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    Crise política enxerta 'gordura' no dólar, dizem economistas

    MARIANA CARNEIRO
    DE SÃO PAULO

    07/03/2016 02h00

    Marcos Santos/USP Imagens
    Balança comercial tem maior resultado para primeiro semestre em três anos - fotos publicas dolar
    A queda do dólar mostrou que a atual cotação da divisa também indica o momento político do país

    A queda acentuada do dólar na semana passada evidenciou que boa parte da atual cotação da moeda se deve à turbulência política, que amplifica as incertezas e incentiva a compra defensiva de divisa estrangeira.

    Para economistas ouvidos pela Folha, a cotação do dólar, descontada a crise política, poderia valer hoje entre R$ 3 e R$ 3,50.

    Uma evidência disso foi o declínio da cotação observado na semana passada.

    As notícias de que a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula poderiam ter agido para brecar a Lava Jato alimentaram especulações de que a presidente pode perder o cargo –o que é visto como um sinal de fim da crise para boa parte do mercado.

    As operações de venda de dólar foram acionadas e a moeda norte-americana recuou, apenas na quinta e na sexta-feira, mais de 4%, para os atuais R$ 3,73.

    Dólar - Variação da moeda em 2016

    Segundo o ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Estudos Internacionais da FGV, Carlos Langoni, se dependesse só dos dados mais recentes do setor externo brasileiro, o dólar deveria estar bem mais baixo.

    Ele enumera as reservas internacionais, ao redor de US$ 372 bilhões, e um deficit em operações no exterior em franco encolhimento –reduziu-se do equivalente a 4,4% do PIB em janeiro de 2015 para 2,9% no início deste ano.

    "Olhando as contas externas, a taxa de câmbio não é R$ 4, está mais para R$ 3, R$ 3,50. O resto é puro ruído político", afirma.

    É verdade que o dólar também está recebendo uma mãozinha do exterior em sua recente trajetória de baixa.

    As commodities, como o minério de ferro, voltaram a subir e o CDS (seguro contra calote) do Brasil, com vencimento em cinco anos, recuou 8% neste mês, apesar dos rebaixamentos pelas agências de classificação de risco.

    Economistas têm apontado uma forte correlação entre o comportamento deste índice e o dólar no Brasil.

    POR QUANTO TEMPO?

    Quanto tempo vai durar a onda de baixa? Segundo analistas, é difícil prever, dada a incerteza sobre o desenrolar da crise política.

    "Pode acontecer de o dólar voltar a R$ 4 quando o mercado perceber que a saída de Dilma ainda não é algo que está pactuado ou que sua saída não signifique necessariamente melhora do ambiente político", afirma André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual.

    Ele observou que as taxas de juros de longo prazo do Brasil despencaram na última semana, na esteira da leitura otimista, na visão do mercado, sobre o recente inferno da presidente.

    "O mercado está colocando no preço não apenas a saída de Dilma mas também a impossibilidade de Lula ser candidato em 2018..

    Para o professor da PUC-Rio e sócio da gestora Opus Investimentos, José Márcio Camargo, existe o risco de que, encurralada, a presidente Dilma opte por medidas que podem ser negativas para a economia brasileira, seguindo propostas feitas pelo PT –como a redução forçada da taxa de juros, apesar da alta inflação, e o aumento dos gastos do governo.

    "Quanto maior a probabilidade de Dilma cair, maior será a probabilidade de o governo entrar nesse caminho."

    Esse cenário poderia provocar uma nova escalada do dólar, dos juros e uma queda da Bolsa. "Se houver o processo de impeachment e se ele não for rápido, haverá incertezas que podem fazer o dólar subir até ficar claro que Dilma sairá", diz Camargo.

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