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    Brasileira encontra 'caixa-preta' na Aerolíneas Argentinas pós-Cristina

    LUCIANA DYNIEWICZ
    DE BUENOS AIRES

    05/02/2016 02h00

    Divulgação
    Brasileira Isela Costantini, presidente da Aerolíneas Argentinas e ex-GM na Argentina
    Brasileira Isela Costantini, presidente da Aerolíneas Argentinas e ex-GM na Argentina

    A brasileira Isela Costantini, 44, completou nesta quinta-feira (4) um mês à frente da maior empresa aérea argentina, a estatal Aerolíneas Argentinas.

    Os 30 dias, no entanto, passaram longe do necessário para que ficasse ciente de toda a situação da companhia. De números, por enquanto, só tem um de cabeça: a empresa terá um deficit de US$ 1 bilhão neste ano se não houver mudanças.

    Juan Mabromata/AFP
    Aerolineas Argentinas' workers poses next to the airplane dacorated with the portraits of Argentina's National team footballers forward Lionel Messi (C), forward Gonzalo Higuain and forward Serio Aguero (L) that will transport Argentina's national football team to Brazil and back home at the end of the 2014 FIFA World Cup Brazil, during its presentation in Ezeiza, Buenos Aires on June 3, 2014. AFP PHOTO/Juan Mabromata ORG XMIT: MAB893
    Funcionários da Aerolíneas Argentinas perto de avião com fotos da seleção argentina de futebol

    As estimativas do mercado, porém, apontam que a empresa vinha tendo um prejuízo anual de US$ 400 milhões.

    Costantini não tem dados da dívida total nem sabe de cor os custos anuais de operação. "Todo dia aqui é uma surpresa e sempre surge uma nova dívida", disse à Folha.

    À Boeing, por exemplo, precisa pagar US$ 110 milhões, que deveriam ter sido acertados no ano passado.

    A auditoria mais recente foi feita em 2013, pela KPMG. Desde então, a estatal não tem números confiáveis. Em julho do ano passado, foi concluído o último balanço, mas Costantini não acredita nesses dados.

    Diante da desordem, a prioridade da executiva é organizar os processos de operação e fazer com que o deficit anual não chegue nem a US$ 500 milhões.

    Para isso, algumas medidas já foram tomadas. Em janeiro, a brasileira rescindiu o contrato com a Sol, uma empresa aérea local e privada.

    Desde setembro do ano passado, a Aerolíneas arcava com os custos de voo da parceira em troca de poder usar a frota da Sol (composta por oito aeronaves) em caso de um aumento de demanda.

    Costantini também cortou custos não operacionais. Um exemplo foi a diminuição no valor da comissão pago às agências revendedoras de passagens -caiu de 3% para 1%.

    Por enquanto, demissões não estão no radar, apesar de Costantini admitir que o quadro de funcionários, com 12.200 postos, é inchado.

    A intenção inicial é analisar quais departamentos precisam ou não dos empregados e fazer realocações.

    ESTATIZAÇÃO

    A Aerolíneas pertencia ao grupo espanhol Marsans até 2008, quando o governo de Cristina Kirchner a estatizou, assumindo uma dívida de US$ 890 milhões.

    Durante o período kirchnerista, surgiram acusações de corrupção e mau uso do dinheiro público -em 2015, o governo repassou à empresa US$ 464 milhões.

    "Estamos tentando criar uma cultura de orçamento. Os funcionários aqui buscavam as melhores práticas, mas com um cheque em branco. Eles sabiam que a companhia tinha dívidas, mas não havia a preocupação de lançar novos negócios [que gerassem lucros]."

    O governo Kirchner também procurou ampliar as conexões dentro do país, incluindo nas rotas cidades que não eram atraentes sob o ponto de vista comercial.

    Por enquanto, não haverá alteração no número de destinos para reduzir gastos, afirma a executiva.

    "A empresa é do Estado, isso não muda. Queremos ter uma empresa com objetivo social, mas o mínimo é que ela não perca dinheiro."

    Em relação à desvalorização do peso, Costantini afirma que essa não é uma preocupação no momento. No Brasil, o enfraquecimento do real é um dos fatores geradores de prejuízos às aéreas.

    Para a executiva, o barateamento do combustível no mercado internacional compensará a alta do dólar.

    Costantini, no entanto, não sabe qual é a parcela exata dos custos em dólares no total da empresa, mas diz que é inferior a 60% (valor considerado pelas brasileiras do mesmo setor).

    A executiva nasceu em São Paulo, mas é filha de argentinos. A cidadania argentina foi tirada há menos de um ano. Formada em comunicação pela PUC-PR, comandou até 2015 a General Motors na Argentina, no Paraguai e no Uruguai.

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