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    Abate de bois angus, de carne mais cara, cresce 21% em 2015

    THIAGO AMÂNCIO
    DE SÃO PAULO

    28/12/2015 12h16 - Atualizado às 19h03

    Pierre Duarte/Folhapress
    Gado da raça angus em fazenda na cidade de Mocóca, interior de SP
    Gado da raça angus em fazenda na cidade de Mococa, interior de SP

    A crise econômica ainda não chegou aos criadores do boi angus. A carne, considerada nobre, caiu nas graças do consumidor brasileiro e ganha cada vez mais mercado, mesmo sendo mais cara que a convencional.

    A estimativa da Associação Brasileira de Angus é fechar 2015 com um abate de 400 mil cabeças do gado, um aumento de 21% em relação a 2014 e de 167% desde 2010.

    Outras raças não acompanharam o crescimento. Dados do Ministério da Agricultura mostram que o abate total de gado em 2015 caiu 9% de janeiro a novembro em comparação com o mesmo período de 2014.

    "O pessoal que consome nosso produto não foi atingido pela crise", diz o presidente da associação, José Roberto Weber. A carne é vendida tanto para restaurantes de luxo como para o varejo e pode custar 75% a mais que a convencional.

    Para comparação, um quilo de picanha comum custa entre R$ 38,90 e R$ 46,90 nas principais redes de supermercados de São Paulo. Se o boi for Angus, o preço pode variar de R$ 69,90 a R$ 101.

    O mercado do angus, porém, ainda é de nicho, e a raça representa menos de 5% das 212 milhões de cabeças de gado do país, segundo a associação. A maior parte dos bois brasileiros (cerca de 80%) é da raça nelore.

    ORIGEM

    O angus vem do norte da Europa e, entre os diferenciais de sua carne, estão o marmoreio (gordura entremeada na carne que melhora o sabor) e a maciez (tem menos fibra, porque os bois são abatidos mais jovens, com até 30 meses, ante 42 meses das raças comuns).

    A venda de doses de sêmen da raça, usadas para fertilização, cresceu 180,6% desde 2009, chegando a 3,7 milhões de unidades em 2014. Em 2013, a comercialização do material genético da raça superou pela primeira vez a do boi nelore, cujas vendas cresceram 5% desde 2009.

    Isso não significa que o mercado é ruim para criadores de outras raças, de acordo com Sebastião Guedes, vice-presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte. O preço da arroba do boi gordo anda em alta e chegou a bater recorde histórico em abril deste ano (R$ 150,36).

    Além disso, os criadores de nelore já têm 50% de um negócio promissor: o cruzamento da raça com o angus.

    Como o angus vem de países frios, há dificuldade para adaptá-lo ao clima quente de pastos tradicionais brasileiros como os do Centro-Oeste.

    "Com o cruzamento, você consegue combinar as características de qualidade, maciez, suculência e sabor do angus com a precocidade e a resistência do nelore, adaptado ao nosso clima", explica Fernando Cardoso, pesquisador de genética da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

    O primeiro touro angus chegou ao Brasil em 1906, mas o consumo massivo da carne só começou há dez anos, quando foi criado o programa de certificação.

    CLASSIFICAÇÃO

    De acordo com gerente nacional do programa de carne angus, Fábio Medeiros, para emitir o certificado a associação acompanha o abate e analisa a idade, o percentual de gordura e a maciez da carne. É preciso que o boi tenha pelo menos 50% de sangue da raça europeia para ser classificado como angus.

    Hoje, há mais de 5.000 produtores no país, em oito Estados, de norte a sul: RS, SC, PR, SP, MT, MS, MG e PA.

    O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo e começou a abastecer o mercado externo também com angus em novembro, vendendo para a Alemanha e a Holanda.

    O angus é a única carne bovina criada e vendida pelo frigorífico VPJ. A empresa, diz o dono Valdomiro Poliselli Jr., fechará o ano com crescimento de 30% em relação a 2014 e começará a vender para a Espanha no primeiro semestre de 2016. "Nossa carne é competitiva em qualquer lugar do mundo", diz.

    Mercado não é problema para os pecuaristas. "A gente mal consegue atender a demanda interna", completa José Roberto Weber.


    Colaborou Marcelo Toledo, de Ribeirão Preto

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