O Deutsche Bank vai recomprar US$ 5,4 bilhões de seus títulos em uma tentativa de reassegurar o mercado quanto à sua força financeira, depois de uma semana na qual suas ações e títulos se viram apanhados em uma pesada onda de vendas de papéis do setor financeiro.

O maior banco da Alemanha anunciou que planejava recomprar títulos sênior não garantidos, denominados em euros e em dólares. O volume planejado é de três bilhões de euros e US$ 2 bilhões em recompras.

As ações do Deutsche Bank subiram em até 8% no pregão europeu da tarde nesta sexta-feira (12), para 14,75 euros, mas ainda registram queda na semana, depois de uma série de loucas oscilações.

O setor bancário europeu mais amplo também mostrou recuperação na sexta-feira. O índice Euro Stoxx de ações bancárias mostrava alta de 2,7%, ainda que o total cumulativo aponte para queda de 8% na semana e 28% até aqui em 2016.

Marcus Schenck, vice-presidente de finanças do Deutsche Bank, afirmou que a recompra, que confirma uma reportagem publicada dias atrás pelo "Financial Times", permitiria que o Deutsche "tirasse vantagem das condições do mercado para recomprar dívidas, reduzindo seu endividamento com preços favoráveis".

"Ao adquirir os títulos de dívida abaixo de seu valor de emissão, o banco realiza lucro. O Deutsche Bank também está usando seu forte perfil financeiro para oferecer liquidez aos investidores em títulos, em meio a condições de mercado desafiadoras", ele disse.

No final de 2015, o Deutsche Bank contava com cerca de 215 bilhões de euros em reservas de liquidez, o que lhe propicia ampla margem para conduzir a recompra.

A decisão do banco representa a maior tentativa do Deutsche Bank de escorar a confiança do mercado em sua saúde financeira, depois de uma onda de vendas de ações e títulos do banco causada por temores de que ele talvez não pudesse manter em dia o pagamento dos cupons de alguns de seus títulos de dívida de maior risco.

Depois que as ações do banco registraram queda de 9,5% na segunda-feira, o Deutsche Bank divulgou um comunicado extemporâneo reassegurando os investidores de que tinha reservas suficientes para pagar os 350 milhões de euros em cupons sobre seus títulos de capital "additional tier 1" (AT1) com vencimento em abril.

E no dia seguinte, o presidente-executivo do banco, John Cryan, reforçou a mensagem divulgando um memorando no qual insiste que o banco é "completamente sólido".

Schenck disse que a recompra de títulos não teria impacto sobre a capacidade do banco para pagar os cupons sobre seus títulos AT1, e tampouco teria impacto sobre seus planos de financiamento para 2016. O Deutsche Bank até agora emitiu quatro bilhões dos 35 bilhões de euros em títulos que pretende colocar em 2016.

Alguns dos títulos sênior não garantidos e AT1 subiram, com a notícia. Um dos títulos sênior não garantidos que consta da oferta de compra de papéis denominados em euros subiu em 0,6, mas continua a ser negociado por 97% de seu valor de face. Um título AT1 de 1,75 bilhão de euros que havia passado por quedas consideráveis este ano registrou alta de 2,6% no pregão da tarde, ainda que esteja sendo negociado por apenas 74% de seu valor de face em euros.

Roberto Henriques, diretor de pesquisa de crédito para o setor financeiro no JPMorgan, disse que o anúncio não era "uma questão de capital", mas um esforço para estabilizar o custo de financiamento do banco.

"Isso ajuda a estabilizar a situação, mas em última análise terá impacto zero sobre os riscos dos títulos AT1", ele afirmou.

Tradução de PAULO MIGLIACCI