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    Ex-comissária de bordo cria império de bichos de pelúcia motorizados

    JULIO LAMAS
    DE SÃO PAULO

    17/04/2016 01h01

    Adriano Vizoni - 8.abr.2016/Folhapress
    Patrícia Guimarães teve a ideia para o Animal Tour ao ver modelo semelhante em um shopping de Madri, na Espanha
    Patrícia Guimarães teve a ideia para o Animal Tour ao ver modelo semelhante em shopping de Madri

    Ricardo Martinez, 9, sempre fica agitado quando passa pelo quiosque da Animal Tour no Shopping Tietê Plaza, em Pirituba, zona norte da capital paulista.

    Pelo menos uma vez por semana, ele roda pelos corredores do shopping a 5 km/h, montado em um minicarro elétrico com formato de bicho de pelúcia. De preferência, o porco cor-de-rosa.

    "Nos sábados, chega a ter fila de espera de 15 minutos para os carrinhos", diz a mãe, Luciana Martinez.

    Essa história se repete pelo país. Os carrinhos da Animal Tour viraram uma febre. Aberta em outubro de 2014, a empresa já chegou a 63 shoppings do país, 20 deles em São Paulo.

    O negócio foi criado pela ex-comissária de bordo da TAM Patrícia Guimarães, 35. A inspiração veio de um modelo semelhante que viu durante uma de suas viagens a trabalho em um shopping de Madri, em 2013.

    "Eu me perguntei por que não havia algo assim no Brasil. Comecei a estudar e descobri que havia um enorme potencial para fazer uma versão melhorada daquilo no nosso mercado", diz.

    Empreendimentos semelhantes já existem em cerca de cem países há pelo menos seis anos, segundo Guimarães. Porém, a adaptação ao mercado brasileiro e o desafio da importação de componentes mecânicos e das pelúcias exigiriam um plano de negócios bem detalhado.

    "Foi aí que bati na porta do Sebrae. Fiz cursos de finanças, marketing e importações, além de consultoria privada, para montar a Animal Tour", diz ela.

    Com um investimento inicial de R$ 200 mil, a empresária importou os primeiros 12 veículos da China. Desenvolveu ainda a padronização visual e de atendimento.

    Permitir que as crianças demorem a escolher entre os veículos e chamá-las pelo nome são alguns dos pré-requisitos de Guimarães.

    "Quando você trata bem o filho de um cliente, ele vê valor nisso e volta sempre. Numa companhia aérea não é diferente. Entre vôos de ida e volta da Europa, planejando o negócio, era exatamente esse valor que eu queria colocar no negócio."

    Ao todo, a Animal Tour tem 43 modelos de carrinhos de pelúcia de diferentes animais. Cada quiosque licenciado oferece no máximo 12 opções, por conta do tamanho.

    Adriano Vizoni - 8.abr.2016/Folhapress
    Crianças andam no porco cor-de-rosa, o mais requisitado pelas crianças
    Crianças andam no porco cor-de-rosa, o mais requisitado pelas crianças

    "Fazemos rodízio entre as unidades para renovar o interesse das crianças. O porco cor-de-rosa é o único que não pode faltar. A referência óbvia para as crianças é a porquinha Peppa da televisão", afirma a empresária.

    O passeio, de oito minutos, fica entre R$ 15 e R$ 25, dependendo do shopping.

    O faturamento médio das unidades varia entre R$ 40 mil e R$ 60 mil por mês.

    Os shoppings Cidade Jardim e Anália Franco, os mais movimentados, chegam a receber cerca de 2.000 crianças por mês, fora da época de férias. Em janeiro e julho, o movimento dobra.

    Cerca de 90% das operações são de lojas administradas por licenciados, que investem R$ 120 mil.

    A simplicidade de gestão, o baixo custo de manutenção do empreendimento e o tempo de retorno do investimento (cinco meses) são os principais atrativos da marca, segundo Guimarães.

    "No dia a dia, um quiosque não exige mais do que três pessoas treinadas", afirma.

    Até o final do ano, a previsão é chegar a mais 12 estabelecimentos no país e criar a primeira licenciada no exterior, em Rhode Island, nos Estados Unidos.

    COMANDANTE

    O império de bichos de pelúcia motorizados é comandado de um apartamento de dois quartos em Guarulhos (SP), onde Guimarães morava com o marido, pela proximidade com o aeroporto.

    Com ela, trabalham mais quatro funcionários. Mas a empresária faz questão de centralizar a operação, com ensinamentos que trouxe do trabalho na companhia aérea.

    "Numa cabine de bordo, rapidez de comunicação é tudo. Esse processo é replicado aqui, de outra forma não seria possível. Hoje, posso dizer que sou a comandante dessa aeronave", afirma ela.

    Tamanho o número de pedidos dos pais para alugar os veículos para festas, Guimarães criou, em março passado, a Animal Tour Celebration, voltada para eventos.

    Para alugar dois bichos motorizados por quatro horas é preciso desembolsar R$ 1.500. O serviço inclui duas monitoras e transporte.

    "A cor chamativa e a fofura fazem as crianças abraçarem o carrinho. Até os adultos andaram um pouquinho para ver como era", diz a artista plástica Marlene Santos, que contratou os bichos para festa de aniversário da sobrinha Nicole, 7.

    IMPORTAÇÃO

    O crescimento da marca foi alavancado também pela mudança na linha de produção. No começo, os carrinhos eram importados por completo da China. Hoje, apenas algumas peças são trazidas de lá. Os carrinhos são montados por uma fábrica em Embu das Artes (SP).

    A redução de custos foi de 60%, diz Elson de Souza Pereira Júnior, parceiro de logística da Animal Tour. Hoje, cada veículo custa R$ 2.000 para ser produzido.

    A preocupação em adaptar o modelo para o público de cada shopping é o grande trunfo da empresa, segundo Marcelo Cherto, fundador da Cherto Consultoria, especializada em franquias.

    "O brasileiro tem um jeito de fazer e de consumir que varia de lugar para lugar. Por isso é necessário percepção local", afirma Cherto.

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