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    Personagens reais de 'A Grande Aposta' debatem o colapso de 2008

    THAIS BILENKY
    DE NOVA YORK

    30/01/2016 02h00

    As simplificações e malabarismos para enquadrar "A Grande Aposta" na indústria do entretenimento não tiraram a precisão do filme. Gente que viveu a crise de 2008 de dentro do sistema bancário americano atesta: o longa causou calafrios.

    "Eu tive péssimos flashbacks", contou Donald Kohn, vice-presidente do Federal Reserve (banco central americano) entre 2006 e 2010.

    Em um debate no instituto de pesquisas Brookings, na quarta (27), ele se lembrou dos anos precedentes ao estouro da bolha imobiliária e a decorrente quebradeira no mercado financeiro.

    "No meio de 2005, no Fed, tivemos uma explanação em que a primeira parte era como o mercado imobiliário estava 20% sobrevalorizado e, infelizmente a outra parte era 'é... eles vão colapsar, terão problemas, é ruim, mas só'", lembrou. "Ninguém percebeu a magnitude do que estava por vir. Eu não percebi."

    Divulgação
    Brad Pitt em cena do filme "A Grande Aposta", que aborda a crise econômica de 2008
    Brad Pitt em cena do filme "A Grande Aposta", que aborda a crise econômica de 2008

    Danny Moses (interpretado no filme por Rafe Spall), um investidor à época parte da equipe de Mark Baum (Steve Carell), tem outra visão. Segundo ele, muitos tinham ciência dos riscos, mas evitavam admiti-los.

    Para Moses, a temperatura do longa é real. Como mostrado em "A Grande Aposta", ele de fato visitou casas abandonadas na Flórida para conferir a facilidade com que o crédito era concedido. "Mas, posso criticar? Não encontramos jacarés nas piscinas" (na obra, um animal o espanta de uma das residências).

    Brincadeiras à parte, Moses, que agora tem o próprio fundo, afirmou que a regulação imposta aos bancos depois da crise alterou todo o sistema. "A regulação imposta é positiva, mas a falta de liquidez resultante, que nos impede de ainda sermos grandes demais para quebrar, cria a volatilidade que temos visto. Temos de encontrar um novo normal."

    Para o diretor, Adam McKay, é preciso diferenciar "cegueira, estupidez e fraude". "Você não pode minimizar a fome dos bancos", criticou. "O grande elefante na sala é que o governo ainda está totalmente refém dos bancos."

    Kohn observa que a reação ao colapso de 2008 gerou um efeito ambíguo. "Tanto a extrema esquerda quanto a extrema direita agora odeiam os grandes bancos. Não sei como isso vai funcionar."

    A imprensa também não escapou. Em dada cena, filmada em um escritório luxuoso, um repórter do "Wall Street Journal" dispensa o relato de dois investidores sobre as fraudes para não perder o acesso a executivos.

    Comentarista do jornal, Greg Ip defendeu que muito foi escrito sobre a bolha imobiliária. "Você é bombardeado de jargões, as pessoas falam como se você entendesse tudo e não há ninguém de fora que explique", relatou.

    O moderador do debate, David Wessel, que também trabalhava no "WSJ", afirmou que a imprensa falhou.

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