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    Teto para gastos federais de Temer pode levar 8 anos para zerar deficit

    GUSTAVO PATU
    DE BRASÍLIA

    26/05/2016 02h00

    Simulações simples mostram que o teto para os gastos federais recém-proposto pelo governo Michel Temer pode eliminar o deficit do caixa do Tesouro em até oito anos sem alta de impostos.

    Pela regra defendida pela nova equipe econômica, a despesa total da União não subirá a taxas superiores à inflação do ano anterior –procedimento que, a longo prazo, reequilibra o Orçamento.

    Afinal, com a recuperação da economia, as receitas tendem a crescer novamente acima da inflação, acompanhando o PIB (Produto Interno Bruto, medida da produção e da renda do país).

    As simulações tomam como ponto de partida as estimativas oficiais para as receitas e despesas primárias (ou seja, excluindo o pagamento de juros da dívida) deste ano, que projetam um deficit de R$ 170,5 bilhões.

    No cenário menos otimista, considera-se que a atual proporção entre a receita e o PIB, de 17,4%, ficará estável nos próximos 20 anos.

    Já a despesa, hoje de 20,1%, cairá gradualmente como proporção do PIB, em razão do crescimento, ainda que modesto, da economia.

    Foram utilizadas as projeções de mercado para a expansão do PIB em 2017 (0,5%), 2018 (2%), 2019 (2%) e 2020 (2,3%, taxa repetida para os anos seguintes).

    Assim, o governo volta a ter superavit em 2024.

    Num cenário um pouco mais favorável, utiliza-se a partir de 2019, quando haverá um novo governo eleito, uma taxa de crescimento do PIB de 2,7% ao ano –equivalente à média apurada de 1995 a 2015. Com isso, o deficit é zerado um pouco mais rapidamente: em 2023.

    Com hipóteses mais otimistas, admite-se um crescimento de 1% em 2017 e de 3% ao ano a partir de 2018. Considera-se ainda que a receita retornará ao patamar de 18% do PIB, usual antes do início da recessão. Com isso, ela superará as despesas dentro de cinco anos, em 2021.

    CARGA TRIBUTÁRIA

    Como mostram os dados, mesmo que o Congresso aprove o limite para o gasto e as medidas necessárias para cumpri-lo, a necessidade de um aumento da carga tributária não estará afastada.

    Afinal, a dívida pública cresce de forma galopante, e o governo precisa fazer superavits mais rapidamente para conter essa escalada.

    A retomada do crescimento econômico e sua intensidade são, obviamente, cruciais para o sucesso da estratégia. Sem expansão do PIB, o teto é inócuo.

    Basta notar que, na atual conjuntura recessiva, despesas obrigatórias com educação e saúde, fixadas como parcelas da receita, já crescem abaixo da inflação.

    Se incluída de forma permanente na Constituição, como diz querer o governo, a medida produzirá, em duas décadas, superavits primários de proporções inauditas –e, talvez, acima do necessário.

    No primeiro cenário, o superavit em 2036 passa dos 4% do PIB; no terceiro, se aproxima dos 7%. Como comparação, o programa Bolsa Família não chega a gastar 0,5% do PIB, e o maior superavit já contabilizado pelo governo federal foi de 2,5%, em 2004.

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    AS MEDIDAS DE TEMER

    CORTES DE CARGOS COMISSIONADOS
    Proposta - 13.mai: cortar 4 mil vagas e até 75% das funções e cargos comissionados
    Objetivo: ajuste de despesas
    Andamento: Temer iniciou os cortes na segunda-feira (16)

    REFORMA DA PREVIDÊNCIA
    Proposta - 14.mai: fixar idade mínima de 65 anos para aposentadoria e, possivelmente, regra de transição para quem já está no mercado
    Objetivo: cortar gastos para rearranjar as contas públicas e não precisar de novos tributos
    Andamento: governo e centrais sindicais (menos CUT e CTB) estudam novas regras

    META FISCAL
    Proposta - 20.mai: obter aval para fechar o ano com deficit primário de R$ 170,5 bi
    Objetivo: evitar novos cortes no Orçamento
    Andamento: aprovada pelo Congresso na quarta (25)

    DESPESAS PÚBLICAS
    Proposta - 24.mai: governo quer que despesas públicas só possam crescer na proporção da inflação do ano anterior
    Objetivo: reduzir gastos do governo, que, nas últimas décadas, vêm crescendo acima da inflação
    Obstáculos: governo precisa de uma emenda constitucional, que exige 3/5 dos votos no Congresso

    BLOQUEIO DE NOVOS SUBSÍDIOS
    Proposta - 24.mai: governo vai propor que não sejam ampliados repasses a 27 programas a não ser que haja uma compensação para tal despesa
    Objetivos: impede o aumento de gastos do governo
    Obstáculos: governo não detalhou como vai obter economia de R$ 2 bi com medida, por isso é difícil avaliar

    FIM DO FUNDO SOBERANO
    Proposta - 24.mai: Fundo foi criado para receber recursos da explo- ração do pré-sal. A previsão não se concretizou.?O saldo atual é de R$ 2 bi
    Objetivos: dinheiro volta para o Tesouro, que, assim, não precisa endividar-se mais
    Obstáculos: governo estuda se há alguma restrição jurídica

    PAGAMENTOS DO BNDES
    Proposta - 24.mai: O banco de fomento pagará antecipadamente ao gover- no R$ 100 bi de dívida que tem com o Tesouro
    Objetivos: dinheiro volta para o Tesouro, que não precisa endividar-se mais para cobrir o rombo
    Obstáculos: governo?estuda se há restrição jurídica, já que poderia se caracterizar como antecipação de receita com empresa ou banco público, proibida por lei

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