• Mercado

    Wednesday, 01-May-2024 05:56:47 -03

    Presidente do Fed diz que turbulência mundial pode prejudicar crescimento dos EUA

    SAM FLEMING
    DO "FINANCIAL TIMES", EM WASHINGTON

    10/02/2016 12h48

    Jose Luis Magana - 15.out.2014 /Associated Press
    Presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, alerta para riscos globais
    Presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, alerta para riscos globais

    A turbulência nos mercados financeiros mundiais pode causar revés no crescimento dos Estados Unidos e nas contratações pelas empresas do país, caso persista, declarou a presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) ao Congresso na quarta-feira (10), em palavras que reduzirão ainda mais a expectativa de novos aumentos das taxas de juros, em curto prazo.

    Janet Yellen destacou os riscos que os problemas da China causam para os Estados Unidos e declarou que as condições se haviam tornado "menos favoráveis" ao crescimento norte-americano, mencionando a recente queda nos preços das ações, os custos mais altos de crédito que os tomadores de empréstimos de maior risco precisam encarar e a alta do dólar, que vem prejudicando os exportadores.

    "Esses desdobramentos, caso se provem persistentes, podem pesar sobre as perspectivas para a atividade econômica e o mercado de trabalho, ainda que quedas nas taxas de juros de longo prazo e nos preços do petróleo ofereçam alguma compensação", ela afirmou em depoimento ao Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados.

    Yellen persistiu, no entanto, em sua política existente de sinalizar aumentos "graduais" nas taxas de juros, argumentando que as contratações de pessoal e os avanços de salários continuam e devem sustentar a economia dos Estados Unidos, enquanto medidas de estímulo via política monetária devem ajudar a manter o crescimento mundial à tona.

    Sua avaliação cautelosa oferece um contraste com o tom otimista de sua mais recente declaração pública, em dezembro, quando Yellen alardeou a decisão do Fed de elevar em 0,25 ponto percentual as taxas de juros de curto prazo como sinal do progresso que a economia dos Estados Unidos havia realizado desde a Grande Recessão.

    De lá para cá, os mercados financeiros registraram um início tórrido de 2016, propelidos pela queda nos preços das commodities, pelos temores quanto ao crescimento da China e à volatilidade na taxa de câmbio do país, e pelas preocupações quanto à capacidade dos bancos centrais para continuar sustentando o crescimento. Os desdobramentos levaram a discussões mais intensas entre os economistas sobre o risco de uma recessão nos Estados Unidos, e deflagraram críticas à decisão do Fed de elevar as taxas de juros, em dezembro.

    Yellen não discutiu explicitamente o que poderia acontecer na próxima reunião do comitê de open market do Fed, mas importantes dirigentes do banco central norte-americano sugeriram claramente que um aumento de juros em março poderia se tornar menos provável - o que sustenta a conclusão a que os mercados financeiros chegaram algum tempo atrás, com as operações futuras indicando que aumentos nos juros norte-americanos não são esperados em 2016.

    Bill Dudley, presidente do Federal Reserve Bank de Nova York, declarou no mês passado que se as condições mais duras persistirem nos mercados até o momento da reunião de março do Fed, elas teriam de ser levadas em consideração.

    O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nos Estados Unidos se desacelerou no quarto trimestre, mas os dados de emprego mais recentes oferecem pouca indicação de que a economia esteja rateando, com o índice de desemprego caindo abaixo dos 5% e mais trabalhadores se sentindo confiantes o bastante quanto ao mercado de trabalho para se demitirem voluntariamente de seus empregos. As principais preocupações derivam de desdobramentos internacionais e nos mercados, entre os quais uma alta de 20% no dólar que pesou muito sobre as exportações.

    Em seu depoimento, Yellen destacou a China como fator central de risco. Indicadores recentes não sugerem uma desaceleração acentuada no crescimento chinês, mas a queda no valor da moeda do país "intensificou a incerteza sobre a política cambial da China e as perspectivas de sua economia", ela declarou.

    Isso, Yellen explicou, intensificou a volatilidade no mercado financeiro e atenuou as expectativas de crescimento mundial, derrubando os preços das commodities e gerando o risco de problemas financeiros nos países dependentes da exportação de commodities. "Se algum desses riscos de baixa se materializar, a atividade no exterior e a demanda por exportações norte-americanas se enfraquecerão, as condições do mercado financeiro podem se apertar ainda mais".

    Com a derrocada nos preços do petróleo, a inflação deve continuar baixa, em curto prazo, acrescentou Yellen. Ela disse que era digno de menção que as expectativas de inflação do mercado estejam perto de sua marca histórica mais baixa; embora os indicadores baseados em pesquisas também registrem baixa, eles se mantêm "razoavelmente estáveis".

    Yellen insistiu, na quarta-feira, que mesmo depois da alta de juros em dezembro, a política monetária dos Estados Unidos continua acomodatícia, e manteve sua visão de que com mexidas graduais nos juros a atividade econômica se expandiria "em ritmo moderado" e o mercado de trabalho continuaria a ganhar força.

    O crescimento nos Estados Unidos também pode exceder as projeções do Fed - especialmente se os baixos preços do petróleo estimularem o consumo acima das expectativas do banco central. Embora a demanda interna tenha se desacelerado no quarto trimestre, continuou a crescer, e quando os preços do petróleo e dos produtos importados pararem de cair, a pressão de baixa sobre a inflação se reduzirá, ela acrescentou.

    Yellen defendeu a alta de juros em dezembro dizendo que o Comitê de Open Market do Fed acreditava que, caso postergasse demais o início da normalização, talvez um aperto abrupto se tornasse necessário, o que poderia lançar a economia a uma recessão. Quanto ao futuro, a política monetária "de forma alguma tem caminho rigidamente definido", e as taxas de juros podem subir mais rápido ou mais devagar que o esperado.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    Edição impressa
    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024