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    Frete de contêiner da China é mais barato que motoboy de SP para Campinas

    DIMMI AMORA
    DE BRASÍLIA

    19/02/2016 12h27

    Eugene Hoshiko/Associated Press
    ORG XMIT: 581001_1.tif Vista de contêineres empilhados em porto de Xangai, na China. Piles of containers at Waigaoqiao Container Port are seen Tuesday March 3, 2009 in Shanghai, China. China's leaders have voiced concern that the world economic crisis, which has hit its export industries hard, could spark instability, with some laid-off workers already taking to the streets to demand jobs and benefits. (AP Photo/Eugene Hoshiko)
    Vista de contêineres empilhados em porto de Xangai, na China

    Por R$ 300 não dá para pagar o serviço de um motoboy para ir e voltar dos aeroportos de Campinas e Guarulhos (SP) ou mandar uma caixa de Sedex de Brasília a São Paulo.

    Mas é dinheiro suficiente para pagar o frete de um contêiner com 20 toneladas de produtos da China para o Brasil.

    O valor do frete marítimo de contêineres entre a Ásia e o Brasil está até 85% mais baixo que o de 2014. É o menor da história da navegação entre os país, segundo o maior operador de navios no país, a Maersk.

    O preço de US$ 75 dólares apurado pela Folha junto a operadores portuários para trazer um contêiner de 40 pés de Hong Kong para o porto de Santos (SP), o maior do Brasil, equivale a menos de 10% do custo para trazer o mesmo equipamento de Miami, nos EUA, local bem mais próximo.

    Também é mais baixo que enviar por Sedex, serviço de entrega do Correios, uma caixa cúbica de 60 centímetros, com três quilos dentro, de São Paulo a Brasília (R$ 337, segundo o site da empresa). Um frete por caminhão de São Paulo a Brasília de uma carga de 50 quilos também pode ser obtido preço mais baixo em sites da internet (R$ 786). Para um motoboy levar um documento entre o aeroporto de Guarulhos e de Campinas, o preço do frete vai a R$ 424.

    REDUÇÃO

    O frete não é o único custo para quem traz o contêiner. A empresa ainda tem que pagar outros valores, como movimentação e estocagem. Nesse tipo de caixa, em geral chegam produtos de maior valor, como peças para carros, eletrônicos entre outros.

    O preço baixo é gerado por uma distorção no mercado. As companhias de navegação aumentaram a capacidade dos navios que fazem linhas entre a Ásia e com o Mercosul, apostando no aumento do fluxo de comércio entre as duas regiões, registrado a partir da década passada. Mas a brusca queda de demanda nos países do bloco sulamericano por importados gerou uma gigantesca ociosidade nos navios, levando à redução drástica dos preços.

    Em 2015, houve redução de 9,4% na importação por contêineres no país, segundo os dados da Secretaria de Portos. O movimento caiu de 48 milhões de toneladas para 43,5 milhões. O movimento total de cargas nos portos cresceu 4% em relação a 2014, alcançando um bilhão de toneladas pela primeira vez, puxado pela exportação de minério e produtos agrícolas de baixo valor (soja e milho).

    As perspectivas só pioram. A balança comercial de janeiro de 2016 mostrou queda de 26% no valor de importações chinesas em comparação ao mesmo mês de 2015. No Porto de Santos, segundo dados da Abtra (Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados), o número de contêineres importados caiu mais de 20%, de 65,8 mil para 51,9 mil, na comparação entre janeiro de 2014 e de 2016.

    Se por um lado o preço baixo do frete é bom para quem traz produtos de fora, por outro é um risco para quando o país voltar a crescer. Mais linhas de navios podem ser retiradas, o que já ocorreu em 2015, devido à baixa rentabilidade.

    REESTRUTURAÇÃO

    Por causa da demanda mais baixa, a Maersk anunciou nesta quarta-feira (17) a unificação de suas operações na região do Mercosul no Brasil (antes havia diretorias na Argentina e Uruguai). Um dos navios que fazia linhas para a Ásia deixará de circular aqui e a empresa vai compartilhar a carga de seus clientes com embarcações de outras companhias.

    O novo diretor regional da empresa no Mercosul, o panamenho Antonio Dominguez, afirmou que a reestruturação não afetará os clientes no país. Segundo ele, o problema de queda de demanda ocorre em todo o mundo, o que tem levado a uma redução de preço de frete de cerca de 25%, mas que a situação aqui é ainda pior.

    "Está ficando insustentável", afirmou o diretor lembrando que ainda assim a companhia mantém seus investimento, como a compra de 30 mil novos contêineres refrigerados, equivalente a 12% da frota, para atender principalmente as exportações brasileiras de carnes.

    A saída de material em contêiner do Brasil, de fato, aumentou no ano passado, ajudada pela desvalorização do real. O país aumentou em 7% as exportações por contêineres. Os preços para levar o contêiner do Brasil para a China está em US$ 1.250 dólares (R$ 5 mil), quase 20 vezes mais do que para trazer.

    Boa parte do aumento de demanda da exportação foi agregado com a inclusão de produtos que antes eram levados soltos nos navios, como celulose, em contêineres para aproveitar o baixo preço do frete dos navios específicos para transportar contêiner.

    Para o diretor da Maersk, o ideal seria o país aproveitar o atual momento de baixa para investir em redução da burocracia no comércio exterior e na melhoria da infraestrutura para preparar os portos para receber navios maiores.

    Em toda a América Latina, a empresa opera com navios com 30% mais capacidade que os maiores veículos que podem entrar nos portos brasileiros. Quanto maior a capacidade, menor o custo do frete.

    ALGUNS NÚMEROS

    Frete para importação de contêiner de 40 pés:
    Hong Kong x Santos: US$ 75
    Hamburgo x Santos: US$ 570
    Miami x Santos: US$ 840

    Frete para exportação de contêiner de 40 pés:
    Santos x Hong Kong: US$ 1.250
    Santos x Hamburgo: US$ 570
    Santos x Miami: US$ 1.340

    Fretes no Brasil*:
    Sedex Brasília x São Paulo: R$ 337
    Motoboy aeroporto de Guarulhos x aeroporto de Campinas: R$ 424
    Caminhão Brasília x São Paulo: R$ 786

    *Sedex caixa cúbica de 60 cm com 3 kg, Motoboy ida e volta e Caminhão com carga de 50 kg em 10 caixas

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