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    Cidades de fronteira lucram com dólar alto

    LUIZ CARLOS DA CRUZ
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM FOZ DO IGUAÇU (PR)
    CAMILA DALL'AGNOL
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BOA VISTA
    CORA GONZALO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PACARAIMA (RR)
    THIAGO AMÂNCIO
    DE SÃO PAULO

    27/03/2016 02h00

    Lalo de Almeida/Folhapress
    FOZ DO IGUACU, PR. 14/02/2015. Fila de carros em Foz do Iguacu para atravessar a Ponte da Amizade com destino ao Paraguai. ( Foto: Lalo de Almeida/ Folhapress, MERCADO ) ***EXCLUSIVO FOLHA***
    Fila de carros em Foz do Iguaçu (PR) para atravessar a Ponte da Amizade, com destino ao Paraguai

    No estacionamento do Big Supermercados de Foz do Iguaçu (PR), não está fácil achar vaga: o local está tomado por carros do Paraguai.

    O principal motivo é o dólar em alta e o real desvalorizado. Os preços no comércio brasileiro acabam sendo mais vantajosos para moradores de países vizinhos.

    Além de Foz, outras cidades fronteiriças também tiveram alta nas vendas graças ao consumo de paraguaios, bolivianos e venezuelanos.

    No caso de Roraima, fronteira com a Venezuela, mesmo com o bolívar desvalorizado e os preços mais em conta por lá, as vendas são impulsionadas devido à crise no governo de Nicolás Maduro, que provoca escassez de vários produtos nas prateleiras.

    Nos últimos seis meses, as vendas nesses municípios brasileiros cresceram até 150% em relação ao período anterior. O avanço começou em setembro, quando o dólar atingiu a casa dos R$ 3,80.

    Os negócios atraem desde estrangeiros que compram para consumo próprio até comerciantes que revendem os produtos em seus países.

    Em Foz, que também faz divisa com a Argentina, o aumento nas vendas chega a 30% nos supermercados. Em média, é de 22%, segundo a associação comercial local.

    Com produtos custando metade do preço no Brasil, paraguaios viajam diariamente mais de 300 km para Foz. É o caso de Norberto Fujioka, que tem loja de frutas e legumes no mercado central de Assunção. No Ceasa de Foz, ele paga R$ 30 a caixa de tomates -lá, sai por R$ 65.

    Desde que a cotação do dólar subiu, ele dobrou as compras: em vez de 15 toneladas, leva 30 toneladas de produtos. Para isso, tem empresa de importação para fazer o transporte em dois caminhões.

    Com a presença de mais paraguaios e também argentinos em Foz, boa parte do comércio local aceita quatro moedas: além do real, guarani, peso argentino e dólar.

    A maior parte de paraguaios vem de Ciudad del Este, localizada logo depois da fronteira. Como a Folha mostrou neste mês, a subida do dólar provoca efeito contrário na cidade vizinha, onde o comércio fechou mil pontos de vendas no ano passado e 10 mil vagas de trabalho.

    A 3.200 quilômetros de Foz, Guajará-Mirim (RO) faz fronteira com a Bolívia. O comércio brasileiro registra aumento de 30% a 100% no varejo, a depender do setor, informa a associação comercial.

    Alimentos e material de construção são os produtos mais visados. "Eles sempre vieram comprar aqui porque a Bolívia produz pouco. Mas agora está bem mais barato", afirma Delny Cavalcante Jr, presidente da associação.

    CHALANAS

    Para chegar ao Brasil, os bolivianos cruzam o rio Mamoré, num percurso de menos de dois quilômetros. Quem compra no varejo pode levar as mercadorias na mão em chalanas, embarcações que levam 20 pessoas. Se o volume for grande, caminhões atravessam o rio em balsas.

    A situação é parecida em Ponta Porã (MS), onde os paraguaios compram produtos de informática, combustível e pneus. Segundo a associação comercial, houve aumento de mais de 150% nas vendas em supermercados.

    Com a escassez de produtos no seu país, os venezuelanos compram no Brasil mesmo custando mais. Um quilo de queijo, por exemplo, sai pelo dobro do preço aqui. Um xampu de R$ 15 na Venezuela chega a custar R$ 40.

    Numa farmácia de Pacaraima (RR), a 215 quilômetros da capital Boa Vista, as vendas cresceram 50%. "Os venezuelanos levam de tudo, mas não compram em grande quantidade devido à desvalorização da moeda deles", diz Regino de Aragão, dono da drogaria.

    Em supermercados daqui, a venezuelana Leonor González busca carne e frango. "Mas compro pouco, porque é bem mais caro."

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