• Mercado

    Saturday, 11-May-2024 23:53:14 -03

    Com mercado retraído, produtos de Páscoa têm importação reduzida

    JOANA CUNHA
    TATIANA FREITAS
    DE SÃO PAULO

    25/03/2016 02h00

    Marcus Leoni/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 03.03.16 18h A casa Santa Luzia, que trouxe 800 colombas de pascoa importadas da Italia em 2014, neste ano trouxe apenas cem. O motivo e o cambio. (Foto: Marcus Leoni / Folhapress, MERCADO)
    Produtos importados para a Páscoa na Casa Santa Luzia, em São Paulo (SP)

    Ingrediente típico da Semana Santa, o bacalhau escapou da sina de produtos importados pelos supermercados neste ano: ocupar espaço cada vez menor nas prateleiras das lojas.

    A redução do volume de importados foi uma das saídas do varejo para contornar a dificuldade de repassar, para um consumidor mais retraído, a alta do dólar.

    Atingiu produtos procurados na Páscoa, como as colombas e os vinhos, além de chocolates, biscoitos, massas, queijos e outros produtos.

    As redes também substituíram produtos estrangeiros por nacionais e, na ausência de um similar, procuraram fornecedores mais baratos.

    O Pão de Açúcar ampliou a oferta de produtos de marcas próprias importadas, como Casino e Club des Sommeliers, segundo Luis Otavio Moura, gerente comercial.

    A Casa Santa Luzia restringiu o espaço para as colombas importadas em suas prateleiras. Se em 2014 a rede trazia 800 colombas, neste ano foram apenas 100.

    "Resolvemos trazer poucas, só para aquele cliente que tem um avô italiano que amava a verdadeira colomba e precisa presentear, por exemplo", diz Ana Maria Lopes, diretora da Santa Luzia.

    A empresa completou as prateleiras com produtos de grandes fabricantes nacionais, como a Bauducco.

    "Desenvolvemos uma colomba artesanal, mas ainda tem o problema do câmbio, porque a receita leva ingredientes importados: amêndoa, fava de baunilha, farinha, limão-siciliano", diz.

    No caso do bacalhau, porém, o empório manteve os volumes de importação: 11 toneladas, duas vezes por ano, em média. A rede Pão de Açúcar priorizou os cortes mais nobres e reduziu as compras dos tipos mais básicos.

    INFLAÇÃO DOS IMPORTADOS - Câmbio ajuda a elevar a inflação

    SEGURANDO REPASSES

    "Num cenário em que todo o mundo está com renda menor, não tem como repassar tudo. A saída é absorver uma parte, reduzir a margem e controlar os custos", diz o professor de economia da USP Simão Silber.

    O índice de inflação dos produtos com preços influenciados pelo câmbio –os "comercializáveis"– mostra a dificuldade dos lojistas em repassar a alta do dólar.

    Nos 12 meses até fevereiro, enquanto o dólar subiu 38%, a "inflação dos importados" foi 9,45% (o indicador considera também produtos cujos preços oscilam conforme o câmbio, como café, milho, veículos e calçados).

    Considerando apenas os importados vendidos nos supermercados, a alta foi de 14,9% em um ano, em média, segundo a Abras (Associação Brasileira dos Supermercados). Os vinhos importados, por exemplo, subiram 10% no período, enquanto o bacalhau avançou 8%.

    "Muitos reajustes talvez não tenham acontecido em sua totalidade e podem ocorrer novos repasses", diz André Braz, economista do Ibre, da FGV. Para ele, os preços vão subir, mesmo que o consumo caia. "Os fabricantes precisam repassar. Os custos vão sendo pressionados de tal forma que os aumentos vão sendo feitos em doses homeopáticas."

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024