por quem usa a água do lago, como os irrigadores da região de Petrolina (PE), que dependem disso para a produção agrícola.

    Mas é combatida por quem está na parte à frente do rio, sob o argumento de que há risco de a água ficar mais poluída e criar algas que trazem bactérias, tornando-a imprópria para consumo humano.

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