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    Bolsa recua 3,52% com cenário político e Petrobras; dólar sobe para R$ 3,61

    EULINA OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    04/04/2016 17h30

    O mercado financeiro doméstico reagiu negativamente às movimentações do governo para barrar o impeachment e à possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser liberado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para assumir a pasta da Casa Civil. O Ibovespa caiu fortemente, o dólar comercial subiu para R$ 3,61 e os juros futuros avançaram.

    O cenário externo fraco, com a queda nos preços do petróleo, contribuiu para aumentar a aversão ao risco. Além disso, notícias de que o governo poderia forçar a Petrobras a baixar o preço da gasolina fizeram as ações da estatal recuar cerca de 9%.

    A Bolsa iniciou a segunda-feira (4) em baixa, com investidores avaliando que o eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff, antes dado como praticamente certo, corre o risco de não acontecer. Com o ex-presidente Lula à frente, o governo negocia cargos com partidos do chamado "baixo clero" para obter os votos necessários para barrar o processo na Câmara.

    À tarde, o pessimismo se intensificou, e o principal índice da Bolsa paulista fechou em queda de 3,52%, aos 48.779,99 pontos. O giro financeiro foi de R$ 5,493 bilhões, mais baixo do que nas sessões anteriores.

    O principal motivo para a piora do Ibovespa, segundo profissionais do mercado, é que o ministro do STF Teori Zavascki negou a concessão de liminares (decisões provisórias) em duas ações que questionavam a legalidade da posse do ex-presidente Lula na Casa Civil.

    A nomeação do petista continua suspensa por outra liminar que foi concedida pelo ministro Gilmar Mendes em outros dois processos. Ainda não há prazo para que o caso seja analisado pelo plenário do Supremo.

    "Além da articulação do governo para evitar o impeachment, o mercado teme que Lula seja liberado pelo STF para assumir a Casa Civil", avalia Ari Santos, gerente de renda variável da H.Commcor.

    No sábado (2), em discurso em Fortaleza, Lula afirmou que na próxima quinta-feira (7), "se tudo der certo, se a Corte Suprema aceitar", ele estará assumindo o ministério.

    PETROBRAS

    As ações da Petrobras recuaram 9,33%, a R$ 7,58 (preferenciais), e 8,83%, a R$ 9,60 (ordinárias), influenciadas também por uma eventual queda no preço da gasolina no país e pela baixa dos preços do petróleo no mercado internacional.

    Conforme o Painel, da Folha, integrantes do Planalto dizem que a cúpula da Petrobras reconhece que está alta a diferença entre o preço da gasolina lá fora e o cobrado no país. Essa diferença, porém, é o que está segurando o caixa da empresa. Por isso, o governo federal vê uma forte resistência por parte do Conselho de Administração da Petrobras em reduzir o preço da gasolina neste momento, e a única chance seria o sócio majoritário impor uma redução nos preços.

    Segundo analistas, um eventual corte nos preços da gasolina é visto como uma medida populista, em um momento em que o governo enfrenta índices de popularidade muito baixos e um processo de impeachment.

    "Já tínhamos mencionado que isso poderia ocorrer [a redução dos preços], pois a gasolina estava com prêmio de 25% e o diesel na casa de 40% [em relação ao mercado internacional]", escreve a equipe de análise da XP Investimentos. "Cada reajuste de 10% na gasolina impacta o IPCA [índice oficial de inflação) em 0,3%. Em ano de eleições e o impeachment batendo na porta do Planalto, poderia ser, sim, uma medida populista."

    Em carta enviada a integrantes do conselho de administração da Petrobras, o presidente da estatal, Aldemir Bendine, disse que não há decisão sobre redução dos preços da gasolina e do diesel. No texto, ao qual a Folha teve acesso, Bendine diz que a companhia monitora permanentemente a composição de custos e o comportamento do mercado e debateu se a redução dos preços poderia reverter a retração das vendas, que chega a 10% este ano.

    Em Londres, o petróleo Brent perdia 2,59%, a US$ 37,67 o barril; em Nova York, o WTI caía 3,07%, a US$ 35,66. A commodity passa por um excesso de oferta global, e o mercado teme que as negociações de produtores para congelamento da produção naufraguem.

    As ações do setor financeiro também recuaram: o também estatal Banco do Brasil ON perdeu 5,66%; Itaú Unibanco PN, -3,50%; Bradesco PN, -3,66%; Bradesco ON, -2,54%; Santander unit, -2,32%; e BM&FBovespa ON, -0,96%.

    Os papéis PNA da Vale fecharam em queda de 4,71%, enquanto os ON perderam 4,64%.

    DÓLAR

    O câmbio também foi influenciado pelo cenário político. A moeda americana à vista encerrou a sessão em alta de 0,74%, a R$ 3,5890, enquanto o dólar comercial, cujas negociações terminam mais tarde, ganhou 1,51%, a R$ 3,6160.

    O Banco Central voltou a realizar o leilão de swap cambial reverso, que equivale à compra futura de dólar pela autoridade monetária. Dos 14.100 contratos ofertados nesta manhã, foram aceitas 8.140 propostas com vencimento em 01/07/2016, no montante de US$ 404 milhões. Para o vencimento de 03/10/2016 nenhuma proposta foi aceita.

    O BC também rolou todos os 5.500 contratos de swap cambial tradicional com vencimento em maio que foram propostos nesta segunda-feira. O swap cambial tradicional correspondente à venda futura de dólar pelo BC.

    "O clima interno é negativo; com isso, mesmo sem leilão, o dólar já tinha sinalização mais altista hoje", destaca a equipe de análise da Lerosa Investimentos, em relatório.

    JUROS

    O mercado de juros futuros também terminou em alta, reagindo aos desdobramentos no cenário político. O contrato de DI para janeiro de 2017 passou de 13,780% para 13,805%, e o contrato de DI para janeiro de 2021 subiu de 13,720% para 13,980%.

    Nesta segunda-feira, foi divulgada a mais nova pesquisa semanal Focus, do Banco Central.

    O boletim mostrou que economistas de instituições financeiras passaram a ver recuo da taxa básica de juros neste ano, enquanto a projeção para a inflação continuou diminuindo em meio à contínua piora da recessão econômica.

    A estimativa para a taxa básica Selic ao fim de 2016 é de 13,75%, ante os 14,25% previstos na semana anterior. Essa foi a primeira redução na estimativa após oito semanas de manutenção, mesmo depois de o BC reiterar em seu relatório de inflação, na semana passada, que não trabalha com a possibilidade de cortar a taxa básica de juros apesar da forte retração econômica.

    Para 2017, o levantamento não mostrou mudança na expectativa de que a Selic terminará o ano a 12,5%.

    O CDS (credit default swap), espécie de seguro contra calote e indicador da percepção de risco do país, avançava 2,45%, para 372,838 pontos.

    EXTERIOR

    Na Bolsa de Nova York, os índices fecharam em queda, influenciados pelos preços do petróleo e por um movimento de realização de lucros. O índice Dow Jones fechou em baixa de 0,31%; o S&P 500, -0,32%; e o Nasdaq, -0,46%.

    A maior parte das Bolsas europeias encerrou a sessão em alta, com investidores avaliando que a resiliência da economia americana poderá ajudar o crescimento global. A Bolsa de Londres avançou 0,30%; Paris (+0,53%); Frankfurt (+0,28%); Madri (-0,06%); e Milão (-0,77%).

    Na Ásia, parte das Bolsas ficou fechada devido a um feriado na China. O índice Nikkei do Japão recuou 0,25%.

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