Existe um descompasso entre os anseios e a formação educacional dos jovens e as demandas do mercado de trabalho. Essa é uma das causas do alto desemprego na juventude pelo mundo.

A análise é do acadêmico e consultor Peter Vogel, professor da University of St. Gallen (Suíça) e autor do livro "Generation Jobless".

A solução que Vogel defende para combater o desemprego juvenil é o estímulo ao empreendedorismo. No Brasil, no entanto, as dificuldades de começar um novo negócio são um empecilho a isso, segundo o especialista. Leia entrevista à Folha.

CONSEQUÊNCIAS

As consequências sociais e econômicas do desemprego no início da vida adulta incluem desperdício de potencial econômico; ameaça à estabilidade social; fuga de cérebros; perda de arrecadação tributária; e um aumento da taxa de criminalidade.

Já, em nível individual, os impactos incluem um maior risco de desemprego subsequente na vida; efeitos negativos sobre a renda pessoal de longo prazo; maior risco de suicídio e distúrbios psicológicos; e uma espiral para baixo porque eles podem nunca desenvolver as habilidades, experiências e a ética de trabalho para serem admitidos de forma bem-sucedida.

CAUSAS

Do lado da oferta de mão de obra jovem, há problemas como a falta de habilidades e competências adequadas e uma inflação de diplomas acadêmicos com mais e mais jovens obtendo graus universitários em vez de treinamento vocacional.

Do lado dos empregadores, notamos uma baixa demanda por trabalhadores em algumas regiões em particular desde o estouro da crise econômica, mercados de trabalho inflexíveis com um aumento de oportunidades de emprego temporário e de processos de recrutamento informal que são inacessíveis para os mais jovens devido à sua falta de rede de contatos.

Existe também um desencontro entre o que os mais jovens esperam do seu primeiro trabalho e o que ele é de fato, assim como entre o que o mercado de trabalho espera dos novos trabalhadores e o que eles têm a oferecer.

EMPREENDEDORISMO

Eu argumento em meu livro que o empreendedorismo tem sido cada vez mais aceito como uma alternativa de geração de renda entre os mais jovens, assim como um mecanismo de desencadear seu potencial econômico.

Ele cria oportunidades de emprego tanto para aqueles que começam seu negócio quanto para aqueles que eles empregam, especialmente porque jovens são mais propensos a contratar outros jovens. E ajuda a desenvolver novas habilidades e experiência profissional.

TALENTO

Teoricamente, qualquer um pode se tornar um empreendedor, assumindo que o empreendedorismo seja o ato de lançar um novo negócio. Mas, se o empreendedorismo for considerado lançar um novo empreendimento com o objetivo de fazê-lo crescer e ganhar escala, a resposta é não, simplesmente porque nem todos têm as habilidades necessárias e as ambições para isso.

Há também fatores regionais e nacionais que ditam quem pode e quem não pode se tornar um empreendedor. Ainda há muitos países nos quais começar um novo empreendimento não é uma opção para todos, porque é muito caro ou complexo.

BRASIL

No relatório de 2016 do Banco Mundial ["Doing Business"] o Brasil estava em 174º lugar, de um total de 189 países, no quesito "começar um negócio", o que ilustra o contexto desfavorável para atividades empreendedoras.

Para promover mentalidade e atitudes empreendedoras, é importante que as condições gerais para começar um novo empreendimento sejam melhoradas. Além disso, para promover o empreendedorismo entre os jovens em particular, o treinamento específico para isso é crítico.

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RAIO-X PETER VOGEL

CARREIRA
consultor, professor assistente e diretor do Centro de Empreendedorismo da University of St. Gallen. Autor do livro "Generation Jobless"

FORMAÇÃO
doutorado em administração de tecnologia e empreendedorismo pela Ecole Polytechnique Fédérale de Lausanne