• Mercado

    Thursday, 02-May-2024 06:11:20 -03

    Infraero não agrega nada a novas concessões, diz presidente da CCR

    JOANA CUNHA
    DE SÃO PAULO

    05/05/2016 02h00

    Regis Filho - 5.nov.2012/Valor
    Para Renato Vale, presidente da CCR redução da participação da Infraero nos aeroportos é bem vinda
    Para Renato Vale, presidente da CCR redução da participação da Infraero nos aeroportos é bem-vinda

    A redução da participação da Infraero nos aeroportos é bem-vinda, segundo o presidente do Grupo CCR, Renato Alves Vale. Na avaliação do executivo, ela não tem expertise nem capital que justifiquem o modelo usados nos aeroportos privatizados.

    Segundo Vale, o principal impacto da Lava Jato foi uma restrição brutal de crédito nas contratadas.

    *

    Folha - Michel Temer quer fazer das concessões o cartão de visitas ao setor privado. O que precisa?

    Renato Alves Vale - Hoje, no Brasil, há consenso de que o poder público não tem mais condições de fazer investimentos necessários em infraestrutura. Mesmo no PT, que lá atrás era muito contrário ao que eles chamavam de privatização, há consenso de que iniciativa privada é uma alternativa. Mas tem que ter marco regulatório, regulador preparado e condições.
    Por exemplo: em qualquer lugar do mundo, o investidor privado entra com 20% de capital próprio e vai buscar financiamento de longo prazo para o restante.

    Se ele der garantia corporativa para esse financiamento, o aval que tem que dar é tão grande que ele não se habilita a outro negócio. Precisa haver project finance -um financiamento cujas garantias são as receitas do próprio projeto que está sendo financiado.

    Vai ter ambiente?

    Acho que o fato de ter uma mudança -não estou dizendo que para melhor ou pior- cria uma expectativa de "agora vai". As concessões puras, em que você entra, ganha, faz o investimento, presta o serviço e recebe através das tarifas e pedágios nas estradas a sua receita como contraponto àquele investimento, as grandes rodovias no Brasil, já foram concedidas. Tem mais 10 ou 30 que ainda funcionam assim, mas, daí para a frente, terá de ter participação do poder público aportando o recurso.

    Um exemplo: a rodovia do Frango. Num estudo básico, o pedágio é de até R$ 18. Se cobrar isso no interior de Santa Catarina, o motorista não tem dinheiro. Esse pedágio teria que ser subsidiado, com tarifa de R$ 10 -e os outros R$ 8 o governo vai ter que completar. A PPP é basicamente isso. E precisa de financiamento de longo prazo.

    Mudanças na lei de licitação são necessárias?

    Uma volta ao passado seria razoável. Em algum momento inventou-se a inversão de fases, como forma de agilizar os procedimentos nas licitações. Você primeiro apresenta o preço e depois vai saber se existem as competências técnicas e financeiras. A inversão de fase, que foi tida como algo que ia agilizar, na prática se revelou uma bobagem. Estão sinalizando, eu li, de voltar atrás.

    Dizem que se reduziria a participação da Infraero nos aeroportos.

    No nosso projeto, que é o de Belo Horizonte, a Infraero é bom parceiro. As regras que estavam previstas nos contratos estão sendo seguidas. Mas faz sentido ter a Infraero como sócio nos novos investimentos? Nenhum. Não agrega nada. Ela tem um expert fantástico nesse assunto? Não. Tem times bons, mas não um expertise que faça sentido. Recursos abundantes para investir? Não. Pode dar garantia nos financiamentos? Não. Então, por quê?

    Foi um dogma do governo ter a Infraero com peso. Qual era a estratégia de longo prazo? Não sei. Se disser que a Infraero vai ter uma ação, uma golden share, é mais simples.

    E a participação de estrangeiros?

    Dentre os aeroportos que vamos privatizar no Brasil, talvez o maior seja o de Salvador, com uns 10 milhões de passageiros. Nós operamos o de BH, com 12 milhões. Lá são CCR, Infraero e Zurich, com um pedaço pequeno porque era exigência do edital ter um sócio com experiência de operação de aeroportos.

    Nós já temos a experiência. Operamos aeroporto no Equador, Costa Rica, Curaçau. No edital, agora, puseram que, para ganhar o aeroporto de Florianópolis, tem que estar operando há cinco anos um aeroporto de 10 milhões. Para quê? Você é obrigado a trazer um sócio externo, pagar um caminhão de dinheiro a ele, para nada. Os players que estão aqui já têm experiência.

    Como a Lava Jato impacta?

    Se serviu para alguma coisa, foi dar um viés de preocupação, compliance [adequação às regras] nas empresas. A Lava Jato trouxe uma restrição de crédito brutal. Tem muitas construtoras em recuperação judicial. Neste ano, vamos investir R$ 6 bilhões nos nossos projetos de infraestrutura. Para contratar as empresas, estamos tendo muita dificuldade. Porque não tem empresa com gás. A gente quase que tem que contratar o construtor e falar: "Você coloca seus equipamentos e pessoal, mas eu te dou o dinheiro para você comprar isso e aquilo". Ele não tem crédito.

    Na composição acionária da CCR, tem Andrade e Camargo. Como tem sido lidar com isso?

    Nos primeiros momentos, fizemos um road show [apresentações em vários países] com financiadores e investidores, mostrando que essas empresas participam do bloco de controle da CCR, mas a CCR não faz parte do grupo econômico de nenhuma delas. Nós não temos nenhum financiamento que tenha aval de nenhum dos sócios. Não temos nenhum contrato que tenha garantia de alguma forma. Depois dessa explicação para todo o mundo, não teve influência nenhuma.

    -

    RAIO-X RENATO ALVES VALE

    Cargo
    presidente da CCR desde o início das atividades da companhia, em 1999

    Formação
    Engenharia civil, pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)

    Trajetória
    Ocupou cargos de direção em construtoras nacionais, foi diretor de engenharia da CCR NovaDutra e presidente da CCR AutoBAn

    CCR, 2015

    Receita líquida: R$ 7 bilhões

    Número de funcionários: 11 mil

    Investimento previsto para 2016: quase R$ 6 bilhões

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024