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    Concessão de crédito cai em 2015 com aumento de juros e inadimplência

    EDUARDO CUCOLO
    DE BRASÍLIA

    27/01/2016 11h10 - Atualizado às 12h21

    As concessões de crédito caíram 3,2% em 2015, em termos nominais, ou seja, sem contar o efeito de inflação. Em 2015, a inflação medida pelo IPCA (índice oficial) foi de 10,67%, o que faz com que a queda real nas concessões de crédito supere os 13%..

    A redução ocorre em um cenário de alta de juros, aumento da inadimplência e queda tanto na demanda como na oferta de financiamentos.

    Dados divulgados nesta quarta-feira (27) pelo Banco Central, sempre considerando números nominais (sem descontar o efeito da inflação) mostram que o recuo se deu, principalmente, no crédito subsidiado (-18%), que inclui operações imobiliárias para pessoas físicas e do BNDES para empresas. Nos empréstimos a taxas de mercado, a queda foi de 0,7%.

    Crédito do sistema financeiro - Taxas médias de juros para pessoas físicas

    A redução na liberação de empréstimos levou a uma desaceleração no ritmo de crescimento do estoque de crédito, que avançou 6,6% no ano passado, para R$ 3,2 trilhões. Na comparação com o PIB (Produto Interno Bruto), passou de 53,1% em 2014 para 54,2% em 2015.

    Nos bancos públicos, o aumento no estoque foi de 10,9%, apesar de a desaceleração ter afetado linhas nas quais essas instituições têm participação relevante. A inadimplência saltou de 2% para 2,7%.

    Nos bancos privados nacionais, o estoque encolheu 0,8%, e os atrasos passaram de 3,7% para 4,5%. Nos estrangeiros que atuam no país, o crédito avançou 6,9%, e a inadimplência subiu de 3,3% para 3,5%.

    A taxa média de juros bateu novo recorde da série iniciada pelo BC em março de 2011 e fechou o ano em 37,9% ao ano para as famílias e 20,9% ao ano para as empresas. A inadimplência média do sistema passou de 2,7% para 3,4%.

    Crédito do sistema financeiro - Inadimplência, em %

    RETOMADA

    O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, afirmou que uma aceleração no ritmo de crescimento do crédito vai depender de quando a renda voltar a crescer. A sondagem trimestral do BC mostra que há hoje um problema tanto de oferta quanto de demanda, em parte por causa de programas do governo que anteciparam a compra de alguns bens.

    Maciel não quis comentar as medidas de incentivo ao crédito que serão anunciadas nesta quinta-feira (28) pela presidente Dilma Rousseff. Afirmou, no entanto, acreditar que a baixa demanda deve impedir que as medidas incentive o crédito a ponto de levar a um aumento mais forte da inadimplência.

    Apesar do aumento significativo desse indicador de atrasos no ano passado, o BC considera que a inadimplência mostra crescimento moderado e está "bem comportada".

    VEÍCULOS

    O estoque de crédito para veículos caiu 12,7% em 2015. Já havia recuado 4,5% em 2014. Essa modalidade representa cerca de 20% do crédito às famílias e chegou a crescer 49% em 2010.

    Segundo Maciel, além da queda na atividade e na renda, um fator adicional foi uma antecipação de consumo em função de programas de incentivo ao crédito automotivo em anos anteriores, que tiveram impacto tanto em 2014 como em 2015.

    CHEQUE ESPECIAL

    Os juros do cheque especial passaram de 201% ao ano no fim de 2014 para 287% ao ano no final de 2015. Esse é o maior valor desde abril de 1995 (288%) e a terceira maior taxa da série histórica, atrás ainda do recorde de 294% de julho de 1994.

    No ano, o estoque dessa modalidade cresceu 0,6%. Maciel destacou que, como ocorre todos os anos, houve queda no saldo do cheque em dezembro, por causa do recebimento do 13º salário. "Infelizmente, ao longo do ano isso acaba subindo novamente", afirmou.

    BNDES

    O estoque de crédito do BNDES cresceu 16% em 2014 e 6,4% em 2015. As concessões caíram 26,3% no ano. Além da menor demanda, houve mudança nas condições de crédito. A taxa média de juros passou de 7,1% para 9,8% nas linhas para investimento, principal modalidade do banco estatal.

    IMOBILIÁRIO

    A taxa de crescimento do estoque de crédito imobiliário caiu praticamente pela metade em 2015, para 15,7%. As concessões recuaram 19,4%. Os juros passaram de 8,9% para 10% ao ano. Desacelerou, mas ainda puxa a carteira dos bancos públicos.

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