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    'É a pior crise em 38 anos', diz presidente da MAN

    ANA PAULA MACHADO
    DE SÃO PAULO

    02/04/2016 02h00

    Sergio Lima/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL 21-10-2011 15h30: Antonio Roberto Cortes, Presidente e CEO da MAN Latin America, fala no Palacio do \planalto aps encontro com a Presidente Dilma Rousseff. Foto: Sergio Lima/Folhapress PODER)
    Antonio Roberto Cortes, Presidente da MAN Latin America, fabricante de caminhões

    Com 38 anos de trabalho na indústria automobilística, Roberto Cortes, presidente da MAN Latin America, diz ser um entusiasta e um otimista por natureza.

    Entretanto, a crise política e econômica pela qual o Brasil passa, tem feito o executivo repensar a sua posição e cravar: esse momento é mais agudo e intenso que já presenciou no país.

    Segundo Cortes, o cenário é pior porque conjuga a queda da atividade, das vendas e dos preços praticados no mercado brasileiro. "A conta não fecha. E posso te dizer que estamos operando no prejuízo."

    Folha - Hoje, o Brasil vive um momento conturbado e deve ter neste ano uma nova queda do PIB. Isso contamina diretamente o seu negócio. Como sobreviver nesse cenário?

    Roberto Cortes - Em 38 anos trabalhando na indústria automotiva, esta é crise mais aguda e mais intensa que vivemos. Isso porque, as vendas caem, a capacidade ociosa aumenta, os custos aumentam e os preços não acompanham. Estamos vendendo caminhões com mais tecnologia, pelo mesmo valor praticado em 2012. Não há como repassar ao transportador o aumento dos custos, pois, se fizermos isso, vamos ficar com os pátios mais cheios ainda. É um trabalho duro para mantermos o negócio nesse ambiente.

    A conta não fecha?

    Não. A conta não fecha. E posso te dizer que estamos operando no prejuízo. Por isso, todo o esforço de ajustes que estamos implantando desde o ano passado. Como, adoção do PPE [Programa de Proteção ao Emprego, que prevê redução de carga horária e de salário] na fábrica, lay-off [suspensão temporária do contrato de trabalho], abertura do processo de PDV (Programa de Demissão Voluntária) e incentivos para aposentadorias. Fazemos isso na esperança da melhora no mercado no ano que vem. Mas isso somente vai acontecer se ocorrer alguma mudança e a confiança voltar. Hoje, a crise política contaminou a economia e isso impacta diretamente o nosso negócio.

    Mas e se a melhora não vier?

    Bom, vamos manter todos os ajustes na produção. Operávamos em três turnos de trabalho, cinco dias por semana. Agora, reduzimos para um intervalo e quatro dias de trabalho. Adotamos medidas de proteção ao emprego e vamos seguir assim até quando pudermos. É melhor manter esses colaboradores do que demiti-los. São pessoas capacitadas e o custo de uma demissão é maior do que mantê-las.

    E como explicar isso à matriz? Como convencê-los de que a operação no Brasil é viável?

    A matriz conhece o Brasil e já passamos por mais de 20 crises aqui. Os fundamentos da economia ainda estão mantidos. O que sempre dizemos é que o potencial do mercado brasileiro é enorme. Isso se mostrou nos anos anteriores. A nossa frota é antiga e essa renovação vai acontecer. Só não sabemos quando. Se será no médio ou longo prazos. Por isso, sempre dissemos para olhar mais para frente, para o futuro. E não avaliar o momento atual. Mas volto a dizer que esta crise é a pior que já vivemos.

    Os investimentos estão mantidos no país?

    Sim. Estamos com um plano de investimento de R$ 1 bilhão que se iniciou em 2012 e terminará em 2017. Não vamos mexer nesses recursos. Estamos investindo em novas tecnologias. Os ajustes na produção que fizemos, como os programas de demissão voluntária, estão nessa conta também. Ainda faltam R$ 400 milhões para serem aplicados até o ano que vem.

    Qual a expectativa de mercado para este ano?

    Estamos trabalhando com uma queda de 15%, para 60 mil caminhões. No ano passado, foram comercializados 71 mil veículos. Entretanto, se olharmos só para os números do primeiro trimestre, a queda foi maior, cerca de 30%. Vamos para o terceiro ano seguido de retração. Se compararmos com 2013, esse recuo pode alcançar 70% até o final deste ano. Nunca vimos isso. Nas outras crises, nesse mesmo período, a queda foi de 30% e isso já deixava americanos e europeus loucos. Imagina agora?

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