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    Meirelles anuncia equipe econômica; Ilan Goldfajn é o escolhido para chefiar o BC

    EDUARDO CUCOLO
    MACHADO DA COSTA
    VALDO CRUZ
    DE BRASÍLIA

    17/05/2016 08h49

    Gabo Morales - 15.mar.2012/Folhapress
    Economista Ilan Goldfajn é o novo presidente do Banco Central
    Economista Ilan Goldfajn é o novo presidente do Banco Central

    O economista Ilan Goldfajn foi confirmado nesta terça-feira (17) no cargo de novo presidente do Banco Central. O atual presidente, Alexandre Tombini, deve permanecer no cargo até que Goldfajn seja sabatinado pelo Senado.

    Segundo Meirelles, Tombini terá novo cargo na administração federal, mas ainda não foi informado para onde ele iria.

    Goldfajn já fez parte da diretoria do BC na gestão Henrique Meirelles no BC e ocupava atualmente o posto de economista-chefe do Itaú. Ele deve chegar a Brasília ainda nesta terça para se reunir com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

    Meirelles indicou que pode haver mudanças na diretoria da instituição, mas que elas só serão discutidas após a chegada de Goldfajn.

    De mochila, camisa social sem gravata e num voo de carreira de São Paulo, o novo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, chegou a Brasilia por volta de 11h30 desta terça. Ele não quis comentar sobre a composição da diretoria do Banco Central ou sobre quando acredita que assumirá o posto, nem mesmo sobre suas primeiras iniciativas.

    "Não vou fazer nenhum comentário, vocês sabem que eu tenho que seguir um processo", disse, com sorriso e simpatia. "Mas agradeço por terem vindo".

    OUTROS NOMES

    Outro ex-diretor do BC, Carlos Hamilton Araújo, será secretário de Política Econômica. Araújo vai ajudar a formular as políticas econômicas, diz Meirelles.

    "A Secretaria de Acompanhamento Econômico vai fornecer a base de dados e avaliação dos componentes de despesas públicas com precisão e tranquilidade", afirmou o ministro da Fazenda.

    O economista Mansueto de Almeida, colaborador do programa de governo do candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, será secretário de Acompanhamento Econômico. Almeida estava licenciado do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

    Mansueto deve focar as atividades na Secretaria de Acompanhamento Econômico nas despesas públicas, de acordo com Meirelles. Ele vai ser responsável por analisar as despesas públicas para embasar as medidas que serão adotadas pelo ministério.

    Também oriundo do Ipea, o economista Marcelo Caetano irá comandar a secretaria de Previdência. Caetano tem como principal finalidade formular uma política para o setor, o que inclui participar das discussões sobre reformas. O ministro descarta tomar qualquer atitude precipitada em relação ao tema.

    Nova equipe economica

    FORO ESPECIAL

    Com as mudanças na estrutura dos ministérios, o presidente do BC deixou de ser ministro de Estado. Porém, a prerrogativa de foro especial, que é garantida aos ministros, poderá ser mantida por meio de uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional). Se for aprovada pelo Congresso, a PEC estenderia o privilégio a toda a diretoria da instituição.

    Dentro dessa proposta, estará prevista também a autonomia decisória do Banco Central.

    Meirelles reiterou que proposta é de autonomia técnica de decisão do BC, que antes era meramente acordo verbal.
    "Agora teremos garantia constitucional de maior amplitude para autonomia técnica de decisão."

    "Autonomia de decisão do BC não se confunde com independência. Autonomia de decisão permaneceu em termos práticos e operacionais. O que vai ser definido, diz, é a autonomia técnica, mas no momento não há definição de mandatos, como no caso de uma independência formal do Banco Central."

    "Ter uma garantia constitucional é um avanço importante", afirmou.

    A questão da independência é algo a ser discutido de forma mais ampla e com a sociedade, ressalta o ministro.

    "Vamos avançando de uma maneira segura e firme, porém avançando claramente de uma forma importante e decisiva."

    META FISCAL

    O governo precisa aprovar até o final do mês um projeto no Congresso para modificar a meta original da equipe da presidente Dilma, que previa encerrar 2016 com superavit de R$ 24 bilhões. Sem essa aprovação, precisa bloquear gastos, o que pode afetar serviços públicos.

    "Vamos estar com prioridade total nesta semana, nos dedicando dia e noite a revisar os números atuais. Tem que saber a questão do deficit e aí, sim, existem algumas hipóteses de trabalho."

    Segundo Meirelles, a nova meta deve ser definida nos próximos dias, dentro do prazo legal.
    "Os prazos serão respeitados, obviamente, e a partir daí faremos a melhor avaliação possível dentro dos prazos necessários."

    TRIBUTOS

    Meirelles afirmou que a carga tributária brasileira já é alta e que sua equipe está avaliando a necessidade de novos impostos.

    Ele diz ser necessário saber quanto haverá de arrecadação com repatriação.

    "Tudo isso vai ser objeto de análise intensa durante essa semana. Toda equipe estará participando disso".
    "Nós ainda não tomamos uma decisão sobre CPMF. Existem medidas importantes, incluindo a não existência de tributos. Mas qualquer decisão nesse sentido é prematura antes de conhecermos os números."

    "Precisamos conhecer qual a real situação e tomarmos as medidas necessárias."

    RETOMADA

    Meirelles diz que a tomada de confiança é gradual e se dá pela mudança de governo e resolução dessa incerteza política.

    "Mas certamente existe uma decisão do Senado a ser tomada nos próximos meses, que vai, de uma forma ou de outra, eliminar uma incerteza [o julgamento final do impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff]. O Senado é soberano e vai tomar decisão de acordo com Constituição. Isso vai eliminar outra fonte de incerteza. as nomeações que estamos fazendo certamente vão eliminando fontes atuais de incertezas"

    As medidas fiscais, a extinção dos 4.000 cargos comissionados e outras que serão revisadas, entre elas a questão dos Estados, tudo vai fazer com que a retomada da confiança se dê de forma gradual.

