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    Dólar em baixa ante o real gera saldo financeiro inédito no país

    EDUARDO CUCOLO
    EULINA OLIVEIRA
    DE BRASÍLIA
    DE SÃO PAULO

    30/04/2016 02h00

    Marcos Santos/USP Imagens
    Moeda americana sofre um movimento de desvalorização global

    A forte valorização do real em março, provocada sobretudo pelo avanço do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, levou as contas públicas a uma situação inédita. União, Estados e municípios tiveram um resultado positivo nas suas operações financeiras, ou seja, receberam mais juros do que pagaram a seus credores.

    No mês passado, uma das instituições que fazem parte dessa conta, o Banco Central, obteve uma receita extra de R$ 42,7 bilhões com suas operações com contratos de câmbio (swap cambial).

    O valor foi mais que suficiente para cobrir as outras despesas com juros, o que levou o setor público a fechar o mês com ganho líquido de R$ 648 milhões nas suas operações financeiras.

    É a primeira vez que se registra um resultado positivo na conta de juros desde que o BC passou a fazer essa contabilidade pela metodologia atual, em dezembro de 2001.

    Um efeito positivo dessa receita extra foi a queda na dívida bruta de 67,6% para 67,3% do PIB no mês.

    Resultado primário do setor público - Em R$ bilhões

    A dívida só não teve desempenho mais positivo porque as contas do setor público registraram um rombo de R$ 10,6 bilhões em março, mantendo a tendência de piora registrada desde 2014.

    Março é um mês historicamente favorável para o resultado fiscal, mas neste ano a queda na arrecadação causada pela recessão e o aumento de despesas levou a um resultado negativo. O BC informou ainda que, pela primeira vez, o resultado do primeiro trimestre do ano foi deficitário, em R$ 5,8 bilhões.

    Apesar de o governo federal vir reclamando das finanças dos Estados, estes ainda apresentam resultado positivo nos três primeiros meses do ano, de R$ 8,7 bilhões, abaixo dos R$ 12,2 bilhões de 2015. O governo federal passou de superavit de R$ 4,9 bilhões para deficit de R$ 14,5 bilhões no período.

    DÓLAR A R$ 3,44

    O BC estima uma dívida estável em abril, mês em que a queda do dólar foi menor. Nesta sexta-feira (29), porém, a moeda americana continuou caindo no mundo todo, com sinais de que os juros americanos não deverão ser elevados tão cedo.

    No Brasil, mesmo com a atuação do BC, o dólar fechou valendo R$ 3,44, o menor valor em nove meses.

    O dólar comercial caiu 1,68%, a R$ 3,4400, nível mais baixo desde 31 de julho de 2015 (R$ 3,4250). A queda acumulada no mês foi de 4,36% e, no ano, de 12,9%.

    Pela primeira vez na semana, o BC realizou leilões de swap cambial reverso, operações que equivalem e à compra futura de dólares –para tentar segurar a cotação–, totalizando cerca de US$ 1,63 bilhão. A operação, no entanto, foi insuficiente para impedir nova valorização do real.

    Para Hideaki Ilha, operador de câmbio da Fair Corretora, o BC errou ao deixar o dólar chegar abaixo de R$ 3,50 para voltar a ofertar o swap cambial reverso.

    O operador avalia que a queda do dólar é provocada por fatores externos, mas o cenário político também favorece a apreciação do real. Com as operações desta sexta-feira, a posição vendida em dólar do BC (estoque de swap cambial tradicional) está em cerca de US$ 69 bilhões, o nível mais baixo desde dezembro de 2013.

    O BC também fez a rolagem de até US$ 2 bilhões de uma linha de crédito de US$ 4 bilhões com compromisso de recompra que vence no começo de maio.

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