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    Livro de piloto sobre quebra da Varig é parcial e enfadonho

    MARIANA BARBOSA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    06/02/2016 02h00

    Rafael Andrade/Folhapress
    Avião da Varig em operação no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, em 2009
    Avião da Varig em operação no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, em 2009

    A história da derrocada da Varig comporta muitas e muitas visões. Pilotos, demais funcionários e aposentados, conselheiros da Fundação Ruben Berta, governos, parlamentares, juízes, advogados, empresas aéreas concorrentes, donos de avião e passageiros: cada um tinha uma expectativa, um interesse e uma opinião particular sobre o qual deveria ser o destino da "estrela brasileira".

    Sem um dono propriamente, por ser gerida por uma fundação, a Varig era de todos os brasileiros, diziam aqueles que defendiam a sua sobrevivência.

    Mas, mesmo entre eles, não havia consenso sobre como equacionar as dívidas bilionárias e tornar o negócio sustentável.

    Enquanto a voadora sangrava a céu aberto, sem dinheiro para pagar o querosene de aviação nem salários, uma disputa fratricida entre grupos trabalhistas contribuía para enfraquecê-la.

    E é a história desta disputa, especificamente entre a Apvar (Associação de Pilotos da Varig) e o SNA (Sindicato Nacional dos Aeronautas), que se lê em "Caso Varig - A história da maior tragédia da aviação
    brasileira", de Marcelo Duarte Lins.

    O autor, piloto e ex-vice-presidente da Apvar, não faz nenhum esforço para contextualizar a crise, para narrar como a Varig chegou onde chegou, com uma dívida de mais de R$ 7 bilhões. Limita-se a fazer um relato apaixonado dos esforços que a Apvar (junto com Acvar e Amvar, associações de comissários e mecânicos da Varig) empenhou na busca por uma solução. Sempre, de seu ponto de vista, sendo atrapalhado pela liderança do SNA.

    Não foram poucos os louváveis esforços da Apvar para tentar convencer o governo federal e a sociedade a preservar a companhia. Mas são entediantes os relatos com descrições detalhadas de todas as falas de autoridades nas inúmeras audiências da Apvar no Congresso Nacional, nas assembleias legislativas do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, com governadores.

    O grupo só não conseguiu se reunir com o então presidente Lula, que na época, em seu primeiro mandato, estava com a popularidade nas alturas. Mas Lula, que não queria salvar a Varig mas tampouco queria manchar sua biografia com a demissão de duas dezenas de milhares de funcionários, só tinha agenda para a arqui inimiga da Apvar, a presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio.

    Os meios adotados pela Apvar também levaram a associação a bater de frente com a direção da Varig. Depois de denunciar irregularidades cometidas pela Varig às autoridades aeronáuticas, as lideranças da Apvar acabaram sendo demitidas por justa causa, sendo posteriormente reintegradas, após custosas disputas judiciais.

    A insistência em uma proposta de compra da empresa pelos trabalhadores por meio de créditos trabalhistas, sem que houvessem novos investidores para injetar capital na empresa –e considerando que a empresa já era dos trabalhadores por meio da FRB -, tampouco ajudou a angariar a simpatia da sociedade.

    CONTEXTO

    O livro carece de entrevistas, índice, e links para facilitar a identificação de reportagens citadas. O texto, que vez ou outra se mistura com artigos de terceiros, parece basear-se em notas escritas pelo autor no calor dos acontecimentos.

    Mas a história (ou as notas do autor) acaba logo após o primeiro leilão da Varig, em que a proposta de compra da Varig pela Apvar sagrou-se vencedora por falta de concorrência, mas que, dias depois, terminou desqualificada pela Justiça.

    Sobre o que se deu após o leilão, o autor se limita a fazer um resumo, a partir de relatos publicados pela imprensa: a compra da Varig pela Varig Log (comprada pouco antes por Marco Antonio Audi e o fundo Matlin Patterson, do chinês Lap Chan); e, pouco depois, em meio a uma acirrada disputa dos sócios da VarigLog, a revenda da empresa para a Gol.

    Essas são as histórias da Varig cujos bastidores ainda estão por serem totalmente escancarados –mas que dependem dos esforços de um autor que não seja parte interessada. Afinal, partes interessadas não costumam primar pela isenção.

    Caso Varig
    AUTOR Marcelo Duarte Lins
    EDITORA Jaguatirica
    QQUANTO R$ 65,90 (408 págs.)
    AVALIAÇÃO ruim ¢

    Edição impressa
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