Uma organização mais conhecida por suas investigações dos setores bancário e de energia agora está encarando a indústria da moda, e cinco das maiores agências de modelos de Londres foram apontadas em um inquérito da autoridade de defesa da competição como praticantes de conluio para fixação de preços.

A Autoridade de Competição e Mercados (CMA) do Reino Unido anunciou na quarta-feira (25) que em um período de dois anos, até março de 2015, as agências de modelos "estavam em acordo para trocar informações confidenciais, sensíveis em termos de concorrência, entre as quais informações sobre futuros preços, e que em alguns casos haviam fechado acordo quanto a uma abordagem comum de preços".

As companhias sob investigação são a FM Models, Models One, Premier, Storm e Viva.

A Models One é a maior agência de modelos da Europa, e representou alguns dos maiores profissionais do setor, de Twiggy, nos anos 60 a Yasmin Le Bon.

A Storm foi criada com investimento de Richard Branson e representou Kate Moss e Cara Delevingne.

A Associação de Agentes de Modelos britânica, também apontada como participante da suposta violação, era usada como "veículo para a coordenação de preços", segundo a CMA.

O órgão setorial foi acusado de "circular regular e sistematicamente entre seus membros e-mails conhecidos como 'alertas AMA', encorajando as agências de modelos a rejeitar as ofertas de clientes específicos para certos trabalhos e negociar um preço mais alto".

A agência realizou operações de busca matinais em diversas das agências mencionadas, a fim de recolher provas, de acordo com pessoas informadas sobre a situação.

Ela tem autoridade para impor multas em valor de até 10% do faturamento, a depender da seriedade e da duração de qualquer violação, e qualquer decisão pode servir de base a processos judiciais de clientes em busca de indenizações.

Stephen Blake, diretor sênior do grupo de cartéis e organizações criminosas da CMA, disse que "as acusações se referem a preços cobrados de diversos clientes, entre os quais cadeias de varejo, companhias de moda online e fabricantes de bens de consumo, A CMA afirma que essas cinco agências de modelos buscaram obter preços mais altos em negociações com seus clientes por meio de conluio, de preferência à competição".

A CMA enfatizou que as conclusões do relatório eram provisórias e que "não se pode extrair, a esta altura, qualquer conclusão de que a lei de competição foi violada".

A agência afirmou que uma companhia envolvida no suposto cartel poderia receber imunidade ou substancial redução de pena em troca de informações que ajudaram as autoridades na investigação. O órgão também ofereceu recompensa de 100 mil libras a pessoas que forneceram informações conducentes à investigação.

Um porta-voz da CMA se recusou a dizer se o inquérito havia sido causado por denúncia de alguém dentro do setor. Um advogado que representou uma das empresas citadas disse acreditar que a denúncia tenha vindo de uma loja online de moda. Nem a CMA e nem a loja quiseram comentar sobre a afirmação.

O advogado disse que as agências estavam tentando proteger a remuneração e condições de trabalho dos modelos jovens, muitas vezes explorados pelas grandes marcas, incapazes de falar inglês muito bem e desprovidos de sindicatos que representem seus interesses.

A moda é um setor no qual as mulheres frequentemente recebem mais que os homens. Uma top model pode faturar 30 mil libras por um desfile. Mas o dinheiro grosso vem de campanhas publicitárias para as grandes marcas mundiais. De acordo com a revista "Forbes", em 2014 Cara Delevingne faturou US$ 9 milhões.

Tradução de PAULO MIGLIACCI