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    Philip Morris começa a explorar mercado de tabaco aquecido

    EULINA OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    17/01/2016 02h00

    Philip Morris/Efe
    O iQOS, dispositivo para aquecer o fumo e aposta da Philip Morris International
    O iQOS, dispositivo para aquecer o fumo e aposta da Philip Morris International

    Um "cigarro" que é feito de tabaco, mas não é queimado, e gera vapor em vez de fumaça é a estratégia da Philip Morris International (PMI) para diversificar seus produtos, alvo de legislações antifumo apoiadas por organizações de saúde.

    Testado em 2014 em Milão (Itália) e em Nagoya (Japão), o iQOS —equipamento em que o fumo é aquecido a 250⁰C— foi lançado em toda a Suíça em agosto de 2015.

    Em novembro, foi a vez das cidades de Bucareste (Romênia), Moscou e Lisboa.

    Está em curso o lançamento em Turim e Roma, na Itália, e em todo o Japão.

    "É muito cedo para especular sobre os resultados nestas cidades", diz a multinacional, que não divulga qual a receita obtida com o iQOS.

    A projeção da PMI é que, em de cinco a dez anos, esses produtos -classificados pela empresa como de "potencial de risco reduzido"- representem de 10% a 15% do portfólio da companhia.

    O crescimento do mercado de alternativas ao cigarro tradicional tem provocado debates entre grupos de controle do tabagismo. Alguns defendem os eletrônicos para reduzir danos, mas a diminuição do risco não é consenso nem é referendada por organizações antitabaco.

    AMÉRICA LATINA

    A Philip Morris estuda a possibilidade de lançar o iQOS na América Latina, mas não cita prazos. No Brasil, onde a regulação é mais rígida em relação a países como os da União Europeia, o produto pode encontrar restrições, segundo especialistas.

    A empresa diz que sua área de Pesquisa e Desenvolvimento, sediada na Suíça, vem desenvolvendo há mais de uma década tecnologias com potencial para reduzir o risco do tabaco, com orçamento superior a US$ 2 bilhões.

    Nos testes em Milão e em Nagoya, a companhia afirmou que o iQOS alcançou, em menos de um ano, uma participação entre os adultos fumantes de aproximadamente 6% na cidade japonesa (3% se forem excluídos os que compraram vários dispositivos e/ou não têm acesso a "HeatSticks", os cilindros de tabaco) e mais de 1% na italiana.

    Os preços variam de acordo com o mercado. Na Itália, o dispositivo para aquecer o fumo custa € 70 (cerca de
    R$ 300) e o pacote com 20 cilindros de tabaco "está praticamente em linha com o preço da marca líder da PMI, o Marlboro". Segundo o fabricante, cada bastão dura o mesmo tempo de um cigarro.

    BARREIRA

    Embora a Philip Morris afirme que o iQOS não é um cigarro eletrônico, deve enfrentar como barreira uma norma de 2009 da Anvisa que proíbe a comercialização dos dispositivos eletrônicos para fumar no país.

    A empresa ainda não solicitou o registro do produto à agência reguladora e diz não ter prazos para isso.

    Segundo a empresa, por aquecer o tabaco sem queimá-lo, a uma temperatura de até 250 graus Celsius contra 800-900 graus do cigarro comum, o produto não gera fumaça, mas vapor com "90-95% a menos de compostos prejudiciais e potencialmente prejudiciais".

    Especialistas no controle do fumo, no entanto, fazem ressalvas.

    Tânia Cavalcante, secretária executiva da Comissão Nacional para Implementação da Convenção Quadro para o Controle do Tabaco, afirma desconhecer pesquisas específicas relacionadas ao iQOS, mas destaca semelhança com o mecanismo do cigarro eletrônico, como a emissão de vapor.

    Por isso, avalia que dificilmente um produto como esse seria aprovado pela Anvisa.

    "Os estudos sobre a segurança desses produtos não são conclusivos, não existem evidências de toxicidade menor e não se sabe se com eles haverá redução de doenças e mortes relacionadas ao tabagismo", afirma.

    Ela alerta também que os risco dos cigarros eletrônicos não envolvem somente as substâncias contidas no vapor, mas também a possibilidade de explosão do dispositivo.

    Segundo Tânia, o tema tem gerado muita polêmica no âmbito da Convenção Quadro para Controle do Tabaco da Organização Mundial da Saúde (OMS).

    "Nos Estados Unidos, o uso desses produtos triplicou entre jovens desde 2012. A questão, porém, é que esses produtos vêm gerando expectativa nas pessoas e podem servir de porta de entrada para o cigarro convencional, atraindo jovens que nem fumariam ou que poderiam deixar de fumar", diz.

    No Brasil, conforme dados do Ministério da Saúde referentes a 2014, cerca de 10,8% dos brasileiros ainda mantêm o hábito de fumar, o que representa uma queda de 30,7% em nove anos.

    ABIFUMO

    A Associação Brasileira da Indústria do Fumo (Abifumo) defende que haja "uma regulamentação sensata e equilibrada com relação aos comumente denominados cigarros eletrônicos".

    A entidade destaca que "a discussão deve ocorrer no âmbito legislativo competente e com a realização de estudos prévios quanto à eficácia e seus impactos, o que caso contrário irá prejudicar os fabricantes que atuam de forma lícita e favorecer o mercado ilegal".

    "O país deveria trabalhar para ter estes produtos regulamentados, tendo em vista a potencial redução de danos se comparados aos produtos convencionais", diz a Abifumo.

    RAIO-X Philip Morris International
    RECEITA LÍQUIDA** US$ 19,4 bilhões
    LUCRO LÍQUIDO** US$ 1,9 bilhão
    FATIA DE MERCADO 15,5% no
    mundo, excluídos os EUA
    *FUNCIONÁRIOS*3.000, no Brasil
    PRINCIPAIS CONCORRENTES no mundo, Altria, British-American Tobacco, Imperial Tobacco, Japan Tobacco; no Brasil, Souza Cruz
    *terceiro trimestre de 2015

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