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    Petrobras quer chamar mediador para resolver crise da Sete Brasil

    NICOLA PAMPLONA
    DO RIO

    08/04/2016 02h00

    Divulgação
    Casco de sonda de perfuração da Sete Brasil
    Casco de sonda de perfuração da Sete Brasil, empresa que tenta recuperação judicial

    A Petrobras decidiu se posicionar para tentar evitar o pedido de recuperação judicial da Sete Brasil, que será discutido em reunião de acionistas da companhia nesta sexta-feira (8).

    Para isso, propõe a contratação de um mediador externo a fim de negociar um acordo entre os sócios.

    Parte dos acionistas defende o pedido de recuperação judicial da Sete, criada para ser a principal fornecedora de sondas do pré-sal, sob o argumento de que a empresa não tem como honrar seus compromissos financeiros.

    Os sócios se reúnem novamente nesta sexta para discutir o futuro da empresa, que está imersa em dívidas e com obras paralisadas.

    No encontro mais recente, não houve consenso sobre a adoção da estratégia. A Petros, fundo de pensão dos empregados da Petrobras, votou contra o recurso à Justiça.

    A Petrobras tem evitado se manifestar nas reuniões, alegando conflito de interesse, mas nesta sexta deve defender a proposta de contratação de uma consultoria externa para mediar as negociações, segundo a Folha apurou.

    O tema já vem sendo discutido internamente com alguns dos sócios da operadora de sondas. O objetivo é tentar construir um acordo que garanta a sobrevivência da fornecedora.

    Além de cliente, a estatal é sócia da Sete, com uma participação direta de 5% e com outros 4,59% por meio do Fundo de Investimentos em Participação (FIP) Sondas.

    Os outros sócios são os fundos de pensão Petros, Funcef e Previ, o fundo de investimento FI-FGTS e os bancos BTG Pactual, Santander e Bradesco.

    Em seu balanço de 2015, a Petrobras ampliou a estimativa de perdas com o investimento na Sete para R$ 922 milhões –no balanço do terceiro trimestre, a previsão era de R$ 676 milhões.

    A última proposta apresentada pela estatal à Sete previa a contratação de dez sondas, número bem inferior ao contrato inicial, que falava em 28 unidades.

    A Petrobras propôs ainda a redução do prazo de contratação e do valor do aluguel diário, sob o argumento de que o cenário mudou com a queda do preço do petróleo no mercado internacional.

    Alguns sócios dizem que a proposta não paga o investimento feito na Sete até agora, que soma R$ 8 bilhões. A empresa tem uma dívida de R$ 17 bilhões com bancos.

    Na atualização mais recente publicada em seu site, com dados de janeiro, a Sete mostra 17 sondas em diferentes estágios de construção.

    As mais avançadas, Urca e Arpoador, estão com mais de 80% das obras concluídas, nos estaleiros Fels Setal e Jurong, respectivamente.

    A menos avançada, Mangaratiba, está com apenas 4,78% das obras concluídas, com blocos de aço sendo montados no Nantong, na China.

    *

    1 O que é a Sete Brasil?

    Empresa criada em dezembro de 2010 para construir sondas para exploração do pré-sal, que seriam alugadas à Petrobras

    2 Qual era o acordo?

    Entre 2014 e 2018, a Sete Brasil forneceria 28 plataformas, no valor estimado de US$ 30 bilhões. As sondas seriam alugadas à Petrobras por um valor estimado, na época da criação, em US$ 600 mil/dia

    3 De quem é a empresa?

    Os principais sócios são a Petrobras, os bancos BTG Pactual, Bradesco e Santander, os fundos de pensão estatais Petros, Previ, Funcef, Valia e o fundo FI-FGTS

    4 Quanto dinheiro já foi consumido?

    Sócios e credores já colocaram ao menos R$ 20 bilhões

    5 Quem fez empréstimos?

    O BNDES havia se comprometido a emprestar R$ 9 bilhões à Sete. Enquanto o crédito não era liberado, Banco do Brasil, Caixa, Bradesco, Itaú, Santander deram crédito "temporário" de R$ 14 bilhões. A dívida atual gira em torno de R$ 17 bilhões

    6 Algo já foi construído?

    Alguns estaleiros já iniciaram a construção das sondas, mas ficaram sem receber. Vários deles já anunciaram paralisação dos trabalhos e demissões

    7 Por que tudo ruiu?

    A empresa e estaleiros foram envolvidos na Operação Lava Jato, que apura corrupção na Petrobras. Isso paralisou o projeto e levou o BNDES a congelar o repasse prometido. Além disso, o preço do petróleo despencou, tornando inadequados os termos do acordo inicial

    8 Qual o envolvimento na Lava Jato?

    Pedro Barusco, ex-executivo da Petrobras e da Sete, afirmou que ele e outros diretores receberam dinheiro dos estaleiros contratados para fazer as sondas. O ex-presidente da Sete João Carlos Ferraz e o ex-diretor Eduardo Musa admitiram ter recebido propina de estaleiros

    9 Sem o dinheiro do BNDES, como a Sete pagou o empréstimo ao grupo de bancos?

    A empresa não conseguiu pagar a dívida e negociou várias renovações de prazo

    10 Por que acionistas querem a recuperação judicial?

    Parte dos acionistas argumenta que a empresa não tem como honrar seus compromissos financeiros. Existe a hipótese de que o juiz, se aceita a recuperação, poderia pressionar a Petrobras a cumprir o acordo

    11 Por que a Petrobras reluta em fechar um acordo?

    A estatal quer cortar custos para enfrentar tanto a queda do preço do petróleo quanto o aumento de suas dívidas. Por isso, já negociou uma redução no número de sondas. No entanto, o contrato ainda é desvantajoso, já que a Sete espera receber cerca de US$ 400 mil por dia em aluguel de cada sonda, enquanto o preço internacional está abaixo dos US$ 250 mil

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