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    Fim de sanção ao Irã deve derrubar ainda mais o preço do petróleo

    TATIANA FREITAS
    TONI SCIARRETTA
    DE SÃO PAULO

    17/01/2016 02h00

    O fim das sanções econômicas ao Irã, anunciado neste sábado (16), deve derrubar ainda mais os preços do petróleo, que atravessa um período de contrachoque.

    Detentor da quarta maior reserva de petróleo do mundo, o equivalente a 10% do total, o Irã reduziu fortemente sua presença do mercado nos últimos anos por causa das sanções. Está ansioso para retornar com força e rápido.

    O país diz ter condições de elevar a produção e as exportações em 500 mil barris de petróleo ao dia imediatamente. O volume é equivalente a 2% das exportações da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), cartel do qual o Irã é membro.

    Segundo o jornal "Financial Times", que cita imagens de satélite e fontes do setor, há de 19 e 24 navios petroleiros carregados na costa iraniana, aguardando para zarpar.

    Na sexta (15), a expectativa de que as sanções ao Irã poderiam ser derrubadas ajudou a provocar uma queda de 6% na cotação do petróleo tipo Brent, referência internacional, que fechou a US$ 28,94. A notícia reforçou a tendência de desvalorização, provocada por excesso de oferta. Em um ano e meio, o barril caiu mais de 70%.

    "Não há piso para o preço do petróleo. Os estoques estão em nível recorde e, enquanto não forem consumidos, os preços devem continuar em queda", diz Walter De Vitto, analista da consultoria Tendências.

    Há dúvidas, no entanto, sobre a capacidade do Irã de voltar rapidamente ao mercado. As sanções afetaram de forma significativa os investimentos no setor no país, provocando cancelamentos e postergações de projetos.

    POR QUE HÁ SOBRA?

    Além do efeito Irã, três outros fatores explicam o excesso da commodity.

    O primeiro é a mudança no mapa mundial de produção.

    Projetos como o do pré-sal brasileiro e da exploração de xisto nos EUA haviam sido estimulados pelos preços do mais recente ciclo de alta das matérias-primas.

    De 2012 a 2015, a oferta mundial subiu 6 milhões de barris ao dia -apenas 1 milhão de países da Opep. A demanda não acompanhou e subiu só 4 milhões de barris/dia.

    Com a produção menos concentrada nas mãos dos árabes, a capacidade da Opep de controlar os preços diminuiu. O cartel, então, decidiu contra-atacar. No ano passado, aumentou a produção e fez as cotações desabarem.

    Essam Al-Sudani/Reuters
    Trabalhadores iraquianos perto de um oleoduto, no campo petrolífero "Al Tuba", em Basra
    Trabalhadores iraquianos perto de um oleoduto, no campo petrolífero "Al Tuba", em Basra

    O objetivo do cartel é expulsar produtores com custo maior -como Brasil e EUA. A guerra de preços é o segundo fator de estímulo à baixa.

    O terceiro elemento é a valorização do dólar, que veio com a recuperação da economia e a alta dos juros nos EUA. Como as commodities são cotadas em dólar, a alta da moeda implica a desvalorização desses produtos.

    US$ 100, nunca mais

    O atual contrachoque do petróleo (termo para as quedas bruscas de preço) tem semelhança com os anteriores. Em 1986, havia excesso de petróleo e a Arábia Saudita manteve a produção para inviabilizar projetos de rivais, segundo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura. À época, os preços baixos motivaram a compra da Mobil pela Exxon e da Texaco pela Chevron.

    "Desta vez, há dois fatores novos: a pressão pela redução das emissões de poluentes e a produção de óleo de xisto nos EUA. Há uma resistência em aumentar o consumo por preocupações ambientais. Por isso, muitos dizem que petróleo a US$ 100 nunca mais", diz Pires.

    Segundo ele, a extração do óleo de xisto nos EUA tem a vantagem de poder ser interrompida em períodos de baixa dos preços, diferentemente da exploração no mar (chamada de "offshore").

    Especialistas afirmam que, no longo prazo, a extração de petróleo de xisto nos EUA, que em 2016 deve cair, voltará a subir. Projetos com custo intermediário, como o pré-sal do Brasil, também podem ser retomados -até porque os poços nos países árabes entrarão em declínio.

    A dúvida está no comportamento da demanda. Para atingir os compromisso de redução das emissões de gases de efeito estufa, o consumo de combustíveis fósseis terá obrigatoriamente de cair.

    Mas a troca dos combustíveis fósseis pelos renováveis pode atrasar nesse novo cenário. "Esse ciclo de baixa será um teste para a economia verde. Veremos se a questão do ambiente é para valer ou se os projetos renováveis serão postergados", diz Pires.

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