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    Especialistas divergem sobre futuro do preço do petróleo; veja opiniões

    DO "FINANCIAL TIMES"

    13/01/2016 02h00

    O desempenho horrível do petróleo no começo do novo ano continuou nesta terça-feira (12), com o petróleo cru padrão Brent e o West Texas Intermediate (WTI), referencial do mercado dos Estados Unidos, flertando com a cotação de US$ 30 por barril.

    Preocupações com a economia da China, cujo crescimento puxou a disparada na demanda pelo petróleo mundial nos 10 últimos anos, somadas à produção ainda robusta nos Estados Unidos e a um salto na produção dos integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) levou os preços a cotações que não eram vistas há uma década. Mas para onde eles irão, daqui?

    Veja as opiniões de dois especialistas:

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    • Os argumentos em favor de uma queda nos preços

    "Seria necessária uma série incomum de perturbações na oferta para mudar o rumo do comportamento dos preços. Em curto prazo, a perspectiva do mercado de petróleo é bastante sombria. Depois de um ano no qual os estoques cresceram em ritmo provável de 1,4 milhão de barris ao dia, as reservas continuam a crescer já que a demanda permanece lenta diante de um cenário de crescimento mais lento que o antecipado para a economia mundial, e de uma desaceleração na demanda chinesa por derivados de petróleo".

    "Na ponta da oferta, nos países que não são parte da Opep e respondem pela maior parte do aumento na oferta de 2010 para cá, a produção continua robusta. Ela continua a crescer no Canadá e Brasil e mal declinou nos Estados Unidos. Entre os países da Opep, a Arábia Saudita decidiu escorar sua fatia de mercado, em longo prazo, apesar do crescimento da concorrência, com a disparada na produção iraquiana e o Irã a ponto de reingressar nos mercados, já que as sanções contra o país devem ser suspensas a qualquer momento, agora".

    "Já que os estoques mundiais de petróleo cru e derivados continuam a crescer, o setor de energia parece estar esgotando o espaço disponível para armazenagem, o que provavelmente enfraquecerá ainda mais os preços do petróleo, que podem cair até a marca dos US$ 20".

    "Não significa que o mercado mundial de petróleo não venha um dia a encontrar um novo ponto de equilíbrio, mas quando isso acontecer as condições parecerão dramaticamente diferentes das atuais. Os altos preços no início do século 21 estimularam a exploração em areias oleaginosas, em águas profundas e nas rochas de xisto betuminoso. Cada uma dessas bases de recursos provou ser incrivelmente extensa, e novas tecnologias para reduzir os custos de serviços geraram um período de grande deflação de custos que não deve desaparecer tão cedo".

    "Do lado da demanda, a intensidade de uso da energia mundial, em geral, e a do petróleo em particular, está rapidamente declinando como proporção do Produto Interno Bruto (PIB). O petróleo rapidamente está perdendo seu monopólio como combustível de transporte, em um mundo mais sensível à ecologia. A despeito de um planeta repleto de recursos petroleiros, e a custo mais baixo, o valor do produto para um petroestado agora parece maior quando extraído do que quando deixado no subsolo. Uma parte chave desse novo balanço deriva da dinâmica das novas fontes de petróleo e gás natural no xisto betuminoso".

    Ed Morse, diretor de pesquisa mundial de commodities do Citigroup

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    • Os argumentos em favor de uma alta nos preços

    "O mercado não está operando com base em fundamento algum, e por isso não existe um piso sólido para a queda, em curto prazo. O petróleo pode cair para até US$ 10 por barril. Isso seria suficientemente absurdo para todos".

    "Mas existe uma reserva muito baixa de capacidade excedente sustentável - da ordem de 1% - e um nível elevado de interrupções inesperadas de suprimento, entre as quais a Líbia é a peça mais importante. Mas o mercado parece mais preocupado com o retorno dessa oferta, e por isso o ágio geopolítico sobre os preços está perto do zero. Antecipamos que a velocidade e a dimensão do retorno desse petróleo que ficou fora do mercado sejam decepcionantes".

    "A Arábia Saudita poderia reequilibrar o mercado instantaneamente, mas não deseja fazê-lo sem uma coalizão entre produtores da Opep e de fora da Opep. Na ausência disso, o suprimento de fora da Opep terá de reequilibrar sozinho o mercado, que antecipamos venha a cair em mais de um milhão de barris diários em 2016, com a maior fatia cabendo ao petróleo de xisto betuminoso dos Estados Unidos. A produção de petróleo cru dos Estados Unidos já caiu em 500 mil barris ao dia ante seu pico de abril de 2015 e deve ajudar a reequilibrar o mercado até abril, e depois gerar um deficit significativo na segunda metade do ano".

    "Mas a dramática redução na produção convencional de petróleo nos países de fora da Opep significará que serão necessários muitos anos para que ela seja reativada. Será uma contração maior que de que costume, e resultará em um boom igualmente maior quando o legado dos US$ 300 bilhões em cortes de investimentos vier a se fazer sentir plenamente, em 2017 e depois".

    "A velocidade da queda de produção nos Estados Unidos poderia surpreender a todos, da mesma forma que a demora para que a produção do petróleo de xisto betuminoso norte-americano volte a atingir seu pico anterior de produção. Produzir petróleo de xisto betuminoso não é a mesma coisa que acender ou apagar a luz. Também acreditamos que a relativa falta de produção extra de petróleo fora da Opep virá a ser uma surpresa. Na frente geopolítica, o mercado não acredita, no momento, que a oferta possa cair tanto quanto subir, e seria apanhado de surpresa por qualquer interrupção significativa no suprimento".

    "Um ano atrás, as expectativas quanto à demanda chinesa por petróleo eram muito pessimistas, com a maioria das estimativas prevendo uma desaceleração acentuada em 2015, para um crescimento de demanda de cerca de 2%. O crescimento real da demanda chinesa foi de 6%. Antecipamos que o crescimento da demanda chinesa volte a superar a expectativa este ano".

    Paul Horsnell, diretor de pesquisa de commodities no banco Standard Chartered

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    Edição impressa
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