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    Inserção global do Brasil passa por solução de entraves econômicos

    MARIANA CARNEIRO
    DE SÃO PAULO

    01/02/2016 07h00

    Não serão os acordos comerciais, mas a derrubada de entraves econômicos e até sociais que levarão o Brasil a uma inserção "competitiva" ou "inovadora" no mundo.

    O ex-ministro e professor da FGV-SP Luiz Carlos Bresser-Pereira e o economista Mariano Laplane, do CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos) debateram, na série Diálogos, iniciativa da Folha em parceria com o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) formas de fazer com que o país jogue um papel mais relevante na economia global.

    Para Bresser-Pereira, o Brasil optou por uma inserção "subordinada" ou "passiva" ao adotar, nos últimos anos, ao adotar uma taxa de câmbio excessivamente valorizada, que prejudicou a indústria de produtos tecnologicamente mais sofisticados.

    Em troca de conter a inflação por meio de um dólar mais barato, abraçou-se a poupança externa, mas os investimentos não vieram e o país, desindustrializou-se.

    O resultado visível é que a indústria, que já representou 25% do PIB, hoje responde por 9% da geração de riquezas do país. O crescimento estagnou e o desequilíbrio externo acentuou-se, desaguando na crise atual.

    "A ideia liberal é que o Brasil é um país fechado e, quando fizer sua abertura, será um país próspero e maravilhoso. É um equívoco monumental", disse Bresser-Pereira.

    Para ele, a raiz do problema está na taxa de câmbio ou, simplificando, no valor dos bens vis a vis os produzidos no exterior. Se a taxa de câmbio está muito valorizada, desestimula-se a produção e os investimentos.

    "A taxa de câmbio é o interruptor que liga ou desliga as empresas do mercado internacional", afirma. "Se ela [taxa de câmbio] for apreciada, ele vai decidir não investir. Fará as contas e perceberá rapidamente que é muito mais fácil e rápido importar".

    Sua ideia é adotar uma política cambial ativa -hoje o câmbio é função da atuação do governo na área monetária (juros) e na área fiscal (gastos públicos). O que daria mais condições de competir às empresas.

    "O México fez tantos acordos comerciais e sua economia está um desastre, como a do Brasil", acrescentou.

    Para Mariano Laplane, uma inserção internacional brasileira "inovadora" passa pelo convencimento das elites política e econômica de que o país precisa mudar para se adaptar a um novo mundo que emerge da urbanização asiática e do aquecimento global.

    "O envelhecimento da população já está ocorrendo em países da Europa e no Japão, no Brasil está com data marcada. Grandes transformações demográficas marcarão a economia internacional", disse.

    Segundo ele, as elites optaram um modelo de inserção adaptativa, que implica menos mudanças, mas que não funciona. É preciso, em sua visão, "reformas profundas na estrutura da nossa economia".

    "A estratégia adaptativa não nos permitirá atender às expectativas de uma parte importante da população, continuar o processo de redução das desigualdades e não nos dará uma taxa de crescimento adequada para reduzir as brechas [tecnológicas] entre os setores produtivos do Brasil e os do mundo desenvolvido".

    Segundo ele, é preciso enfrentar problemas como "uma estrutura tributária estupidamente regressiva, que cria desigualdade em vez de reduzi-la" e "uma carga tributária que recai basicamente sobre assalariados e empresas".

    "Não adianta recorrer ao pensamento mágico e dizer que a solução está na esquina, que é só fazer acordos internacionais e abrir a economia. Isso não vai resolver. Melhorar nossa pauta de exportações exige um esforço enorme em inovação de recursos públicos e privados", afirmou.

    Para Laplane, a saída é apostar em cadeias de produção próprias em áreas em que o Brasil é competitivo, como na geração de energia por meio de biomassa, eólica e no aprimoramento dos setores de commodities.

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