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    Demanda mais fraca começa a dar sinais sobre a inflação, diz IBGE

    BRUNO VILLAS BÔAS
    DO RIO

    09/03/2016 11h54

    Marcelo Camargo/ABr
    Inflação começa a dar primeiros sinais de perda de fôlego por causa de demanda mais fraca
    Inflação começa a dar primeiros sinais de perda de fôlego por causa de demanda mais fraca

    O custo de vida permanece elevado após a série de reajustes de preços controlados pelo governo (energia, gasolina, transportes) no ano passado, mas a inflação começa a dar os primeiros sinais de perda de fôlego por causa de uma demanda mais fraca.

    Esta é a avaliação da coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, que menciona exemplos tão variados como mensalidades escolares, alimentação fora de casa, passagens aéreas e, até mesmo, motéis.

    "Talvez seja o primeiro mês em que podemos evidenciar esse comportamento da demanda se refletindo nos preços. É um movimento inicial e que não é ainda generalizado, até porque o câmbio e impostos afetaram outros preços no mês", disse Eulina.

    Os preços do item "cursos regulares —que inclui desde a creche até a pós-graduação— avançaram em média 7,43% no mês. Como o IPCA de 2015 foi superior a 10%, seria um sinal de que escolas e faculdades tiveram dificuldade de repassar a inflação. Em fevereiro, a inflação desacelerou para 0,90%. Em 12 meses, avança 10,36%.

    Inflação - Variação do IPCA, em %

    "O repasse ficou no mesmo nível dos anos anteriores, apesar de a inflação ter sido de 10% no ano passado. Isso mostra uma certa dificuldade, uma certa cautela para repassar os preços. Vimos até pontualmente algumas reduções", disse Eulina.

    Isso seria fruto da pressão dos pais por um menor reajuste da mensalidade num momento de crise econômica, o que tem afetado o emprego e a renda. Os pais estariam trocando filhos de escolas particulares para a pública e se mudando para cidades menores.

    Para a coordenadora de índices de preço, a menor demanda também estaria por trás do menor fôlego dos preços da "alimentação fora do domicílio", como restaurantes e bares, que passou de 1,12% em janeiro para 0,64% fevereiro.

    Mesmo os produtos alimentícios teriam sentido esse efeito, como no caso das carnes. Os preços das carnes perderam fôlego de janeiro (1,06%) para fevereiro (0,68%). O grupo alimentação e bebidas também desacelerou na passagem dos meses, para 1,06%.

    Inflação - Por grupos, em %

    Em todos esses casos, claro, se trata apenas de uma alta menor dos preços, que, portanto, continuaram subindo. Um caso em que houve efetivamente deflação (queda de preços) foi em passagens áreas: redução de 15,83% em fevereiro.

    "Como a demanda ficou menor, as companhias áreas estão fazendo muitas promoções, o que reduz os preços", disse a coordenadora de índices de preços do IBGE, em entrevista após a divulgação do IPCA de fevereiro.

    Ao explicar sua decisão de manter os juros básicos (Selic) estáveis em 14,25% ao ano, o BC (Banco Central) tem indicado que a recessão econômica deve conduzir os preços para um patamar mais próximo do centro da meta.

    FUTURO

    Os efeitos são ainda pontuais. Na média, os economistas de instituições financeiras e consultorias consultados pelo Boletim Focus, do Banco Central, preveem o IPCA de 7,59% ao fim deste ano e de 6% ao ano fim do ano que vem.

    Esse IPCA projetado para 2016 é até menor que o registrado no ano passado (10,67%), mas ainda assim alto e acima da meta de inflação do governo, de 4,5% para este ano, com margem de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

    Para a Rosenberg Associados, o "esfriamento" a inflação deve esbarrar nos preços ainda elevados dos alimentos, fruto do aumento do dólar e dos efeitos climáticos. Os preços dos serviços, por sua vez, serão afetados pelo reajuste do salário mínimo.

    Inflação nas regiões - Em %

    Para a consultoria, o IPCA deve terminar este ano em 8%, segundo ano seguido de estouro do teto do regime de metas de inflação.

    Para o Goldman Sachs, o atual nível de difusão mostra que a pressão sobre os preços permanece espalhada e intensa. Em relatório do banco, o economista Alberto Ramos prevê que a desvalorização do real e a inércia de preços vão manter a inflação sob pressão este ano.

    Em relatório, o banco cita que, apesar da desaceleração do IPCA de janeiro (1,27%) para fevereiro (0,90%), 77,2% dos produtos e serviços acompanhados pelo IBGE que tiveram aumento de preços. Em janeiro, esse indicador era de 77,5%.

    O banco Bradesco acredita que o IPCA deve continuar desacelerando nos próximos meses, com a menor pressão dos preços de alimentos. O banco prevê a inflação a 6,90% ao fim deste ano, ainda acima do teto da meta de inflação do governo, de 6,50% ao ano.

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