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    Água, minerais, lítio e carbono viram estrelas no novo ciclo de commodities

    TATIANA FREITAS
    DE SÃO PAULO

    28/02/2016 02h00

    Mauro Zafalon/Folhapress
    Água oriunda dos Andes é armazenada e usada na produção de uvas na Argentina
    Água oriunda dos Andes é armazenada e usada na produção de uvas na Argentina

    Aquecimento global, estiagens frequentes e oferta limitada do recurso natural estão transformando a água em commodity. Em alguns países, ela é negociada como tal.

    Na Austrália, país agrícola onde o clima é seco, já existe negociação de contratos futuros de água, assim como acontece com petróleo ou soja.

    Na plataforma Waterfind, uma pessoa compra água para entrega em uma data futura e pode optar por receber o ativo ou vender o contrato antes do vencimento.

    A possibilidade de não receber o ativo que lastreia o contrato —nesse caso títulos que garantem o acesso à água— incentiva a entrada de especuladores no mercado, o que gera um debate sobre a "commoditização" da água.

    O temor é que o recurso fique nas mãos de investidores e cada vez mais caro. Por outro lado, há o argumento de que mercados organizados podem estimular melhor uso da água e mais investimento.

    Mas especialistas apontam dificuldades em tornar a água uma commodity global, como diferenças na precificação e na regulação entre os países.

    Conhecido por ser o primeiro investidor a descobrir a bolha do mercado de hipotecas dos EUA —e apostar contra ela—, Michael Burry, um dos protagonistas do filme "A Grande Aposta", decidiu investir em água após ganhar milhões com a crise.

    Mas ele não está na Bolsa australiana. Para Burry, a melhor forma de apostar na água é investir na produção de alimentos em regiões onde esse recurso é abundante.

    LÍTIO, A NOVA GASOLINA

    Quase todo aparelho eletrônico tem baterias de lítio, também usado em vidros, cerâmicas e lubrificantes. Mas é no mundo tecnológico que o elemento químico encontra forte aumento de demanda.

    Batizado de "nova gasolina" pelo banco Goldman Sachs, o lítio é peça-chave na revolução dos carros elétricos e pode substituir a gasolina como principal combustível, à medida que os custos das baterias caiam e tornem esses veículos mais atrativos economicamente.

    Para o banco, a demanda por lítio para uso em carros elétricos deve crescer mais de 11 vezes até 2025 -as baterias desses veículos contêm entre 40 e 80 quilos de lítio.

    Eduardo Anizelli/Folhapress
    Lítio é peça-chave na revolução dos carros elétricos
    Lítio é peça-chave na revolução dos carros elétricos

    Empresas como a Tesla também apostam em baterias fixas de lítio para armazenar energia renovável para residências e empresas.

    Os preços refletem o mercado agitado: a tonelada de carbonato de lítio subiu mais de 130% nos últimos 12 meses na China, o que faz mineradoras tradicionais se movimentarem em busca da nova commodity. A Rio Tinto se prepara para desenvolver uma mina na Sérvia, e a sul-coreana Posco vai extrair e processar lítio na Argentina.

    CARBONO, AINDA O MERCADO DO FUTURO

    Regiões que representam quase um quarto das emissões globais de gases de efeito estufa já colocam um preço no carbono.

    Desde 2012, o número de instrumentos de precificação de carbono existentes ou em processo de implementação quase dobrou.

    Títulos de créditos de carbono são negociados há anos em algumas das maiores Bolsas do mundo, como a ICE, em Nova York, e a de Londres. Eles dão ao comprador o direito de emitir mais carbono do que sua meta permite. O estágio atual desse mercado, no entanto, está aquém do esperado.

    Reuters
    Chaminés em indústria na China
    Chaminés em indústria na China

    Segundo o Banco Mundial, a maioria dos títulos emitidos atualmente tem valor menor de US$ 10 por tonelada de CO₂ equivalente, abaixo do necessário para alcançar a meta de limitar em 2ºC o aumento da temperatura mundial neste século.

    Mas o desenvolvimento frustrante das negociações de créditos de carbono não retira o CO₂ da lista de candidatos a commodity do futuro. Para Mariana Nicolletti, pesquisadora do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV, negociar títulos de carbono é a forma mais eficiente para os países alcançarem as suas metas de redução de emissões -melhor que pagar multa, por exemplo. A aposta continua.

    TERRAS-RARAS, NO SEU DIA A DIA

    Dezessete elementos da tabela periódica formam o grupo de minerais conhecido como terras-raras -que são raros só no nome.

    "São mais abundantes do que o cobre e o ouro", afirma Romualdo Andrade, do Departamento Nacional de Produção Mineral. São chamados assim por causa da dificuldade na separação desses elementos.

    Os minerais de terras-raras tornaram-se essenciais na vida moderna, devido à sua alta capacidade magnética. O coração de uma turbina eólica, por exemplo, é feito de neodímio, um dos elementos do grupo. Sem ele, os smartphones não seriam capazes de vibrar. Na ausência do európio, telas de celulares, TVs e computadores também não teriam tantas cores e definição.

    Michaela Rehle/Reuters
    Smartphone, que tem terras-raras em sua composição
    Smartphone, que tem terras-raras em sua composição

    Por estarem mais presentes no dia a dia, as terras-raras têm demanda crescente.

    A China domina esse mercado, inclusive os preços, ao responder por 90% da produção. Mas o Brasil, com a segunda maior reserva mundial, dá os primeiros passos.

    A CBMM, detentora dos direitos de exploração de terras-raras no Brasil, avança na exploração. Neste mês, produziu pela primeira vez o didímio, metal feito a partir da mistura de dois desses elementos, usado na fabricação de superímãs.

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