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    Mineiro e carioca são minoria no Banco Central ao defender alta de juro

    EDUARDO CUCOLO
    DE BRASÍLIA

    31/01/2016 02h00

    Claudio Belli/Valor/Folhapress
    O carioca Tony Volpon, 50, diretor do BC desde 2015

    Um funcionário público de carreira e um economista vindo do mercado financeiro são os dois novos representantes de uma espécie cada vez mais rara no Banco Central brasileiro: o falcão.

    No jargão econômico, a ave serve para designar representantes de banco centrais mais preocupados com a inflação e que, por isso, acabam votando pelo aumento dos juros.

    O mineiro Sidnei Corrêa Marques, 63, e o carioca Tony Volpon, 50, foram os dois únicos a votar pela alta dos juros nas duas últimas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), em novembro de 2015 e em janeiro deste ano.

    Os outros seis representantes do comitê, no entanto, decidiram manter os juros nos atuais 14,25% ao ano.

    Desde maio de 2012, quando o voto de cada membro do Copom deixou de ser secreto, houve cinco placares divididos. Em todas essas ocasiões, Sidnei ficou do lado "hawkish" (termo em inglês para designar a posição mais inclinada a subir os juros).

    Esteve com a maioria em duas ocasiões. Em abril de 2013, quando o BC tirou os juros do seu piso histórico de 7,25% ao ano. E em outubro de 2014, na retomada do ciclo de aperto monetário após a reeleição de Dilma Rousseff.

    Ruy Baron/Valor/Folhapress
    O mineiro Sidnei Corrêa Marques, 63, diretor desde 2011

    O mineiro de Piraúba responde pela Diretoria de Organização do Sistema Financeiro e Crédito Rural no BC desde 2011. Nessa posição, não se manifesta publicamente sobre política monetária.

    Informalmente, faz comentários bem-humorados e irônicos sobre o assunto aos colegas do banco, com os quais costuma almoçar nos restaurantes por quilo nas vizinhanças do BC. Pode ser uma piada sobre o preço do cafezinho. Ou até mesmo uma palavra mais dura de reprovação a uma posição mais leniente com a inflação.

    POMBOS

    Sidnei é um caso raro de falcão com vida longa no atual Copom. Nesta gestão, a espécie predominante tem sido o "pombo" (dove, inglês), que no jargão do mercado indica os diretores mais lenientes com a inflação, segundo os críticos, ou mais preocupados com o nível da atividade, de acordo com seus defensores.

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    Os dois últimos diretores que adotaram uma posição mais "hawkish", Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo e Luiz Awazu Pereira da Silva, já deixaram a instituição. O que levanta dúvidas sobre a disposição de Volpon, único vindo do mercado, de permanecer no Copom.

    No cargo desde abril, Volpon, diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, criou polêmica ao antecipar seu voto em uma das reuniões do comitê. Recentemente, disse que uma inflação acima de 10% tem carga simbólica que não deveria ser ignorada e defendeu uma ação "contundente" do BC, que não veio.

    Pouco antes da mais recente reunião do Copom, foi com o presidente do BC à Suíça.

    Alexandre Tombini saiu do evento convencido de que não deveria mais subir os juros, porque a crise externa se agravou, segundo a versão oficial.

    Volpon ouviu e viu as mesmas coisas, mas entendeu que "seria oportuno ajustar, de imediato, as condições monetárias", como diz a ata da última reunião ao explicitar a posição dos dois diretores dissidentes do Copom.

    GLOSSÁRIO ORNITOLÓGICO

    HAWKISH

    Adjetivo em inglês relativo a falcão, usado, em política econômica, para designar uma posição mais agressiva, com tendência a priorizar o aumento dos juros para combater a inflação

    DOVISH

    Adjetivo em inglês relativo a pombo. Na política econômica, indica uma tendência mais leniente com a inflação, segundo os críticos, ou mais preocupada com o nível da atividade, de acordo com seus defensores

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