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    Casas badaladas em SP abandonam tradição dos 10% e elevam gorjeta

    TÁSSIA KASTNER
    DE SÃO PAULO

    01/02/2016 02h00

    Um dos bares mais badalados da cidade hoje, A Casa do Porco tem até três horas de espera na porta, comida elogiada e um time eficiente de garçons. A surpresa chega com a conta: em vez dos 10% tradicionais a mais, o local cobra 13% de gorjeta.

    A iniciativa de subir a taxa de serviço –que, vale lembrar, ninguém é obrigado a pagar– se repete no Dona Onça, na rede Galeto's (13%) e no Jamie's Italian (12%). Mas isso só percebe quem é atento ou bom de matemática. Quando existem, os avisos estão no pé do cardápio.

    Com as novas gorjetas, essas casas agora se igualam aos renomados D.O.M. (12%) e Fasano (13%), que há anos sugerem uma bonificação mais polpuda aos garçons.

    Segundo os proprietários, a justificativa para o aumento é trabalhista : antes, os garçons chegavam a dobrar o salário fixo com as gorjetas, que ficavam livres de encargos e impostos.

    Muitos foram à Justiça contra seus empregadores e, por isso, no ano passado, foi fechado um acordo coletivo entre o sindicato dos donos de bares e restaurantes (Sinhores-SP) e o dos trabalhadores (Sinthoresp) de São Paulo para que a gorjeta fosse registrada no contracheque. O acordo também previu que a gorjeta poderia subir para até 15%.

    Para compensar esse aumento de custo e não repassá-lo ao cardápio –o que afugentaria clientes–, muitas casas estão optando atualmente por esconder esse aumento na taxa de serviço.

    Para o ProconSP, a taxa de serviço maior não é ilegal, mas pode ser considerada abusiva se o consumidor não for informado previamente.

    Sócia de A Casa do Porco e proprietária do Dona Onça, Janaína Rueda diz ter aumentado a taxa de serviço depois de sofrer algumas ações trabalhistas. Foi então informada pelo sindicato patronal que tinha de incluir as gorjetas no contracheque dos garçons. Segundo ela, o próprio sindicato recomendou o aumento da taxa para compensar as perdas, tanto para o funcionário quanto para o empregador.

    "Chegamos aos 13% [de gorjeta]. Assim a gente paga os impostos e não mexe [reduz] bruscamente nos salários. Eles ficam mais felizes servindo as pessoas e o cliente não é lesado [por pagar um pouco mais]", diz Rueda.

    As duas casas da empresária, no entanto, não informam o percentual maior no cardápio e nem na conta.

    "Tem gente que pede para pagar só 10%, outros, para tirar", disse um garçom do Galeto's no shopping Pátio Higienópolis, sem se identificar. Na unidade, a informação da gorjeta maior está no cardápio.

    Procurado, o Galeto's não comentou a gorjeta maior. O Jamie's Italian também informa no cardápio a gorjeta sugerida de 12%.

    Paulo Solmucci Júnior, presidente da Abrasel (associação de bares e restaurantes), acredita que o aumento da taxa de serviço poderá ser percebida em bares e restaurantes fora do regime de tributação Simples.

    Josimar Melo, colunista da Folha, afirma que o custo trabalhista deveria ser repassado para o prato, e não para a taxa de serviço. "O garçom ganha pouco porque está previsto que a remuneração dele inclui a gorjeta. Se eu não pagar, estarei diminuindo o salário dele."

    Teste da gorjeta

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