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    Moradores de Altamira temem viver desastre similar ao de Mariana

    EDUARDO GERAQUE
    ENVIADO ESPECIAL A ALTAMIRA

    20/03/2016 02h00

    Em uma noite de janeiro, tocou o telefone na venda de Otávio Cardoso Juruna, 65, na vila da Ilha da Fazenda, no Pará, às margens do rio Xingu.

    "Era o pessoal da barragem dizendo que eles iriam mexer nas comportas e a quantidade de água iria aumentar", conta o líder comunitário.

    Ele avisou as pessoas que retirassem seus objetos da beira do rio. No local é comum as pessoas deixarem na água apetrechos de pesca e até louças.

    A subida rápida do rio, algo inédito segundo seu Otávio, levou a canoa dele, com motor e tudo.

    Por causa da mudança abrupta no nível do Xingu, e das notícias que vem pela TV sobre a tragédia de Mariana (MG) em 2015, a insegurança está grande na região, chamada de Volta Grande, por causa do grande desvio que o Xingu faz desde Altamira.

    Aquela parte do rio, agora, está isolada, dizem ribeirinhos. Para cima, tem a barragem de Pimental (o barramento de fato do Xingu que desvia água por um canal artificial até Belo Monte propriamente dita).

    Do outro lado do rio, na Vila da Ressaca, que é um pouco maior, na mesma noite de janeiro, o gari Ednaldo Moraes teve que sair correndo pelas ruas do vilarejo gritando para as pessoas tirarem seus pertences de beirada da água.

    Para ele, estava ocorrendo um acidente como o que havia ocorrido em Mariana. Só que em vez de lama estava vindo água.

    Segundo a empresa Norte Energia, a barragem de Pimental é totalmente segura, e não existe risco nenhum para os moradores que vivem abaixo dela.

    "Nós temos um plano de contingência caso seja necessário. Sobre o aumento do nível do rio, isso sempre ocorreu aqui e nós também nos comunicamos com eles", diz José de Anchieta dos Santos, diretor da empresa Norte Energia.

    Se do lado de baixo da barragem existe insegurança, do lado de cima, onde os peixes também estão sumindo, alguns ribeirinhos desalojados querem voltar para as duas ilhas, que tiveram que deixar para trás.

    É típico na região que os ribeirinhos que vivem da pesca tenham casas em Altamira e também possuam ranchos ou pequenas casas nas margens do Xingu.

    Eles usam estes locais como apoio para pescar. "Estamos muito longe do rio. O frete da minha casa ao porto é quase o preço que rende a pescaria", diz Raimundo Braga Gomes.

    Em Altamira, ele vivia perto do rio, ao lado de uma área de palafitas que foram destruídas. As pessoas estão sendo transferidas para conjuntos habitacionais na cidade.

    O pleito deles é poderem, novamente, viver perto do rio Xingu. A Norte Energia diz que vai, nos próximos meses, colaborar para que os ribeirinhos possam voltar para as áreas que não estão alagadas.

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