• Mercado

    Tuesday, 07-May-2024 01:19:14 -03

    Crise econômica brasileira chega à paraguaia Ciudad del Este

    LUCIANA DYNIEWICZ
    DE BUENOS AIRES

    13/03/2016 02h00

    Os impactos da desvalorização do real e da crise brasileira chegaram ao vizinho Paraguai. Um dos maiores centros comerciais de importados do Mercosul, Ciudad del Este fechou mil pontos de venda no ano passado e demitiu 10 mil trabalhadores –parte deles brasileira.

    Localizado na fronteira com Foz do Iguaçu (PR), o município paraguaio tinha até o início de 2015 cerca de 5.000 lojas, segundo estimativa da câmara de comércio e serviços da cidade.

    A redução de 20% em um ano no número de estabelecimentos é decorrente, sobretudo, da valorização do dólar, que passou de R$ 2,70 no início de janeiro do ano passado para R$ 4,03 no mesmo período deste ano.

    Como quase todos os produtos comercializados em Ciudad del Este são importados, eles ficaram mais caros para os brasileiros durante o ano passado.

    Historicamente, os itens na região eram 30% mais baratos que os vendidos no Brasil. Além de os impostos paraguaios serem inferiores, o fato de as lojas serem importadoras também favorece os preços do outro lado da fronteira –os produtos não passam por uma rede de distribuição antes de chegar à mão do consumidor final.

    A crise econômica, que, com a inflação e as demissões, reduziu o poder de compra dos brasileiros, deixou ainda mais fragilizada a situação de Ciudad del Este.

    GRIPE

    "Estamos totalmente conectados com a economia do Brasil. Uma gripe lá se transforma em um câncer aqui", afirma Mohamed Mannah, presidente da câmara de comércio local.

    A proporção do impacto dos problemas econômicos brasileiros no município se explica pelo fluxo de consumidores. Em 2014, 76 mil pessoas atravessaram a fronteira diariamente, segundo a Receita. Os dados de 2015 ainda não foram concluídos, mas o órgão informa que houve uma redução considerável.

    Os brasileiros correspondiam, até o fim de 2013, a 95% dos clientes das lojas paraguaias. Hoje, essa participação não passa de 80%.

    Mannah calcula que as vendas caíram em média 70% no município. Em dezembro, houve melhora com as compras de bebidas e com o turismo em Foz do Iguaçu –os hotéis da região aumentam o fluxo de visitantes com a venda de pacotes fechados para o Réveillon.

    Em janeiro, no entanto, a situação voltou a se deteriorar. Juan Ramirez, que tem uma loja de eletrônicos, registrou recuo de 50% no seu faturamento nos últimos 12 meses e dispensou três funcionários. "Já estávamos com a equipe enxuta. Agora, temos 21 empregados."

    Nas duas lojas do presidente da câmara de comércio, as demissões atingiram 14% do quadro de funcionários. Atualmente, a empresa trabalha com 276 empregados.

    Dados da Receita Federal também indicam a retração no comércio da cidade. As apreensões de produtos que cruzam a fronteira sem terem os impostos pagos diminuíram 29,5% em 2015 na comparação com o ano anterior.

    A auditora fiscal Giovana Longo diz que houve aumento nas operações de combate ao contrabando na região e uma migração do crime para Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A crise brasileira atrelada à desvalorização do real foi, no entanto, o principal responsável pela diminuição nas apreensões, segundo a auditora. "Os importados deixaram de ser atraentes."

    SACOLA VAZIA - Caem as apreensões de produtos que cruzam a fronteira entre Brasil e Paraguai sem terem os impostos pagos<br><br><b>Valor das mercadorias apreendidas em Foz do Iguaçu, em US$ milhões</b>

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024