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    Mercado exagera no otimismo com possível troca de governo, diz Mobius

    TONI SCIARRETTA
    DE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    24/03/2016 02h00

    Nilani Goettems/Valor
    Data: 09/02/2015 Editoria: Financas Reporter: Thais Folego Gama Local: Sao Paulo Pauta: Coletiva sobre as perspectivas para os mercados emergentes em 2015. Personagem: Mark Mobius, presidente do Templeton Emerging Markets Group, durante a coletiva no escritorio da empresa em SP. Setor: Coletiva, mercado emergente. Fotos: Nilani Goettems/Valor ***FOTO DE USO EXCLUSIVO FOLHAPRESS***
    O gestor americano Mark Mobius, da Franklin Templeton

    Especialista em mercados emergentes, o gestor americano Mark Mobius, da Franklin Templeton, afirma que o otimismo do mercado financeiro com a possibilidade de mudança no governo pode ter sido exagerado.

    Mobius acredita que o entusiasmo só vai perdurar se houver compromisso com reformas estruturais nas contas públicas.

    *

    Folha - Por que um eventual fim do governo Dilma leva os mercados a tanta euforia?

    Mark Mobius - É uma chance de mudança na condução da economia. O atual entusiasmo em relação a uma potencial alteração no quadro político está provavelmente exagerado. Os investidores têm bastante dúvida se haverá de fato uma mudança no Brasil. E, se houver, se isso trará reformas realmente importantes. Os precedentes históricos do país não são bons, obviamente.

    Do que dependerá a continuidade desse entusiasmo?

    Dependerá de que quem estiver no comando se comprometa com mudanças na economia. De o [novo] governo instituir reformas na legislação trabalhista e simplificar o sistema tributário. Em outras palavras, serão necessárias reformas importantes para tornar as pessoas mais dispostas a investir no país.

    Como proceder diante das constantes mudanças no quadro e no noticiário?

    A melhor estratégia de investimento é comprar quando as condições são incertas e negativas, e quando os demais estão segurando e com medo de comprar. Por essa razão, faz mais sentido esperar por momentos de reversão desse otimismo todo. Se olhar as perspectivas de longo prazo, digamos de três para cinco anos, então essa volatilidade de curto prazo deixa de ser tão importante.

    Por que os estrangeiros parecem menos pessimistas que os brasileiros?

    Os investidores locais parecem mesmo mais pessimistas. Todos os dias os brasileiros veem mais impostos, inflação elevada, moeda fraca, notícias sobre corrupção e paralisia política. Os estrangeiros não experimentam essas coisas em sua vida diária. Por esse motivo, são mais capazes, nesse momento, de ter uma visão de mais longo prazo.

    A crise brasileira pode contaminar outros emergentes?

    A recessão brasileira já afetou os países emergentes que exportam para o Brasil. A boa notícia é que, com a desvalorização do real, esses países são capazes de importar produtos brasileiros a preços mais baixos. O panorama não é tão ruim quanto parece.

    O que podemos esperar dos preços das commodities?

    A recuperação nos preços das commodities não chega a ser surpreendente, se levarmos em consideração o grau excessivo em que os preços foram empurrados para baixo. É claro que essa recuperação dos preços não será contínua. Veremos reversões de tendência enquanto uma nova base para os preços não se consolidar.

    Aprendemos que os preços das commodities não são mais baseados apenas na oferta e demanda real, mas no sentimento dos investidores e no comportamento dos mercados de derivativo [onde são feitas operações de proteção contra oscilações]. Portanto, os preços serão ainda muito voláteis.

    O quanto é consequência da desaceleração na China? 

    As perspectivas de crescimento chinês ainda são muito elevadas. Precisamos lembrar que, mesmo com a desaceleração, a quantidade de dinheiro que a China gera é a maior de todos os tempos.

    Em 2010, a economia chinesa crescia a 10% do PIB, mas gerava menos dinheiro do que hoje com uma expansão entre 6% e 7%. É verdade que a China está mudando a matriz das exportações para o consumo interno, portanto não deverá importar produtos in natura como no passado. Mesmo assim, ainda precisarão de uma quantidade enorme desses produtos.

    Portanto, o Brasil e outros emergentes ainda terão na China um mercado enorme para produtos e serviços.

    As Bolsas chinesas se tornaram um termômetro do desempenho da economia?

    A derrocada no mercado acionário chinês, de fato, refletiu a desaceleração na economia. Mas essa conexão não é ainda tão boa. A bolha já explodiu. As turbulências foram causadas pelos esforços do governo para impulsionar o mercado, mantendo a Bolsa como opção para empresas, especialmente estatais, levantarem dinheiro e pagar dívidas. Quando todos correram contra a Bolsa, o governo não conseguiu arrefecer a especulação e impedir a derrocada resultante.

    Há riscos potenciais subestimados, mas que podem afetar a economia global e a brasileira em particular?

    Os mercados emergentes serão impactados pelos mesmos riscos potenciais que vemos nos países desenvolvidos. Epidemias globais, os juros maiores nos EUA, além de guerras e o terrorismo.

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