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    'Parte da viagem', site Airbnb quer crescer além da hospedagem

    FERNANDA EZABELLA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM VANCOUVER, CANADÁ

    19/02/2016 02h00

    Karime Xavier/Folhapress
    Imóvel no Copan, em São Paulo, que é alugado via sites como Airbnb, Homeaway e Facebook
    Imóvel no Copan, em São Paulo, que é alugado via sites como Airbnb, Homeaway e Facebook

    Dez anos anos atrás, Joe Gebbia convidou um completo desconhecido para dormir na sala de sua casa.

    Apesar de ter passado a noite em claro, preocupado e com a porta do quarto trancada, a experiência o levou mais tarde a criar uma das empresas que mais crescem no Vale do Silício e no mundo, incluindo Brasil, onde o Rio virou seu quarto maior mercado.

    Lançado em 2008, o site Airbnb conecta pessoas em busca de hospedagem com outras que têm espaços para alugar –pode ser um quarto, um imóvel todo ou até barcos e castelos–, cobrando uma taxa de 3% do anfitrião. Hoje, há mais de 1,5 milhão de hospedagens em 34 mil cidades e 190 países. No Brasil, a empresa virou a parceira oficial dos Jogos Olímpicos para "acomodação alternativa".

    Além da expansão global, a empresa quer atacar outras frentes nos próximos anos, indo além da acomodação.

    "Queremos ter mais presença na viagem. Hoje, somos apenas uma parte. Queremos aplicar nosso expertise em design para participar de todo o processo", disse Gebbia à Folha. Ele, no entanto, não detalhou de que forma ocorreria essa expansão.

    "Na Copa do Mundo, percebemos um aumento grande no Rio. Foi a prova de que podemos ajudar cidades a expandir temporariamente a acomodação para eventos assim", disse Gebbia, acrescentando que um em cada cinco estrangeiros que foram à Copa ficaram num Airbnb.

    O próprio executivo de 34 anos, formado em design e com patrimônio avaliado pela "Forbes" em US$ 3 bilhões, ficou num Airbnb quando visitou o país no ano passado.

    "Não fico num hotel faz mais de oito anos", comentou, após dar uma palestra no TED, evento anual que reúne ideias inovadoras.

    POLÊMICAS

    Como em outras empresas da nova economia compartilhada, o Airbnb causa debates em diversas cidades, que tentam regulamentar, banir ou taxar a atividade. Em San Francisco, sede da companhia e onde chegou a ser proibida, anfitriões têm de se registrar na prefeitura e pagar 14% de imposto hoteleiro.

    "Quando as cidades entendem que é bom para sua economia, passam a nos amar", afirmou Gebbia, citando estudos de impacto em Montréal (Canadá), por exemplo, onde hóspedes do site deixaram o equivalente a R$ 157 milhões em gastos como compras, comida e hospedagem em um ano. "Pagar taxas faz parte da vida cívica. Para o Airbnb ganhar, ninguém precisa perder."

    Nem mesmo a tradicional indústria hoteleira parece perder. Apesar de reclamações de hotéis de Nova York, o setor vem há anos apresentando crescimento pelo mundo.

    Gebbia diz que a empresa não irá abrir capital e não comenta lucros. "Estamos focados em crescimento", afirmou. No final de 2015, o site levantou US$ 1,5 bilhão em investimentos.

    ESTRANHO NO NINHO

    O estranho que ficou em sua casa, há mais de dez anos, virou amigo. Ele havia comprado uma obra de arte na venda de garagem de Gebbia, ao passar pela cidade de carro. Os dois começaram a conversar, foram tomar uma cerveja e ele comentou que não tinha onde passar a noite.

    Anos depois, ao lembrar do pânico que teve ao hospedar um desconhecido, Gebbia teve a ideia de alugar sua casa para participantes de uma conferência em San Francisco, ao ouvir que os hotéis estavam lotados. Ele também estava desempregado, e seu aluguel havia subido.

    "Aprendemos desde pequenos que estranhos são perigosos. Mas muitos estranhos são, na verdade, amigos esperando para ser descobertos", disse Gebbia em sua apresentação no TED. "Não inventamos nada de novo. Nossa inovação foi aprender os mecanismos de confiança e criar um design para isso."

    Ele explicou estudos recentes feitos pela Universidade Stanford que mostram que o índice de confiança aumenta quando há publicação de ao menos dez resenhas positivas -hóspedes e anfitriões se avaliam publicamente, e um só pode ver a resenha do outro após escrever a sua ou após 15 dias.

    "Apostamos toda nossa empresa na esperança de que, com o design certo, as pessoas conseguiriam deixar de lado esse preconceito enraizado de que estranhos são sinônimo de perigo", disse. "Não esperávamos que tanta gente estivesse pronta para isso."

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    RAIO-X AIRBNB

    No Brasil

    2 > 3.500 hospedagens

    6 > 60 mil hospedagens

    20 mil

    é o número de hospedagens no Rio de Janeiro, quarto maior mercado, atrás de Paris, Nova York e Londres

    No mundo

    > 1,5 milhão de hospedagens em 191 países em 30 mil cidades

    785 mil

    é o número de que pessoas se hospedam ou recebem alguém pelo site todos os dias

    US$ 25 bi

    é em quanto o Airbnb está avaliado, segundo a "Forbes"

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