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    Otimismo na economia com impeachment de Dilma perde força

    MARIANA CARNEIRO
    DE SÃO PAULO

    16/03/2016 02h00

    A possibilidade de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assuma um ministério reduziu o otimismo dos investidores com a probabilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

    Com Lula, o governo Dilma tende a ganhar sobrevida, disseram à Folha operadores e gestores de investimentos. Isso provocou uma alta do dólar e juros nos últimos dois dias, e a queda da Bolsa.

    Só nesta terça (15), a moeda americana à vista subiu 3,76%, voltando a R$ 3,75 –no comercial, fechou a R$ 3,78. O Ibovespa caiu 3,56%.

    Dólar - Variação da moeda em 2016

    A opinião corrente no mercado financeiro é que, com Dilma, não sairão as reformas necessárias para adequar as contas do governo a uma nova realidade de menos receitas. E, sem essa correção, os empresários não retomarão a confiança para voltar a produzir e investir.

    Sem uma confirmação oficial sobre a participação de Lula, os investidores especularam também sobre uma eventual mudança na política econômica, caso ele assuma um cargo em Brasília.

    Uma guinada à esquerda, ventilada desde o discurso de Lula na sede do PT, há duas semanas, após depoimento à Polícia Federal, passou a ser cogitada após o chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, defender o uso das reservas internacionais do BC para abater parte da dívida pública e reativar a economia.

    Considerada arriscada em meio à uma crise de credibilidade, a estratégia poderia provocar uma debandada de investidores estrangeiros. E poderia ainda abrir uma brecha para novas pedaladas (leia reportagem abaixo).

    O resultado à vista seria um aumento dos gastos públicos em um momento em que o governo já está com a corda no pescoço.

    A projeção é que a dívida pública bruta, hoje equivalente a 66% do PIB, chegue ao fim de 2017 perto de 80% do PIB, nível muito elevado para países em desenvolvimento, como o Brasil.

    "Aquele otimismo que existia com a aproximação de uma mudança de governo diminuiu com a entrada de Lula em cena, independentemente do que ele possa fazer", diz o economista-chefe do banco ABC, Luis Otávio Leal.

    Há uma semana, quando a cotação do dólar encostou em R$ 3,60, a aposta majoritária era que Dilma deixaria o cargo. E as manifestações do fim de semana passado engrossaram as previsões de um desfecho precoce do atual governo. Tudo mudou desde a possível adesão de Lula.

    Os movimentos, entretanto, só não foram mais bruscos –de alta do dólar e queda da Bolsa– porque ainda há dúvidas sobre que papel Lula eventualmente desempenhará no governo Dilma.

    "O mercado agora coloca uma interrogação sobre qual Lula deverá assumir: o de antes ou o de depois da 'Carta ao Povo Brasileiro' [documento elaborado pelo petista antes de sua primeira eleição, em 2002, em que se comprometeu com o pagamento da dívida externa]?", diz Leal.

    Lula tem a seu favor um histórico de medidas pró-mercado, tomadas em seu primeiro mandato. E é considerado o único capaz de conter a insatisfação do PT com medidas de ajuste fiscal.

    A sobrevivência do governo Dilma e uma eventual guinada à esquerda de Lula, entretanto, não foi totalmente absorvida pelo mercado. Para gestores, o dólar superaria R$ 4 rapidamente em caso de medidas que representem aumentos dos gastos públicos.

    "O relevante para os investidores agora é se Dilma fica ou não", afirma Tiago Berriel, da gestora Pacífico. "A sobrevida de seu governo pode representar um caminho longo de alta do dólar."

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