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    Temer melhora humor do empresário, diz presidente de gestora de energia

    JOANA CUNHA
    DE SÃO PAULO

    14/04/2016 02h00

    Raquel Cunha/Folhapress
    SAO PAULO - SP - 09.10.2014 - Cristopher Vlavianos é presidente da Comerc, empresa que comercializa energia. (Foto: Raquel Cunha/Folhapress, MERCADO ABERTO) ***EXCLUSIVO***LEGENDA DO JORNALCristopher Vlavianos, presidente da comercializadora de energia
    Cristopher Vlavianos, presidente da comercializadora de energia Comerc

    Já há um entendimento geral entre o empresariado de que nem Dilma nem Lula conseguirão colocar o país nos trilhos e de que é Temer quem pode trazer a mudança de humor para recobrar o investimento e a confiança.

    A visão é do empresário Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc, maior gestora de energia e maior comercializadora independente do país. "A saída dela [Dilma] e a entrada dele [Temer] têm a manifestação do mercado. É claro que os fundamentos da economia têm que ser preservados, mas o humor do empresário e do consumidor são muito importantes para a retomada."

    Folha - A Comerc tem um bom termômetro no consumo de energia. Como tem sido?

    Cristopher Vlavianos - As previsões de aumento de consumo anuais sempre ficam em 3,5% ou 4%. Mas em 2015 veio uma redução inédita, que não é um movimento natural do mercado.

    A queda na indústria foi de 5,3%, a residencial, de 0,75%.Foi o residencial caindo num país em que sempre houve alta de 5% a 7%. E o comercial também subiu pouco: 0,7%.

    Você começa a ver a situação ficar bem pior do que se esperava no passado. E esse entrave político piora tudo.

    Como o sr. e seus colegas empresários avaliam o que vai acontecer no domingo (17)? Que cenários traçam?

    Um cenário sem Dilma seria uma renovação. [Um novo governo] vai precisar de apoio para criar a austeridade necessária, a redução de gastos do governo e o aumento de impostos.

    Ninguém gosta desse tipo de medida, mas será essencial. E só um governo com alguma credibilidade pode fazer isso.

    O que parece é que vai ser um governo de união de forças políticas, que vai ter condição de seguir com essa estratégia.

    E com Dilma? O que se vê?

    Ela vai ficar perto de um terço de apoio do Congresso e isso cria muita dificuldade para gerenciar o país.

    O governo teve que fazer esforço para distribuir cargos e beneficiar legendas que vão votar com ele para impedir que o impeachment passe no Congresso Nacional.

    Esses cargos estariam ocupados por essas legendas e esses políticos. Não teria espaço para abrir negociações com outros partidos para poder seguir com apoio no Congresso. Então o que parece numa situação dessas é que o governo vai agonizar mais dois anos e meio.

    Nem a figura do ex-presidente Lula ajudaria?

    Não. A figura do Lula foi importante para esse movimento pré-impeachment, para essa negociação. A preocupação do governo foi ter votos para isso. Mas não vai conseguir implementar as mudanças necessárias.

    O Lula é um articulador, sabe bem como usar esse poder e tem capacidade de negociar alguns cargos, mas num pós-impeachment a figura é outra. Tem que governar. E já foi gasta toda a munição para que essa reeleição [de Dilma] viesse. Ela veio em uma visão de que o país estava numa situação em que na verdade não estava. Quando começou o segundo mandato, a presidente não tinha mais fôlego.

    Não tinha dinheiro, as contas não fechavam mais.

    E com Temer?

    Para um governo conseguir governar, ele precisa ter um trânsito no Congresso. Se não tem, não consegue aprovar nada. Se dois terços desse Congresso tomarem uma posição a favor de Temer, que é o anti-Dilma hoje, eu imagino que esse governo Temer teria muito mais condição de governar. Obviamente, ele vai ter que continuar costurando acordos. O Temer vai criar um governo de coalizão. A ideia é que ele tenha o apoio do Congresso. Os apoiadores vão ter suas condições, inclusive em relação à reeleição, porque isso vai entrar numa discussão paralela. Mas hoje você tem uma situação binária: é Dilma ou Temer.

    E para os negócios, Temer já é suficiente? O investimento vai voltar?

    Já é uma mudança de humor. Podemos separar a situação econômica e a política em determinados momentos. Mas hoje elas estão ancoradas. Logicamente, vai precisar de medidas efetivas que tenham resultado para as contas do país, mas essa mudança já é um paradigma de mudança de humor. A saída dela e a entrada dele têm a manifestação do mercado. Nas notícias pró-governo, a Bolsa cai e o dólar sobe. É claro que os fundamentos da economia têm que ser preservados, mas o humor do empresário e do consumidor é muito importante para a retomada do crescimento.

    Qual é o clima entre os empresários?

    O que se vê é uma incerteza muito grande. Não é um momento em que se olha uma queda como perspectiva de ajuste de estoque e de que ali na frente voltará a produzir. É uma queda sem previsão de voltar a ter atividade e crescimento equivalente ao que havia no passado. Algumas empresas não conseguem sustentar seus negócios, principalmente as ligadas ao setor de petróleo. As empresas estão demitindo, cortando custo, ainda um pouco perdidas em relação ao futuro. Às vezes, quando sentamos e conversamos sobre como vão olhar suas produções nos próximos dois anos, mas falta a previsibilidade.

    Houve forte migração recentemente para o seu setor, o mercado livre, em que as empresas podem negociar energia por meio de contratos diretos. Foi em busca de corte de custos?

    A partir da MP [579, que reformulou o sistema elétrico], em 2012, a tarifa dos consumidores cativos ficou artificialmente baixa, com alguns mecanismos usados para que as distribuidoras não repassassem esse custo ao consumidor final, como foi feito com gasolina e transporte, para poupar a inflação.

    Essas tarifas artificialmente baixas seguravam o consumidor no mercado cativo, evitando a migração para o mercado livre.

    A situação hidrológica também ficou ruim, elevando o preço no mercado livre.

    Após a eleição, não tinha mais dinheiro para segurar as tarifas. Veio o realismo tarifário e caiu o consumo de energia. Também entraram novos empreendimentos de geração no sistema e o período úmido veio na média, recuperando os reservatórios. Então, esses potenciais consumidores livres viram oportunidade de migrar.

    *

    RAIO X
    Cristopher Vlavianos, 51

    CARGO
    Fundador e presidente da Comerc Energia, que reúne as empresas Comerc Gestão, Comerc Trading, Comerc Gás, Comerc Solar e Comerc ESCO

    FORMAÇÃO
    Graduado em economia pela Faap (Fundação Armando Álvares Penteado)

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