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    Empresas alugam cabines para quem quer tirar um cochilo no meio do dia

    DIEGO IWATA LIMA
    DE SÃO PAULO

    09/05/2016 02h00

    Alicia Jankavski é uma defensora dos cochilos no meio do dia. "Dormir por alguns minutos pode mudar a dinâmica do dia inteiro", diz.

    Parte do ativismo, ela não nega, tem a ver com negócios.

    Ela e o marido, Marcelo Von Ancken, são sócios da Cochilo, rede de hospedagem de curta duração em cabines individuais que tem duas unidades em São Paulo -Itaim-Bibi, na zona oeste, e na Sé, no centro.

    Divulgação
    Siesta Box, de Recife, que oferece hospedagem de curta duração
    Cabine da Siesta Box, de Recife, que oferece hospedagem de curta duração no aeroporto

    O Cochilo recebe cerca de 35 hóspedes por dia, que pagam R$ 17 por 45 minutos em cabines climatizadas e com isolamento acústico.

    "As pessoas estão trabalhando mais por conta de demissões em empresas, estão mais cansadas", diz.

    A unidade do centro, inaugurada em dezembro de 2013, tem 20 cabines. A do Itaim foi inaugurada um ano depois e conta com 17 camas.

    "Nem todo mundo dorme. Há quem pratique meditação e até mães que querem a privacidade para amamentar", conta Jankavski.

    Entre os que escolhem dormir em meio ao dia de trabalho, ainda há muito preconceito. "Tem gente que vem aqui e diz que o chefe não pode saber", afirma a empresária.

    No Rio, o Pausadamente, fundado em 2010, oferece serviço semelhante. Segundo a gerente Erica Brunner, 80% da clientela é composta por advogados que trabalham na região central da cidade.

    Bruno Santos/Folhapress
    São Paulo, SP, BRASIL-04-05-2016: Alícia Vankauski (48), é a responsávem por operações no Cochilo, um local onde há cabines para as pessoas dormirem por até uma hora, por R$ 22. (Foto: Bruno Santos/ Folhapress) *** FOTO *** EXCLUSIVO FOLHA***
    Alícia Jankavski é a proprietária da rede Cochilo, onde há cabines para as pessoas dormirem por até uma hora, na região central e no Itaim-Bibi

    O período de 40 minutos, chamado de "Power Nap" (cochilo poderoso, em tradução livre), sai por R$ 40.

    A rede vende também pacote mensal por R$ 165 que dá direito a 40 minutos diários.

    "No fim de expediente, tem gente que fica aqui só para esperar o metrô esvaziar", afirma Brunner.

    EM TRÂNSITO

    Na rede de hotéis Transamérica, que passou a vender pacotes por horas fracionadas por meio do aplicativo Hotel Quando, especializado nesse tipo de reserva, o modelo tem feito sucesso.

    "Atraímos muitos hóspedes que estavam indo das reuniões para o aeroporto ou para restaurantes a fim de não pagar diárias de hotel", diz a gerente de contas da Transamérica, Maity Hirata, 30.

    O aeroporto também oferece opções de sonecas.

    O Fast Sleep Slaviero recebe cerca de 60 mil hóspedes por ano no terminal de Cumbica, em São Paulo, segundo Paulo Brazil, diretor de vendas e marketing da rede.

    Por lá, há quartos com beliche, banheiro privativo ou compartilhado e conexão wi-fi. O valor por hora, na parte da manhã, é de R$ 79.

    O local oferece também serviço para quem quer só tomar banho, por R$ 47.

    A rede estuda levar o modelo a outros aeroportos no Brasil e na América Latina.

    No Aeroporto Internacional dos Guararapes, em Recife, a Siesta Box investe no design moderno e no autosserviço para fisgar clientes.

    Os sócios Tuca Paes de Andrade e Boris Wolfenson investiram cerca de R$ 1 milhão para desenvolver o projeto das cabines revestidas com alumínio e aço escovado e isolamento termoacústico.

    Os hóspedes pagam R$ 39 na primeira hora -60 minutos adicionais custam R$ 15. As compras podem ser feitas com cartão, por meio da tela acoplada à porta das cabines, ou por computador.

    Divulgação
    Siesta Box, de Recife, que oferece hospedagem de curta duração
    Visão externa da Siesta Box, de Recife, que oferece hospedagem de curta duração no aeroporto

    "Recebemos cerca de 2.000 pessoas por mês", diz Wolfenson. Ele vai inaugurar mais seis cabines em Recife neste mês e outras dez no aeroporto do Galeão, no Rio, até o fim de junho.

    O empresário negocia também levar o negócio aos aeroportos Viracopos, em Campinas, e Juscelino Kubitscheck, em Brasília.

    A partir de outubro, a Siesta Box venderá o modelo de cabines de cochilos como franquias.

    LIMPEZA E SEGURANÇA

    Para quem oferece hospedagem de curta duração, a limpeza e a segurança são dois pontos fundamentais, diz o coordenador do curso de hotelaria do Centro Universitário Senac, Rodrigo de Castro.

    "O consumidor brasileiro já não é habituado a esse tipo de empreendimento. Se houver dúvida em relação à limpeza, fica ainda mais difícil conquistá-lo", afirma Castro.

    Alícia Jankavski, da rede Cochilo, descreve como quase absurda sua atenção com a higienização.

    "Assim que o hóspede sai, trocamos toda a roupa de cama e limpamos com álcool tudo que puder ter sido tocado", diz.

    Nas cabines da Siesta Box, em Recife, também há um cuidado redobrado com a questão.

    "Aplicamos uma higienização de nível hospitalar, com produtos que são usados em UTIs na Alemanha", diz o proprietário Boris Wolfenson.

    Quanto à segurança, os empreendimentos localizados em aeroportos precisam ser ainda mais cuidadosos, afirma Castro, do Senac.

    "São locais onde há gente de todo mundo e alta circulação de pessoas. O hóspede tem que se sentir protegido dentro de sua cabine ou de seu quarto", diz.

    A garantia de tranquilidade também é importante. Por isso, todos os empreendimentos investem em bons sistemas de isolamento acústico.

    O Fast Sleep Slaviero, do aeroporto de Cumbica, em São Paulo, vai fazer alterações nas cabines após receber críticas devido a barulho no site de avaliações TripAdvisor.

    "Detectamos o problema e vamos trabalhar nessa questão", afirma o diretor de vendas e marketing, Paulo Brazil.

    Até a hora de avisar ao cliente que o período da soneca acabou deve ser bem planejada para não assustar quem dorme.

    No Cochilo, a cama vibra três vezes e luzes são acesas lentamente para despertar.

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