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    Polêmica e direta, consultoria cresce apesar de seus antagonistas

    TONI SCIARRETTA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    04/04/2016 02h00

    Karime Xavier/Folhapress
    O economista Felipe Miranda, 31, fundador da consultoria Empiricus

    Eles aterrorizaram ao falar em "fim do Brasil" caso a presidente Dilma fosse reeleita.

    E isso em julho de 2014, quando o país crescia, economizava, tinha o selo de bom pagador e a Lava Jato não tinha prendido nenhum presidente de empreiteira.

    A peça "O Fim do Brasil", que viralizou na internet, acabou lhes rendendo um processo do PT, além da pecha de terroristas e de militantes tucanos. Os analistas de ações da Empiricus recusam os adjetivos, mas não têm problema em assumir discurso "politicamente incorreto".

    Voltada ao pequeno investidor pessoa física, a consultoria valoriza o fato de não estar ligada a nenhum banco, corretora ou grupo financeiro. De acordo com eles, isso lhes permite orientar o cliente sem "segundas intenções".

    "O Fim do Brasil" era uma carta lida pelo economista Felipe Miranda, 31, fundador da Empiricus, afirmando que o Brasil que nascera em 1994 com Plano Real iria morrer, com 20 anos de idade, após a reeleição do PT ao governo.

    Sob o argumento de terror eleitoral, o PT processou a consultoria, pedindo ao TSE que suspendesse a peça. A Empiricus venceu por 5 a 2.

    À época, a Empiricus previa a "maior crise econômica desde 1994", mandava os clientes se protegerem comprando dólar, falava em volta da inflação e até em confisco da poupança.

    Menos de dois anos depois, o dinheiro da poupança não foi confiscado. Mas a inflação foi a 10%, o dólar disparou, a Bolsa derreteu, o governo elevou impostos e hoje a maior preocupação do Planalto é evitar o impeachment. "Se isso não é o fim do Brasil, não sei o que seria", diz Miranda.

    O discurso do terror fora inspirado na peça "End of America" da americana Stansberry Research, que alertava, em 2011, para o risco de aprofundamento da crise financeira de 2008. Não por acaso, a Stansberry integra a holding Agora, que comprou metade da Empiricus em 2011. Presente em 14 países, a firma viu na Empiricus uma forma de entrar no Brasil. A condição era replicar o modelo de negócio.

    A estratégia parte do boletim "Mercado em Cinco Minutos", grátis, enviado a 1,8 milhão de e-mails cadastrados. Desses, espera-se converter ao menos 10% em assinaturas mensais de R$ 23,90 por outro boletim, mais detalhado. Há hoje 110 mil pagantes, segundo a consultoria.

    A partir daí, há produtos mais especializados. O mais caro é uma cota vitalícia única de R$ 30 mil.

    Nas últimas semanas, a Empiricus comprou a metade do site "Antagonista", do ex-redator-chefe da "Veja" Mario Sabino, conhecido pela acidez na cobertura política. Segundo Miranda, o objetivo do investimento é "capturar os e-mails" do público de 5 milhões de visitantes.

    PROCESSOS

    Além de incomodar o PT, o ativismo da Empiricus já lhe rendeu uma condenação pela Apimec-SP (associação dos analistas, que funciona como órgão regulador).

    Em 2012, a Empiricus apontou inconsistências contábeis nos balanços do frigorífico Marfrig e pediu a cabeça do diretor de Relações com Investidores, Ricardo Florence, a quem se referia como "executivo metido a besta e enólogo de araque".

    A Apimec considerou o ataque incompatível com os padrões de conduta do setor, suspendeu por um ano o registro de analista do sócio responsável (Marcos Elias, que depois saiu da Empiricus) e condenou os profissionais a multa de R$ 2.040 cada um.

    Já a CVM, reguladora do mercado de capitais, pediu à Marfrig a republicação do balanço com a reclassificação das inconsistências apontadas. O frigorífico pagou ainda R$ 800 mil em acordo com a CVM para encerrar o caso.

    DISCURSO ENFÁTICO

    Pai solteiro de um garoto de quatro anos, Felipe Miranda, 31, estudou no colégio jesuíta São Luiz (centro de São Paulo), cursou economia na USP e fez mestrado em finanças na FGV, onde se tornou professor de micro e macroeconomia aos 26 anos.

    Politicamente, diz ser "de direita liberal libertária": "A favor da liberação da droga, de casamento gay etc.". Foi a todas as manifestações contra o governo, mas ressalva: "Deixa claro que a Empiricus não tem partido, hein? Esse sou eu".

    Aos que criticam o discurso agressivo de suas análises, afirma: "É parte do modelo de negócio e funciona muito mais do que todos imaginam".

    "Está todo mundo louco para pegar a gente. No mercado financeiro, é assim: se alguém se dá melhor do que você, é porque deu sorte ou roubou!"

    EMPIRICUS/2016
    FATURAMENTO: R$ 160 mi a R$ 200 mi (estimativa)
    SÓCIOS: Agora Inc, dos EUA, e brasileiros Felipe Miranda, Rodolfo Almstalden e Caio Mesquita
    CONCORRENTES: área de pesquisa de ações de bancos, corretoras e consultorias independentes, como LCA e Tendências
    EQUIPE: 15 analistas

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