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    Poderosos do setor de petróleo divergem sobre recuperação de preços

    NEIL HUME
    DAVID SHEPPARD
    ANJLI RAVAL
    DO "FINANCIAL TIMES"

    11/02/2016 13h04

    Figuras poderosas do setor petroleiro se posicionaram de forma a rebater os rumores de uma alta nos preços ainda este ano, alertando que o tumulto nos mercados emergentes postergaria qualquer recuperação significativa até no mínimo 2017, levando o preço do petróleo cru a cair abaixo dos US$ 30 uma vez mais, nos Estados Unidos.

    O setor está reunido em Londres para uma grande conferência anual, e uma das maiores corretoras mundiais de petróleo e uma organização de consultoria respeitada acautelaram contra acreditar em que a pior queda de preços em uma geração estivesse chegando ao fim.

    A AIE (Agência Internacional de Energia), que assessora os países industrializados, afirmou que o excedente de produção de petróleo era maior do que se estimava anteriormente e que a recente recuperação de preços era provavelmente "uma falsa alvorada".

    O tom sombrio ajudou a causar nova queda nos preços do petróleo, terça-feira, com o Brent recuando em 6,5%, para US$ 30,78 por barril, e o West Texas Intermediate (WTI) caindo em 4,5%, para US$ 28,34, em operações de final de pregão nos Estados Unidos. Na quarta-feira, o Brent se recuperou e subiu 1,72%, mas o WTI teve nova queda e cedeu 1,75%.

    Enquanto isso, a Vitol, maior corretora independente de petróleo do planeta, afirmava que o "salto" de demanda causado pelos preços mais baixos da gasolina se atenuaria e previu que os estoques de petróleo cru continuariam a se acumular, com a desaceleração do consumo na China e nas economias dependentes de commodities.

    "Não creio que possamos confiar em que os preços baixos impulsionem demanda adicional, a esta altura", disse Christoper Bake, um executivo da Vitol, ao "Financial Times", durante a Semana Internacional do Petróleo. "Todas as economias produtoras de commodities estão sob desgaste".

    As visões da AIE e da Vitol as opõem a alguns dos maiores produtores mundiais de petróleo, entre os quais a BP e a Royal Dutch Shell, que disseram aos seus acionistas que deveriam esperar por uma recuperação de preços este ano como resultado da convergência entre oferta e procura.

    A Vitol, que embarca a cada dia petróleo suficiente para abastecer o Reino Unido, França e Itália combinados, disse que via a demanda mundial caindo a cerca de metade do nível do ano passado, ou um milhão de barris de petróleo a menos por dia, agora que os efeitos dos baixos preços do petróleo sobre o consumo começam a desaparecer.

    A AIE também questionou a suposição de que o mercado sofrerá um aperto no segundo semestre, já que a produção vem resistindo à queda de preços enquanto países produtores como a Argélia e a Venezuela enfrentam imensos deficit orçamentários.

    "Com o mercado já afogado em petróleo, é muito difícil ver como os preços do petróleo poderiam subir significativamente em curto prazo", a agência afirmou em seu relatório mensal, documento que o mercado acompanha atentamente.

    Os preços do petróleo caíram em mais de 70% desde a metade de 2014, atingindo no mês passado os US$ 27 por barril, sua cotação mais baixa em 12 meses, antes de se recuperarem para US$ 35.

    A Vitol disse que o acúmulo de estoques comerciais de petróleo cru e combustíveis refinados se aceleraria nos próximos seis meses, subindo em até 360 milhões de barris, já que a oferta vem superando a procura por entre 1,8 milhão e dois milhões de barris diários.

    Nos últimos dois anos, os estoques subiram em 450 milhões de barris, de acordo com estimativas da Vitol, o que inclui a formação de um estoque estratégico pelo governo chinês. Bake sugeriu que os operadores em breve teriam de transferir mais petróleo para navios petroleiros, já que o equipamento de armazenagem em terra está no limite de sua capacidade para absorver o excedente.

    Os investidores continuam divididos quanto às perspectivas do petróleo. Nas festas relacionadas à Semana Internacional do Petróleo, em hotéis, bares e clubes londrinos nos bairros de Mayfair e Knightsbridge, a maioria dos operadores de petróleo físico continua pessimista quanto aos preços. Muitos deles desfrutaram de resultados fortes dadas as oportunidades ampliadas de negociar surgidas por conta do colapso de preços.

    Números das bolsas de mercadorias mostram que fundos de hedge e outros investidores financeiros criaram uma aposta recorde na recuperação de preços do petróleo Brent, enquanto muitos operadores estão na ponta oposta da transação.

    "A tensão no posicionamento é palpável", disse um veterano operador de petróleo em um grande banco.

    Os delegados dos mais poderosos países do Golfo Pérsico integrantes da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) descartaram em Londres, esta semana, os esforços da Venezuela, outro integrante do cartel, para criar apoio a cortes na produção. Eles dizem continuar esperançosos de que a produção dos países que não integram a organização esteja começando a cair, por efeito dos preços baixos.

    Dieter Helm, professor na Universidade de Oxford, disse em palestra na Semana Internacional do Petróleo que os produtores deveriam continuar se preparando para a possibilidade de que os preços jamais voltem a ultrapassar o nível de US$ 100 por barril que atingiram no início desta década.

    Ele argumentou que o boom no petróleo de xisto betuminoso havia criado um futuro de energia abundante, em longo prazo, em um momento no qual desdobramentos como os carros elétricos provavelmente limitarão a demanda por petróleo.

    "Os executivos de companhias petroleiras predisseram que o preço se estabilizaria a cada parada, nesse percurso de baixa", disse o professor Helm. "E os líderes mundiais cantaram canção parecida".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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