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Com crise, investidores cancelam ou suspendem investimentos no país desde o ano passado |
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Mercado
Saturday, 23-Nov-2024 04:40:16 -03Insegurança trava obras de US$ 85 bilhões no país
BRUNO VILLAS BÔAS
NICOLA PAMPLONA
DE DO RIO26/03/2016 02h00
Com o país em profunda recessão e crescente instabilidade política, projetos de investimentos que somam US$ 84,6 bilhões (cerca de R$ 318 bilhões) foram suspensos ou cancelados de abril do ano passado a março deste ano.
São 52 projetos de variados setores da economia, de construção de fábricas e shopping centers a usinas geradoras de energia. Os dados são da companhia de seguros JLT, sediada em Londres, que acompanha construções nos países em que atua.
Dos investimentos afetados pela crise, US$ 74,5 bilhões foram cancelados. São sobretudo projetos nos setores de energia e saneamento (US$ 40 bilhões) e industrial (US$ 31,7 bilhões).
É o caso, por exemplo, da fabricante de móveis Todeschini, que desistiu de construir uma fábrica de chapas de madeira em Cachoeira do Sul (RS). É também o da montadora chinesa JAC Motors, que pretendia construir uma unidade em Camaçari (BA).
RISCO DE CALOTE
Segundo Enzo Ferracini, diretor de infraestrutura da JLT Brasil, os projetos são afetados pela insegurança dos investidores com a economia e o futuro do país.
O problema fiscal de municípios, Estados e governo federal também pesa.
"Ficou mais arriscado para o investidor entrar, por exemplo, numa PPP (parceria público-privada). O setor público pode ficar sem recursos com essa crise e o projeto atrasar, afetando seu retorno", disse Ferracini.
A Operação Lava Jato é uma incerteza a mais. Dos projetos suspensos, as obras da usina nuclear de Angra 3 estão paradas desde setembro de 2015 por falta de pagamentos às construtoras.
Todo esse quadro fez com que o risco de investir no Brasil esteja maior apenas do que o da Argentina e o da Venezuela na América Latina, segundo avaliação da área de inteligência da seguradora.
Com a crise política atingindo níveis mais altos, após a divulgação dos áudios do grampo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela Polícia Federal, a expectativa é que a paralisia dos investimentos fique ainda maior.
TODOS À ESPERA
"Nunca tivemos uma situação com esse nível de incerteza. O país pode parar. E isso afeta decisões de investimento. Estamos todos aguardando. A rigor, ninguém sabe como tudo vai acabar", disse Cláudio Frischtak, sócio da Inter.b Consultoria.
Segundo o levantamento, as obras em execução no país somam US$ 157 bilhões.
Nos 12 últimos meses encerrados em março deste ano, US$ 90 bilhões em projetos de investimentos tiveram as obras concluídas.
"As obras acabam ou são paralisadas, e não há projetos novos chegando. Pouco é anunciado, e o que está planejado não sai do papel. Só a recuperação da confiança do empresário pode mudar isso", disse o diretor da JLT.
No ano passado, os investimentos caíram 14,1% e foram os principais responsáveis pela queda de 3,8% do PIB (Produto Interno Bruto), a medida da renda de bens e serviços produzidos no país.
Segundo Mauro Ribeiro Viegas Filho, presidente da Associação Brasileira de Consultores de Engenharia, é preciso destravar os investimentos para retomar o crescimento e ampliar o potencial da economia.
"O ideal é investirmos no mínimo 5% do PIB em infraestrutura, mas estamos investindo menos de 2%, e a tendência é de queda", disse Viegas Filho. A entidade fará neste mês no Rio um seminário sobre investimentos.
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