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    Empresas postergam decisões à espera de definição sobre impeachment

    JOANA CUNHA
    VINICIUS PEREIRA
    ANA PAULA MACHADO
    DE SÃO PAULO

    17/04/2016 02h00

    Diante de cenários tão díspares representados pelas possibilidades de ascensão de Michel Temer à Presidência ou da manutenção de Dilma Rousseff, empresas represaram investimentos, postergaram demissões e aceleraram pagamentos em dólar nos últimos instantes antes da decisão do impeachment.

    A Folha ouviu 15 executivos e empresários que, em geral, estimam duas vias possíveis. Se Dilma ficar, não conseguirá governar, piorando o cenário, com maior corte de empregos e investimento.

    Caso Temer assuma, pode, segundo as estimativas, conseguir fazer um pacto que trará bom humor ao mercado e certo alívio temporário, destravando investimentos.

    Alguns vislumbram também a possibilidade de um fracasso em eventual governo Temer, assim como uma guinada do governo Dilma.

    Odnir Finotti, presidente da farmacêutica Bionovis, que está em processo de instalação de fábrica no interior do Estado de São Paulo, afirma que tirou o pé do acelerador, à espera dos desdobramentos da crise política.

    Algumas medidas foram retardadas para esperar o eventual redesenho de novos ministérios e da política econômica, seja qual for o presidente da República.

    Finotti diz que não pode parar completamente os investimentos na fábrica e em pesquisas porque o recurso já está contratado e tem prazo de execução, mas está "a 70% da velocidade".

    "Estamos com o projeto pronto em fase de compra de equipamentos. Não sou pessimista, não acho que o país vai ser reinventado. Mas quais serão as bases? Qual será a política econômica? Tenho muitas perguntas e poucas respostas", diz Finotti.

    BOLSA DE VALORES

    Fabiano Wohlers, fundador da Mr. Beer, diz que sua importadora de cervejas hoje mais parece uma Bolsa de Valores. Diante da recente oscilação do dólar, ele negociou a ampliação de prazos com seus fornecedores para poder realizar pagamentos nos dias de câmbio favorável.

    "Sexta-feira [15] era o último dia em que ainda se podia trabalhar dentro de uma zona de previsibilidade do câmbio. Estamos aproveitando para antecipar o pagamento de tudo o que podemos porque virá um momento de oscilações desconhecidas, será 8 ou 80", afirma Fabiano Wohlers, sócio da Mr Beer.

    A dificuldade de prever o curto prazo levou a Eleva, empresa do grupo Emit Brasil, que atua com locação de máquinas para a construção civil, a suspender um investimento que parecia oportuno.

    "Recentemente veio a vontade de aproveitar a crise para comprar mais equipamentos e aproveitar oportunidades de ativos que estão baratos. Mas aí você vê o pessimismo do noticiário e dos grandes economistas e resolve esperar mais um pouco", afirma Guilherme Bueno, sócio da companhia.

    "E se daqui a 12 meses não tiver obra para usar esses ativos? Para que comprar mais máquinas? Não há por que aumentar o endividamento agora. Investir é pegar recursos acreditando em retorno. Mas isso parece um pouco exagerado num cenário como o atual", diz Bueno.

    DEMITIR OU NÃO

    Além da insegurança para realizar um investimento superior a R$ 8 milhões em caminhões e armazéns climatizados, a Ativa Logística, empresa especializada na logística de medicamentos e cosméticos, está prestes a tomar uma decisão sobre a demissão de centenas de funcionários que trabalham no carregamento dos veículos.

    "Desde dezembro a gente vem segurando essa mão de obra. Mas só estamos esperando isso, e, se a economia não melhorar, vai ser preciso demitir", afirma Clovis Gil, presidente da Ativa.

    As montadoras de caminhões sentem o atraso no investimento do transportador. No primeiro trimestre, a queda nas vendas de veículos foi de 32%.

    "Os clientes cativos têm uma política de renovação de frota de no máximo cinco anos. Muitos estão adiando esse investimento à espera de uma definição da situação política. Temos notado aumento nas consultas, mas, na hora de concretizar o negócio, o fator psicológico ainda é alto nessa decisão", diz o presidente da MAN Latin America, Roberto Cortes.

    Para Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas da Mercedes-Benz, "precisa acontecer alguma coisa para que os transportadores decidam pela compra".

    O presidente da FPT, fabricante de motores diesel do Grupo CNH Industrial, Marco Aurélio Rangel, passou boa parte do tempo nas últimas semanas explicando a política brasileira à matriz italiana.

    Ele diz esperar melhora dos negócios após a solução do imbróglio político.

    "O país tem um potencial enorme. Há muito o que fazer na infraestrutura, e o agronegócio é pujante", afirma.

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