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James Bloodworth; ele ataca as crenças da sociedade sobre a meritocracia |
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Mercado
Sunday, 28-Apr-2024 09:57:14 -03Jornalista ataca crença de que a sociedade é meritocrática
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE NOVA YORK21/05/2016 02h00
Em quatro mensagens no Twitter, James Bloodworth, 33, explicou por que declinou convite para um artigo sobre seu novo livro, "O Mito da Meritocracia".
1) "Acabei de escrever sobre a dificuldade que jovens da classe trabalhadora têm em se dar bem em suas profissões por causa da proliferação do trabalho não remunerado".
2) "O [site] Huffington Post disse que parecia interessante. Me pediram para escrever algo".
3) "Infelizmente, não podiam me pagar –apesar de serem uma companhia multimilionária".
4) "Então, eis meu artigo: você faz parte do problema, Huffington. Fim".
O britânico é menos lacônico nas 144 páginas da obra nas quais põe sob escrutínio a meritocracia –a "falsa ideia" de que, se você for bom e trabalhar duro, terá sua chance.
Na Inglaterra, jovens ricos continuarão pegando os melhores trabalhos, e não só por terem acesso às melhores universidades. São também os mais propensos a aceitar trabalhar de graça no início da carreira, praxe em grandes companhias que, em troca, prometem "projeção". Em miúdos: "Você devia é agradecer, isso fará um bem danado para seu currículo".
"Nos últimos anos, cresceu a 'cultura do estágio'. Um diploma universitário não basta mais."
A tendência em áreas como publicidade, design e jornalismo fez da Inglaterra "a capital do trabalho não pago na Europa", diz o autor à Folha.
Mas a conta não fecha para todos. "Você não pode, afinal, aguentar seis meses sem salário se tem contas a pagar. É exploração, simples assim."
QUANDO CRESCER
"O que você quer ser quando crescer?", perguntou-lhe um orientador vocacional.
Aos 15, Bloodworth não fazia ideia –e "beber cerveja e caçar garotas" não parecia a resposta ortodoxa.
Em 2014, escreveu no jornal "The Independent" sobre "por que insistimos nessa pergunta no momento em que a criança veste seu primeiro uniforme".
Com isso, ela cresce com a falsa impressão de que pode ser médica, astronauta ou domadora de leões, se assim o quiser.
No livro, ele fala de uma "distopia meritocrática", comparando-a "à pessoa na fila para comprar o tíquete da loteria preocupada em como gastará o prêmio".
PAIS E FILHOS
Filho da classe média ("a pequena burguesia, como marxistas diriam"), acha que ganhou seu bilhete premiado: a avó bancou sua universidade.
Relatório de 2012 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico mostra que a Inglaterra é um dos países desenvolvidos onde os filhos mais provavelmente refletirão o desempenho econômico dos pais.
A educação, "motor da mobilidade social", é uma fraqueza. Dos 20% mais pobres, 46% das mães não têm nenhuma qualificação. Entre os 20% mais ricos, 3%.
Outra amostra: 54% dos cem maiores executivos e 70% dos juízes de altas cortes cursaram universidade privada; a média da população é 7%.
"Mesmo o entretenimento é dominado por 'filhinhos de papai: 42% dos vencedores do Bafta [o Oscar britânico] estudaram em escolas particulares", afirma Bloodworth.
A meritocracia é uma palavra sedutora para um país que ainda preserva sua monarquia e que há não muito tinha uma aristocracia hoje confinada à "Downton Abbey" da TV.
O escritor Martin Amis lançou em 1984 o aclamado "Grana", sátira aos excessos da era Margaret Thatcher.
Argumentou 30 anos depois, em documentário da BBC, que a sociedade aristocrática foi substituída por outra, a monetária. "Sempre foi assim nos EUA, e agora na Inglaterra também."
Enviar seu filho para a Eton College, escola para garotos fundada em 1440 pelo rei da Inglaterra, não depende mais de um título de nobreza: agora é um "exercício do poder do dinheiro", segundo Amis.
Para Bloodworth, é aí que a meritocracia derrapa. "Duas crianças. Os pais de uma são milionários, os da outra ganham salário mínimo. Elas de cara não terão chances iguais na vida."
Ex-editor do site progressista Left Foot Forward e colunista do "International Business Times", ele chegou a escrever de graça para o Huffington Post.
Decidiu criticar o site "pela ironia" de lhe negarem pagamento por um artigo sobre o dano causado pelo trabalho gratuito.
A Folha procurou o Huffington Post para comentar, sem sucesso.
"Estamos sempre com medo, como jornalistas ou em outra profissão qualquer, de reclamar publicamente dessas propostas. É assustador porque você acha que será visto como encrenqueiro e perderá trabalho."
Eis sua "lição de casa": "É importante cortar esse papo furado sobre 'ganhar exposição' e apenas dizer não".
The Myth of Meritocracy
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AUTOR James Bloodworth
EDITORA Biteback Publishing
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