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    Empregados menos leais reduzem lucros de setor funerário no Japão

    LEO LEWIS
    DE DO "FINANCIAL TIMES", EM TÓQUIO

    26/03/2016 02h00

    Eugene Hoshiko/Associated Press
    In this Jan. 28, 2016 photo, a laptop monitor shows "Obo-san bin," or "Mr. Monk Delivery," tickets which can be ordered at the "home and kitchen" section of Amazon.co.jp. in Tokyo. In Japan, where communal ties to local Buddhist temples are fading, families have in recent years been able to go online to find a Buddhist monk to perform funerals and other rituals. (AP Photo/Eugene Hoshiko) ORG XMIT: XEH101
    Oferta de monge on-line no site da Amazon japonesa, para velórios e cerimônias religiosas

    O setor de serviços funerários japonês, que movimenta 2 trilhões de ienes por ano (cerca de R$ 66 bilhões), se encaminha para um pico de serviço nas próximas duas décadas. Mas está temeroso.

    A população do país, que enfrenta rápido envelhecimento, está encaminhando o movimento das funerárias japonesa a um pico de 1,67 milhão de óbitos em 2040.

    Por causa do índice de natalidade persistentemente baixo, o 1,3 milhão de mortes registradas anualmente no Japão já supera em 300 mil o número de nascimentos.

    Mas, embora o faturamento esteja em alta, o número médio de participantes em cerimônias fúnebres caiu à metade dos anos 1990 para cá.

    As famílias que perderam entes queridos demonstram menos entusiasmo sobre o custo médio de 2,3 milhões de ienes (cerca de R$ 75 mil, pela cotação desta sexta, 25) para um funeral. Além do custo, o próprio ritual das cerimônias fúnebres vem sendo questionado e alterado.

    RITUAL EM XEQUE

    Na maior parte das famílias japonesas, o costume é contratar um agente funerário para preparar o corpo do defunto (função que foi retratada no filme "A Partida", que levou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2009).

    O corpo é lavado e vestido com terno ou quimono, e o rosto é maquiado. Algumas famílias aguardam um dia de "melhor augúrio" para o velório, no qual os participantes acendem incenso e tocam um sino antes de rezar em frente ao defunto. Um sacerdote budista recita sutras.

    Costuma-se dar uma pequena lembrança aos participantes. O corpo é depois cremado, em cerimônia da qual participa a família, e as cinzas são enterradas, em uma outra cerimônia.

    PATRÕES E FUNCIONÁRIOS

    Um fator que vem reduzindo o número de pessoas presentes a serviços fúnebres é o desaparecimento do "participante compulsório".

    No passado, funcionários se sentiam no dever de comparecer aos funerais dos parentes de seus chefes, ou aos dos presidentes de empresas clientes e suas famílias, diz Yuichi Noro, presidente da San Holdings, a maior funeraria japonesa.

    Em anos de grande movimento, um trabalhador teria de comparecer a dois ou três funerais de pessoas a quem nunca conheceu.

    Mas a cultura do trabalho mudou. Crescente proporção da força de trabalho tem empregos temporários ou de tempo parcial e se sente menos obrigada a respeitar as velhas convenções.

    "As empresas não se assemelham mais a famílias, como costumava ser o caso no passado, e o senso de lealdade é menor", diz Noro.

    Estimativas sugerem que mais de 35% dos japoneses idosos querem a presença apenas de seus familiares e amigos próximos em seus funerais e que pelo menos 8% deles não deseja nenhuma forma de serviço fúnebre.

    Além disso, a expectativa de vida, hoje de mais de 80 anos, significa que, quando uma pessoa morre, ela em geral já estará aposentada há quase duas décadas e os funerais já não estarão repletos de antigos colegas.

    MONGES ON-LINE

    Para manter os lucros em meio a essa mudança cultural, o setor realizou pela primeira vez uma feira de serviços funerários, em Tóquio, em dezembro de 2015.

    Prestadores de serviço tradicionais também se rebelaram contra a Amazon, que lançou um serviço on-line que oferece monges de aluguel para as cerimônias fúnebres japonesas.

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