    "Eu espero que seja acelerado, mas tudo isso é um processo que já vivemos. A retomada da confiança é geométrica, começa devagar e depois acelera"

    ECONOMIA GLOBAL

    Para o ministro, o cenário externo apresenta desafios. Economia americana segue crescendo dentro de um processo de recuperação, ressalta. Meirelles diz estar monitorando a evolução do desemprego e da taxa de juros nos EUA.
    Sobre Europa, diz que a região está em processo de recuperação gradual, enquanto China tem cenário bastante equilibrado hoje.

    "Não nos compete formular opinião sobre políticas de outros países. O cenário externo está em recuperação e temos segurança de que as autoridades desses países estão tomando as medidas necessárias. Não nos compete fazer previsões sobre economia da Índia, da China, dos EUA ou da Europa"

    "Não existe clima de crise iminente ou de algo que possa, do nosso ponto de vista, afetar diretamente. O que nós temos é política de monitoração constante, sem maiores aprofundamento ou juízo de valor."

    PREVIDÊNCIA

    A reforma da Previdência é uma das maiores apostas do governo atual para deixar como legado. Na segunda (16), Meirelles se reuniu com outros ministros e o presidente interino, Michel Temer, além de centrais sindicais, para criar um grupo de trabalho com o propósito de negociar uma reforma.

    Segundo Meirelles, assim que o projeto começar a andar, esse será um vetor de retomada da confiança. "Com a fixação desse prazo de 30 dias [para formular a proposta], à medida em que os estudos avancem, uma parte das incertezas vai ser eliminada, o que poderá aumentar a confiança", disse.

    Meirelles diz que ela pode envolver expectativas de direito, que terão que ser discutidas. "Mais importante é que exista Previdência Social que seja sustentável, que trabalhadores tenham garantia de que a aposentadoria será paga e que Estado será solvente para cumprir suas obrigações. Por isso a secretaria da Previdência vai para o Ministério da Fazenda."

    Meirelles afirma que o mais importante é dar garantias de que todos os trabalhadores tenham certeza de que vão poder se aposentar. "A ideia é que a proposta seja discutida com a sociedade, com as centrais sindicais e com o Congresso", afirmou.

    BANCOS ESTATAIS

    Meirelles disse que outros nomes estão sendo anunciados gradualmente. "Estaremos continuando nos próximos dias a avaliar e tomar decisões."

    Segundo o ministro, a próxima rodada de decisões será sobre os bancos públicos —Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia. "Cada um dos gestores será anunciado, que pode inclusive ser a manutenção dos atuais membros ou ocupantes do cargo"

    No momento, Otávio Ladeira continua como secretário do Tesouro Nacional e Jorge Rachid permanece como secretário da Receita Federal.

    REPERCUSSÃO

    Em nota, o atual presidente do BC, Alexandre Tombini, afirmou que Goldfajn é profissional reconhecido, com larga experiência no setor financeiro brasileiro, ampla visão da economia nacional e internacional, além de já ter passagem pela diretoria colegiada dessa instituição.

    "Suas qualidades e sua formação o credenciam a uma bem sucedida gestão frente à autoridade monetária brasileira."

    Também em nota, Roberto Setúbal, presidente do Itaú Unibanco Holding, afirma que o "profundo conhecimento e ampla experiência profissional [de Ilan], inclusive no próprio Banco Central, o credenciam para contribuir com a nova equipe econômica no caminho da retomada do crescimento sustentável do país e da confiança dos mercados".

    "Parabenizo o presidente interino Michel Temer e o novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, pela escolha e desejo muito sucesso ao Ilan", complementa a nota.

    Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, também comentou a escolha de Goldfajn como chefe do BC. "Sua missão será chave para o sucesso da equipe estruturada pelo ministro Henrique Meirelles, no desafio de alcançar a condição de relançar a economia brasileira a um novo tempo de crescimento, emprego e conquistas sociais", disse, em nota.

    "Os nomes anunciados até agora dão configuração a uma equipe econômica robusta, homogênea e de credibilidade", afirma o presidente do Bradesco.

    "A nova presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Maria Silvia Bastos Marques, é uma profissional de qualidade, incansável e exemplar na busca dos objetivos traçados".

    "Esse conjunto de pessoas capazes, trabalhando juntos a uma mesma estratégia, têm potencial de converter nossas questões complexas e graves, em uma equação objetiva e plausível", conclui Trabuco.

    O presidente do Santander Brasil, Sérgio Rial, afirmou, em nota, que "a nomeação de Ilan Goldfajn para presidir o Banco Central e dos secretários que irão compor a equipe do Ministério da Fazenda reforçam a capacidade do governo de retomar o crescimento econômico sustentável".

    "Juntos, somam grande experiência e credibilidade tanto no setor público quanto no privado, o que será de extrema relevância para trazer de volta a confiança dos investidores estrangeiros e, mais ainda, do setor produtivo nacional", acrescenta Rial.

    A Febraban (Federação Brasileira de Bancos), em nota, afirma que "Ilan Goldfajn tem conhecimento profundo sobre a missão e os instrumentos do Banco Central, onde demonstrou competência quando atuou como diretor da instituição".

    "Também é digna de nota a qualidade dos escolhidos pelo ministro como seus auxiliares diretos, tanto em relação aos novos nomes designados quanto aos atuais ocupantes das secretarias mantidos na equipe econômica, que sustentam a boa expectativa em relação às ações do ministério", ressalta a federação.

    Colaborou MARIANA CARNEIRO

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