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    o impeachment

    Queda da presidente Dilma será inevitável, afirma ex-apoiador do PT

    JOANA CUNHA
    DE SÃO PAULO

    17/03/2016 02h00

    Moacyr Lopes Junior/Folhapress
    Lawrence Pih, presidente do Grupo Pacífico, durante entrevista à Folha em São Paulo
    Lawrence Pih, presidente do Grupo Pacífico, durante entrevista à Folha em São Paulo

    A tentativa do PT de salvar o governo com o retorno do ex-presidente Lula está fadada ao fracasso e o afastamento da presidente Dilma Rousseff será inevitável. As palavras são de Lawrence Pih, um dos primeiros empresários a apoiar o PT na década de 1980.

    "O próximo governo terá enorme desafio, e o PMDB não está à altura. Sem a cartada Lula já era difícil a situação. Com ela, o custo para o país será maior ainda", diz.

    Pih estima que a influência da presença de Lula dará uma "falsa sensação de alívio" no curto prazo.

    *

    Folha - O que o sr. espera da economia com a volta de Lula?

    Lawrence Pih - Lula já havia sinalizado que deseja ver uma guinada na direção da política econômica com o objetivo de estancar a queda do PIB e o desemprego.

    Aumento de crédito, aumento de gasto em investimento público e queda de juros são parte do pacote de políticas que o primeiro ministro Lula deve perseguir.

    Também arquivará as necessárias e urgentes reformas econômicas, a começar pela da Previdência.

    As consequências serão sentidas a médio e longo prazo. A curto prazo, anabolizará a economia dando uma falsa sensação de alívio.

    E a equipe econômica deve mudar para acomodar essa nova política.

    A presidente fica diminuída?

    A presidente já há muito não governa.

    Com a entrada do primeiro ministro Lula ela efetivamente renúncia ao cargo e se torna figura decorativa.

    Se sair Tombini, o que ocorrerá com inflação e juros?

    Tombini sempre se curvou às diretrizes da Dilma. No segundo mandato dela, ele adquiriu um pouco mais de autonomia.

    Pelo fato de ele ter sido mais ortodoxo neste segundo mandato de Dilma, o afastamento dele será sentido. A inflação será mais pressionada devido à provável queda de juros, ao aumento de crédito e gastos públicos e uma maior desvalorização do real.

    Não há dúvida de que os juros terão de subir muito mais no futuro devido ao aumento da inflação. Será um ganho efêmero com um custo muito mais alto no futuro.

    Faz sentido vender reservas?

    As reservas internacionais são um seguro contra uma fuga de capital e um defensor da nossa moeda. A venda de parte significativa das reservas de mais de US$ 370 bilhões pode causar desvalorização descontrolada do real. As vendas de swap cambial já comprometeram parte das reservas. O risco é enorme.

    O sr. tem dito que está se formando um novo modelo político no país. A vinda de Lula caminha nesse sentido?

    A sociedade brasileira está em curso para desconstruir o projeto socialista do PT. Esse caminho é irreversível.

    Independentemente de Lula estar ou não no governo, essa desconstrução do projeto socialista continuará. Lula não será capaz de reverter este processo pois a sociedade brasileira se conscientizou de que é um modelo falido em todos os países que por ele optou.

    Qual deve ser o destino do ministro Nelson Barbosa?

    Apesar de ser um dos mais importantes formuladores da nova matriz econômica, hoje, Barbosa é uma versão light de Joaquim Levy. Ele começou a entender melhor como funcionam os mercados. Com essa nova roupagem, ele certamente entrará em colisão com o projeto econômico Lula. Não vejo sua permanência na Fazenda por muito tempo.

    Como o investidor avalia?

    Os investidores vão aguardar o desfecho do processo de afastamento da presidente, que, ao meu ver, é uma questão de tempo. Agora, cumpre atentar para quem ou que grupo assumirá o comando do país. Se for o PMDB, um partido fisiológico, ideológico, aético e amoral, com quase toda liderança comprometida com questões do Lava Jato, as incertezas permanecerão. O PMDB foi e é sócio sênior do governo Dilma. O modelo econômico da Dilma teve apoio do partido sócio. Agora vem ele propor "uma ponte para o futuro", que é diametralmente oposta ao modelo implementado pelo governo Dilma. O cinismo é de estarrecer.

    É o momento de frear o discurso do ajuste e adotar o de dar fôlego para a economia?

    O PT sempre esteve errado. A economia ia razoavelmente bem por questões externas, como o boom dos preços de commodities e também a expansão extraordinária do crédito. Não foi mérito do PT. O PT simplesmente teve a felicidade de ser governo num período de bonança mundial. Hoje não é uma questão de dar fôlego para a economia e, sim, fazer a lição de casa para criar condições para um crescimento sustentável de médio e longo prazo.

    Para que isso ocorra, há necessidade de profundas reformas estruturais que irão eliminar privilégios enraizados em amplos segmentos da nossa sociedade.

    Se essa cartada Lula fracassar, para onde vai o país?

    O fracasso da cartada de Lula está fadado. O afastamento da Dilma é inevitável. O próximo governo terá enorme desafio e o PMDB certamente não está à altura. Sem a cartada Lula já era difícil a situação. Com ela, o custo para o país será maior ainda. É uma situação melancólica.

    -

    RAIO-X LAWRENCE PIH, 73

    CARGO

    Presidente do Grupo Pacífico

    FORMAÇÃO

    > Graduado em filosofia pelo Lafayette College (Estados Unidos).

    > Mestre em filosofia pelo Four-College PhD Program, pela University of Massachusetts

    LIVRO

    Autor de "Réquiem para um Capitalismo em Agonia"

    Edição impressa
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