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    Governo Temer propõe teto para gastos e Congresso terá de aprovar

    MARIANA CARNEIRO
    DE ENVIADA A BRASÍLIA
    EDUARDO CUCOLO
    DE BRASÍLIA

    25/05/2016 02h00

    O presidente interino Michel Temer anunciou nesta terça (24) o primeiro pacote de medidas para reduzir o endividamento público e controlar o crescimento das despesas, consideradas hoje em trajetória insustentável.

    A medida que deve provocar mais debate e impacto é a criação de um teto para o crescimento das despesas públicas. A proposta precisa de aprovação do Congresso, pois mexe nas regras constitucionais de destinação de dinheiro para saúde e educação.

    O governo quer limitar a expansão dos gastos totais à inflação do ano anterior. Ou seja, se a inflação em 2016 for hipoteticamente de 10%, os gastos públicos só poderão crescer 10% em 2017.

    O objetivo é abandonar a trajetória atual das contas, em que as despesas crescem mais do que as receitas.

    Entre 1997 e 2015, segundo a Fazenda, os gastos do governo subiram 5,8% em média acima da inflação (veja quadro). A proposta é zerar a alta acima da inflação.

    "As despesas do setor público estão em trajetória insustentável", disse Temer. O governo espera que as medidas reduzam o risco país e abram espaço para baixar juros.

    NO VERMELHO - Despesas da União ultrapassam receitas no país

    Em relação à saúde e educação, a proposta do governo é acabar com as vinculações atuais, que atrelam os gastos automaticamente à expansão da receita.

    Pela proposta, as duas áreas terão, no mínimo, a dotação de 2016 mais a correção da inflação a cada ano.

    Para aumentá-las, será preciso cortar em outra área.

    "A lógica é como o orçamento doméstico. Se você quiser comprar mais carne, é preciso cortar outras coisas", disse o secretário de política econômica, Carlos Hamilton.

    Segundo o ministro Henrique Meirelles (Fazenda), se a mudança for implementada, será a primeira vez desde a Constituição de 1988 que haverá queda de gastos em relação ao PIB. A previsão é uma redução de 1,5 a 2 pontos percentuais em três anos.

    "Muito mais importante do que o corte de despesas temporárias ou que tenham efeito limitado, como se fez no passado, o que criamos é estrutural, é um teto que permitirá a redução das despesas públicas nos próximos anos."

    A regra será permanente, não temporária. Se o teto for superado, o governo responde pelo descumprimento.

    Outra medida será reaver R$ 100 bilhões em empréstimos concedidos ao BNDES e que deveriam ser pagos até 2060, conforme antecipou a Folha. Serão R$ 40 bilhões neste ano, R$ 30 bilhões em 2017 e o restante em 2018.

    "Esses recursos de fato estariam ociosos, causando um custo desnecessário ao Tesouro, que se financia no mercado", disse Meirelles.

    O governo diz que o pagamento está de acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas está fazendo consultas sobre a operação. A procuradoria do TCU se manifesta favoravelmente.

    O governo ainda vai extinguir o Fundo Soberano e sacar os R$ 2 bilhões restantes, aplicados basicamente em ações do BB. Outra medida busca economizar R$ 2 bilhões com a proibição de criar ou renovar subsídios, a não ser que haja compensação.

    O governo reafirmou que vai fazer uma reforma da Previdência e disse apoiar dois projetos do PSDB, que criam regras para a nomeação de dirigentes de fundos de pensão e estatais e acabam com a obrigatoriedade de participação da Petrobras no pré-sal.

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