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    Febre das cápsulas de café não é acompanhada pela reciclagem

    JOANA CUNHA
    DE SÃO PAULO

    24/01/2016 02h00

    Eduardo Knapp/Folhapress
    Sao Paulo, SP, Brasil, 22-01-2016 11h10:Reciclagem de capsulas de cafe. Saquinho distribuido pela Nespresso para receber capsulas usadas de cafe dos clientes. Fotos na loja da r Padre Joao Manuel, no Jardins (Foto Eduardo Knapp/Folhapress.MERCADO). Cod do Fotografo: 0716
    Saquinho distribuído pela Nespresso para receber cápsulas usadas de café

    Desde que chegou ao Brasil, há dez anos, o mercado do café em cápsula saltou de R$ 19 milhões para R$ 1,4 bilhão em 2015. Mas tamanha evolução não estabeleceu uma indústria compatível com o lixo que produz.

    Mais de 7.000 toneladas do café nas embalagens individuais foram vendidas no ano passado no país, segundo a consultoria Euromonitor. Já o volume de cápsulas recicladas é tabu no setor.

    A líder Nespresso tem um programa com pontos de coleta para devolução do resíduo. A companhia, porém, sob a justificativa de se tratar de dado confidencial, não informa qual percentual de cápsulas vendidas é de fato restituído pelo cliente e reciclado.

    O material descartado é levado a uma instalação da Nespresso em São Bernardo (SP), onde o compartimento de alumínio é separado do resíduo de café que sobra em seu interior. A Folha solicitou uma visita ao local, mas a empresa não consentiu. Também não informou se a capacidade de separação de cápsulas sujas é grande o suficiente para dar conta de toda a produção vendida no país.

    BORRA

    Após a separação do material, o alumínio segue para uma empresa de reciclagem em Suzano, e a borra de café, para Mogi Mirim, onde se torna composto orgânico.

    Quando se instalou no Brasil, a Nespresso não achou uma empresa que separasse o material. Então resolveu, ela própria, assumir a função.

    Em países com políticas ambientais avançadas, como Alemanha, Finlândia e Suécia, a empresa não precisa assumir a limpeza do material, diz Francisco Campiche, gerente na Nespresso. A indústria paga taxas e os governos protagonizam a reciclagem.

    Outra gigante do setor, a Dolce Gusto inaugurou em dezembro, em Minas Gerais, sua primeira fábrica com tecnologia para fazer cápsula fora da Europa. Por meio de nota, informa que recentemente iniciou a expansão de pontos de coleta em lojas e na sede da fabricante Nestlé.

    O Grupo 3corações, também em nota, diz que está em fase de construção de fábrica de cápsulas que "contará com uma proposta para a solução de reciclagem", mas não descreve o projeto.

    Por enquanto, a recomendação da 3corações é a mesma feita por Alexx Noga, diretor da Kaffa, indústria que encapsula cerca de 2,5 milhões de unidades por mês para terceiros. A Kaffa tem 95 marcas de café em seu portfólio, reflexo do interesse de pequenos produtores pela chamada monodose.

    Noga sugere que, no caso das marcas que não fazem coleta e separação, o próprio cliente separe os componentes das cápsulas –filme laminado, plásticos e resíduos orgânicos– e os destine a coletores ou cooperativas.

    "O processo é lavar e reciclar, mas, para o consumidor, não é tarefa fácil. Os materiais são de difícil separação", afirma Vivian Fernandes, pesquisadora da USP.

    A Abal (entidade do setor de alumínio) diz que entre seus associados não há quem desmembre cápsulas inteiras. A Plastivida, que representa a cadeia do plástico, responde o mesmo.

    Nathan Herszkowicz, da Abic (do setor de café), estima que em alguns anos a indústria da reciclagem despontará para acompanhar a consolidação da cápsula.

    Para Tereza Carvalho, coordenadora do laboratório de sustentabilidade da USP, as empresas deveriam incentivar seus clientes. "Se dessem uma cápsula nova para cada 'x' devolvidas, os clientes teriam um estímulo para sair de casa e devolver o lixo."

    LOGÍSTICA REVERSA

    Em 2015 foi assinado o maior acordo setorial de logística reversa do país, que regulamenta o fluxo de todo tipo de embalagem, para elevar investimentos em conscientização, coleta e rastreamento. Os acordos setoriais estão previstos na Política Nacional dos Resíduos Sólidos, de 2010.

    "A responsabilidade não é só da empresa. É do cidadão até o poder público", afirma Victor Bicca, presidente do Cempre (Compromisso Empresarial para a Reciclagem).

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