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    Credibilidade do Banco Central sofreu novo abalo, dizem economistas

    DE SÃO PAULO

    22/01/2016 02h00

    Ueslei Marcelino/Reuters
    O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini

    Economistas de bancos e consultorias dizem que não podem afirmar se houve ou não ingerência política na decisão do BC de manter inalterados os juros. No entanto, para eles, houve incompetência técnica no trabalho de ancorar as expectativas de inflação e falha grave na comunicação com o mercado.

    O resultado, dizem, é um novo abalo na credibilidade do BC sob o comando de Alexandre Tombini, que já fora arranhada em 2013 pelo atraso na retomada da alta de juro. Alguns acreditam que, se o remédio fosse tomado antes, a inflação não teria atingido dois dígitos e os juros não teriam subido tanto.

    Para Marcos Lisboa, diretor do Insper e ex-secretário do Ministério da Fazenda, havia motivos defensáveis tanto para subir quanto para manter os juros.

    "O que surpreendeu é a maneira como o BC conduziu; conseguiu desagradar todos. Política monetária não se resume a definir juros, inclui a coordenação de expectativas. E o BC está tendo uma comunicação errática. Quanto menos eficiente é a comunicação, mais difícil e custoso para o país é manter controle da inflação."

    FALHA

    "Tombini não entendeu o poder que tem ao se pronunciar", disse Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC.

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    Freitas lembra que problemas de comunicação não são exclusividade do BC brasileiro e que o Fed (BC dos EUA) falhou diversas vezes nessa tarefa até a gestão de Alan Greenspan (1987-2006). O problema era tão grave que o Fed esperava para ver o entendimento do mercado para depois corrigi-lo.

    Segundo um ex-diretor do BC que preferiu não se identificar, o problema é mais do que comunicação. Está ligado à forma como o BC responde às pressões, e os últimos acontecimentos expuseram a gravidade da situação. "Por que na véspera? Por que não esperar mais um dia e submeter ao ritual do Copom?", afirmou o ex-dirigente.

    O economista Octavio de Barros, do Bradesco, reconhece o "ruído" na comunicação, mas considera a decisão acertada diante da deterioração econômica. "Foi uma decisão absolutamente autônoma, não embarco nessa visão conspiratória."

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