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    o impeachment

    BC rebate críticas e diz que pode se manifestar sobre juro antes do Copom

    EDUARDO CUCOLO
    VALDO CRUZ
    DE BRASÍLIA

    19/01/2016 16h08

    Joedson Alves/Reuters
    O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em reunião em Brasília
    O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em reunião em Brasília

    A nota divulgada pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, na véspera da decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) sobre a taxa básica de juros gerou uma série de críticas do mercado.

    A instituição afirma, no entanto, que não violou nenhuma regra escrita e que agiu de maneira inédita diante de um fato também inédito: a drástica revisão das projeções de crescimento do país feita pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).

    O Fundo publicou às 8h desta terça-feira (19) seu tradicional relatório Panorama Econômico Global, no qual revisou a previsão para o desempenho do PIB brasileiro de -1,0% para -3,5% em 2016 e de +2,3% para 0% em 2017.

    Taxa básica de juros (Selic)

    Uma hora depois, Tombini publicou no site do BC uma nota na qual afirma que as revisões foram "significativas", que o FMI atribui o quadro mais pessimista a problemas não econômicos (crise política e Lava Jato) e que "todas as informações econômicas relevantes e disponíveis até a reunião do Copom são consideradas nas decisões do colegiado."

    Logo depois da divulgação da nota, as projeções de mercado em suas operações já apontavam para a possibilidade de a taxa Selic subir de 14,25% para 14,50% ou ficar estável na reunião do Copom que começou nesta terça e termina quarta-feira (20). A expectativa até segunda-feira (18) era de aumento de juros para 14,75%.

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    Por meio de sua assessoria, o BC informa que o período de silêncio que antecede as reuniões do Copom não é uma norma escrita, mas que a instituição entende que os membros do comitê não devem manter conversas privadas sobre política monetária nos dias que antecedem o encontro.

    Nos últimos anos, segundo o BC, já houve casos de manifestações públicas nos dias anteriores ao Copom, inclusive sobre política monetária, o que é aprovado e visto como legítimo pela atual diretoria.

    A instituição afirma que o mercado iria especular de qualquer maneira sobre a forma como o relatório do FMI poderia ser interpretado pelo BC. Por isso, Tombini decidiu se antecipar e publicar um posicionamento logo após a divulgação do FMI.

    "LAMENTÁVEL"

    Gustavo Loyola, ex-presidente do BC, classificou como "lamentável e inacreditável" a nota de Tombini. Segundo ele, não há nenhuma grande novidade nas previsões do FMI e, mesmo que houvesse, o BC não deveria se manifestar sobre elas no dia em que começa a reunião do Copom.

    "Fica difícil não fazer uma ligação de que o Banco Central estaria em busca de uma desculpa, um pretexto, para mudar de posição", afirmou Loyola.

    "Eu agora começo a duvidar que o Banco Central vai aumentar os juros. E, se aumentar, vai ser 0,25. Nada contra, eu mesmo, pessoalmente, achava que havia argumentos técnicos para não aumentar. Só que, pelos últimos comunicados, toda sinalização era de alta, de 0,50 ponto percentual".

    O ex-presidente do BC afirmou que a mudança de posição e a forma como isso foi feito são muito ruins para credibilidade da instituição.

    "A nota é fora do tom, não tem nada de muito novo. O próprio índice do Banco Central já estava mostrando esta deterioração do cenário econômico. O relatório Focus já está nesta linha."

    "MOMENTO ERRADO"

    Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e chefe da Divisão Econômica da CNC (Confederação Nacional do Comércio), afirmou que a nota de Tombini veio no momento errado e está totalmente fora dos padrões de comunicação adotados pelos bancos centrais do Brasil e de outras grandes economias.

    Para ele, o BC errou ao assumir antecipadamente o compromisso de aumentar os juros nesta reunião, dando sinais de que a alta seria de 0,50 ponto percentual. E erra novamente ao emitir um comunicado que provoca uma reviravolta no mercado de juros.

    Carlos Thadeu disse que o BC corre o risco de cair em descrédito se não elevar os juros em pelo menos 0,25 ponto percentual. Para ele, a manutenção da Selic seria um sinal de que a instituição não tem mais o que fazer para controlar a inflação. Sinalizaria ainda que não é possível confiar na sua comunicação e no compromisso de colocar a inflação em 4,5% em 2017.

    "Achei que foi uma pisada de bola. O BC está tocando piano com martelo, e política monetária se faz com sintonia fina, para não gerar distorções e uma volatilidade desnecessária", afirmou.

    Folhainvest

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